Capítulo 1 - Que fale agora ou se cale para sempre

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Pov Lorena

Desde criança passei anos da minha vida dedicando meu tempo a observar cada detalhe dos muitos casamentos que minha mãe organizava. Ela era cerimonialista e das boas, sempre tinha muitos eventos para organizar, mas o que realmente prendia minha atenção eram os casamentos, ela fazia seu trabalho com tanta paixão que me deixava enfeitiçada por tudo que via sendo produzido. Eu via tudo aquilo criando vida na minha frente e imaginava que os noivos estavam vivendo um verdadeiro conto de fadas. Aqueles lindos vestidos brancos, o tapete vermelho, o noivo esperando no altar impaciente como se travasse uma batalha consigo mesmo, os convidados emocionados, mas não tão emocionados quanto à noiva ao entrar e se deparar com seu amado a sua espera, os dois se olhavam e compartilhavam um brilho que pertencia somente a eles. Bom, eu não entendia nada do que de fato significava um casamento, mas de uma coisa eu tinha certeza: no meu casamento a festa seria linda! Seria cheio de flores por todos os lados, meu vestido teria uma imensa cauda arrastando pelo tapete vermelho, eu estaria com uma linda tiara brilhante sobre meu penteado, meu véu cobriria meu rosto e somente quando meu noivo fosse me beijar aí sim ele seria retirado pelo lindo rapaz com quem eu fosse passar o resto da minha vida, e principalmente... Meu noivo iria admirar minha entrada sem sequer piscar de tão encantado que ele estaria. Nós nos olharíamos compartilhando a sensação da felicidade nos preenchendo, seus lábios desenhariam um lindo sorriso que logo seria retribuído por mim, seus olhos faiscariam de felicidade e ansiedade e no final diríamos "sim" com a certeza de um futuro lindo nos esperando.

E assim eu cresci idealizando meu casamento perfeito, com o príncipe encantado que ainda me encontraria. Seria tudo igual às lindas histórias da Disney onde as princesas encontram seus príncipes e juntos vivem um "Felizes para sempre!". O único problema é que eu tinha esquecido que contos de fadas não existem.

Tudo começou quando conheci Humberto durante a faculdade, eu cursava medicina veterinária e ele cursava enfermagem. Assim que nossos olhos cruzaram um com o outro me encantei com sua beleza e seu charme. Humberto era um rapaz sempre muito educado e simpático, não foi difícil me conquistar e mesmo sem sentir as famosas borboletas no estômago, quando percebi ele havia tornado-se meu príncipe encantado.

Logo que formalizamos nosso namoro meus pais foram contra, minha mãe dizia que ele não era o homem que me faria feliz, meu pai apenas dizia que não ia com a cara dele e ponto final, eu que lutasse para entender sua falta de argumento. Meu irmão não costumava se meter na minha vida, mas sempre deixava claro que acabaria com Humberto caso ele me fizesse sofrer. Mário não era um garoto violento, ao contrário disso, ele era muito palhaço, mas era extremamente sem paciência também.

O fato é que mesmo minha família sendo contra resolvi dar sequência à nossa relação. Eu estava completamente apaixonada ou pelo menos era isso que parecia, me sentia feliz ao lado de Humberto e chegava a sentir uma leve sensação de proteção que me fez cair na zona de conforto, sem contar meu ego feminino nas alturas ao perceber que todas as garotas na faculdade pareciam sentir inveja de mim quando eu passava de mãos dadas com o rapaz.

Os anos foram passando e meus pais vendo que não tinha outra solução tornaram-se mais maleáveis com a implicância que tinha com meu namorado, afinal, por mais que os dois apontassem Humberto como o cara errado ele nunca tinha dado motivos que confirmassem as muitas teorias, ao contrário disso, ele respeitava até demais as regras, horários, opiniões, era um verdadeiro puxa-saco dos meus pais para ser mais exata.

Cinco anos haviam se passado e se antes meu mundo ao lado do rapaz parecia azul como o céu, no presente as coisas andavam meio desbotadas, o tempo nublado em nossa relação era constante. Meu namoro com Humberto já não parecia ter mais o mesmo fogo do inicio, nós nos formamos e nossa rotina mudou completamente, assim como nossas personalidades também. Nos tornamos não apenas pessoas ocupadas, mas também adultos mais maduros e profissionais sérios. Algumas brigas constantes começaram a surgir, nós mal nos tocávamos, relações sexuais então... A verdade é que sempre era eu quem tinha que ter iniciativa para tudo naquela relação, se brigávamos era eu quem tinha que pedir desculpas e buscar fazer as pazes, eu quem precisava dar sinais de que desejava uma noite de sexo... Eu, eu, eu... Sempre eu! E esse era um dos principais motivos das nossas brigas, para mim não fazia sentido algum e chegava a ser machista a forma como Humberto argumentava muitas vezes.

Renascendo em seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora