Capítulo 3 - Seja bem vinda

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Pov Lorena

Dois dias já haviam se passado desde que cheguei a Belo Horizonte, eu ainda estava organizando toda minha bagunça que chamava de mudança. Olhar para algumas caixas ao redor me fazia recordar a cara desacreditada da balconista da companhia aérea quando fui despachar minha bagagem, mas o que ela queria? Eu não poderia simplesmente deixar toda minha coleção de cd's e dvd's da banda Calypso para trás, além disso, eu sempre fui inseparável dos meus livros e algumas outras bugigangas que sempre faziam meu dia mais feliz. A única coisa que consegui deixar para trás sem nenhum remorso foi minha coleção de dvd's e pelúcias das princesas de contos de fadas que colecionei ao longo da vida. Enfim... No geral talvez eu tivesse levado para minha casa nova mais bugigangas que roupas. As malas eram poucas, o que me deixou triste essa constatação, talvez esse fosse um dos motivos que levou Humberto a deixar de me amar, afinal eu nunca fui o tipo de mulher extremamente vaidosa e homens gostam disso né? Mas contrariando o ego masculino eu sempre acreditei que a maior beleza do ser humano vem da alma, em outras palavras o que quero dizer é que sempre vi Verônica e outras amigas acharem super divertido irem ao shopping para curar suas tristezas ou comemorar suas alegrias em diversos provadores, depois de muitas compras o caminho ao salão de beleza era inevitável, um verdadeiro tédio em minha opinião, mas sempre acompanhei, eu adorava ler as revistas que tinham no salão de beleza e saber da vida dos famosos, quem nunca curtiu uma fofoca de salão que atire a primeira pedra. O fato é que enquanto elas sorriam no presente esquecendo que no fim do mês quando chegassem às faturas dos cartões de crédito lágrimas iriam rolar, eu estava plena e livre de dividas.

No entanto, agora olhando ao meu redor e analisando todas as mudanças drásticas pela qual minha vida estava passando e levando em consideração o motivo que me levou até ali, talvez, só talvez, hoje meu coração desejasse que eu conseguisse ser uma mulher diferente e cheia de dividas feitas ao comprar roupas, maquiagens, ir a salão... Sabe, esse padrão social ao qual os homens se encantam, talvez minha vida amorosa fosse mais fácil, apesar de ser frustrante já que nós mulheres devemos nos sentir bem do nosso jeitinho, devemos ser amadas pelo o que somos e não pelo o que o padrão define como perfeito.

– Está vendo Dudu? Minha cabeça está uma verdadeira bagunça, eu sequer consigo formular o que quero realmente para minha vida, minha ética e valores não entram mais em acordo com meu coração.

– Está falando sozinha de novo?

Samantha perguntou divertida enquanto me analisava parada na porta do meu novo quarto.

– Não estou falando sozinha, estou falando com o Dudu.

Apontei para meu cachorrinho de pelúcia de estimação não deixando de notar Samantha prendendo o riso, isso estava se tornando rotineiro desde que cheguei ali, Samantha me achava uma verdadeira concorrente dos palhaços patati patatá, eu já estava me acostumando.

Muitos podem até me julgar por Dudu ser meu companheiro a essa altura da minha vida, imagina só uma mulher de 27 anos falando com um urso de pelúcia? É, eu sei, isso é estranho, mas aquele não era uma pelúcia qualquer, ele tinha um significado sentimental na minha vida. Durante minha adolescência em determinada época perdi meu avô Eduardo, alguém que tinha como o super herói da minha vida, com sua partida para os braços de Deus desenvolvi sérios problemas psicológicos que foram difíceis de superar. As crises de ansiedade hoje já não faziam tanta parte dos meus dias, mas elas existiram e quase me tiraram a esperança de viver. Foi durante esse período que me dediquei aos estudos como escape da tristeza, prestei vestibular para medicina veterinária que era meu sonho desde criança, eu sempre dizia a vovô que seria a médica que cuidaria dos animais das suas fazendas, mas ali diante daquela prova eu já não me sentia boa o suficiente para cumprir com a promessa que fiz a meu velho, então quando saiu o resultado eu não tinha coragem de olhar e foi ai que o Dudu surgiu em minha cama despois que sai do banho. Dona Laura sempre soube da minha paixão por pelúcia e aquela foi a forma carinhosa que ela encontrou de me dar uma das notícias mais alegres da minha vida.

Renascendo em seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora