Capítulo 2 - Fases

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Pov Lorena

Semanas depois

Costumam dizer que o luto possui cinco fases e que essas são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Bom, desde o dia que fui abandonada no altar do padre fofoqueiro era exatamente assim que eu me sentia, estava vivendo as fases do luto, eu era viúva de mim mesma, pois sentia que parte de mim havia morrido naquele altar. Eu não era mais a Lorena que sonhava com um casamento digno de contos de fadas, aliás, se eu encontrasse com a Cinderela eu pegava aquele maldito sapato de cristal e jogava na cabeça dela, quem sabe assim ela percebesse que príncipe encantado não existe, ratos falantes também não, tão pouco fadas, carruagem de abóbora seria algo nojento, afinal o vestido dela deveria ter ficado laranja, não deveria? Quer saber? A Disney é uma farsa! Minha infância foi vivida baseada em mentiras, o que é irônico na verdade, se fosse levar em consideração que minha fase adulta não estava tão diferente já que tudo não passou de uma grande farsa. Minha vida é uma completa mentira!

Não sei exatamente em que fase do luto eu estava vivendo nos últimos dias. Negação ou raiva? Por via das dúvidas eu ficaria com as duas. Eu me questionava como Humberto pôde ter feito isso comigo. Por que justamente comigo? Ele melhor do que qualquer outra pessoa conhecia todos os meus medos, assim como meus anseios. No mesmo instante em que minha autoconsciência buscava negar que estava vivendo aquele pesadelo, eu queria matar aquele desgraçado com a mesma facilidade em que esmagava a cenoura que estava cortando naquele momento para fazer uma salada. Sim, ultimamente eu buscava sempre estar esmagando algo, era como uma terapia, isso funcionava bastante quando eu não estava chorando debaixo do edredom.

– Sabia que eu não consigo mais comer uma cenoura sem sentir nojo desde o dia que você contou o que imagina quando está fazendo isso?

Meu irmão falou enquanto pegava um copo de água, mas eu apenas dei de ombros.

– A Vero acabou de chegar. – Ele empolgou-se.

– Se enxerga Mário, a Vero é areia demais para o seu caminhãozinho. Além disso ela jamais olhará para você assim, vocês são muito diferentes.

Mário me olhou espantado talvez pela minha falta de delicadeza em jogar a verdade em sua cara. Acho que a realidade nua e crua a qual eu estava vivendo tem feito com que me torne alguém sem coração, mas realmente eu era alguém sem coração, ele foi quebrado.

– Não tem problema, eu faço duas viagens tranquilo. – Ele piscou e saiu da cozinha com aquela cara deslavada que ele tinha. – Aliás, você precisava voltar a ter educação, você apenas ficou livre de um encosto, não foi jogada do penhasco.

Mário tinha voltado a aparecer somente com o rosto na porta da cozinha, joguei o resto da cenoura, mas o peste do garoto tinha reflexo. Ouvi apenas seus passos correndo para longe dali. Poxa, será que é tão difícil entenderem meu lado dramático?

Não demorou muito para Verônica entrar na cozinha. Ao contrário das outras vezes que esteve ali para me visitar, sua expressão não parecia nem um pouco de alguém satisfeita em estar ali. Eu estava começando a achar que nem as pessoas que eu amava estavam me suportando nos últimos dias, mas isso não me incomodava pois para ser bem sincera nem eu me aguentava mais.

– Eu não posso acreditar que você está de novo esmagando uma cenoura imaginando ser o pinto daquele seu maldito noivo!

– Dá licença que eu estou vivendo as fases do meu luto da forma mais inteligente que consegui.

– E desde quando esmagar as coisas pensando ser o pinto do ex noivo é uma forma inteligente de encarar os problemas? – Verônica ergueu a sobrancelha. – Droga Lorena, eu estou começando a ficar preocupada com essas suas terapias pós-abandono!

Renascendo em seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora