0.01 - Remember when we first met? You said "light my cigarette".

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❝Segurei a risada que minha mente queria dar, coçando a garganta.

–– Você tem fogo, beau garçon? –– tornou a perguntar e suspirei, negando com a cabeça e desviando o olhar envergonhado, apontando a banca de vendas para a minha esquerda.

Do que ele tinha me chamado?❞

☸☸☸

Nova Iorque, nove e sete da noite. 1994.

Chovia muito. Os pingos grossos caíam do céu com força, o vento entrando pelo buraco de escadarias e bagunçando meus cabelos com muita, muita força. Me encolhi dentro do sobretudo preto e escondi as mãos nos bolsos laterais, torcendo para minhas botas não escorregarem no azulejo sujo.

Por Deus, eu só queria estar em casa.

De certa forma, eu sabia que não era uma boa ideia deixar minha humilde casinha amarela em Neponsit, Queens, para caminhar nas ruas de Manhattan. Foi uma péssima, terrível, horrível e estúpida ideia.

E agora eu estava molhado da cabeça aos pés, sentindo a camisa cinza grudar na pele de minhas costas com tanto fervor que poderia se fundir a mim.

Suspirei, deslizando pelo único banco vazio na estação 66 St-Lincoln, deitando a cabeça na parede e fechando os olhos. Minhas pernas doíam e meus pés estavam tão, tão gelados que mais alguns minutos dentro daqueles sapatos e eu os perderia para uma hipotermia desgraçada.

Não sei por quanto tempo permaneci sentado apenas observando o movimento se dissipar e a chuva lentamente se tornar mais calma. Os trens saíam da estação rápido, mas nenhum deles era o meu – isso significava que, ou estava atrasado, ou eu havia errado a estação pela milésima vez desde que me mudara para a cidade de Nova Iorque.

Meus olhos correram pelo ambiente vazio, encontrando a banca de revistas livre, assim como a bilheteria. Tateei as moedas dentro dos bolsos do casaco e tirei as mãos de dentro do tecido, começando a contar os poucos pedaços de metal e chegando à conclusão de que me faltava apenas dois dólares para conseguir ir para casa.

Como eu iria conseguir esses malditos dois dólares?

Enquanto tomava alguma decisão, desfiz o pequeno coque de meus fios úmidos e permiti que os fios longos e negros caíssem minimamente sobre meus ombros, passando os dedos entre eles para desfazer os pequenos – porém extremamente doloridos – nós que se formavam.

"Eu poderia pedir à alguém, quem sabe?" foi o que se passou por minha cabeça. Mas, então, balancei a cabeça em negação – afinal, ninguém daria dois dólares para um desconhecido todo encharcado – e deixei aquilo de lado.

Cruzei os braços e encarei meus pés, não tendo mais nenhuma ideia.

Estremeci com a possibilidade de passar a noite ali. Era apenas perigoso demais, e sem sombra de dúvidas eu nunca fui bom com coisas de autodefesa. Se algo acontecesse durante a pequena estadia naquela estação de trem, eu estaria malditamente ferrado, com toda a certeza.

Fechei os olhos com um grunhido, querendo voltar no tempo para desfazer toda essa burrada. Eu deveria ter ficado deitado em meu sofá, bebendo café e comendo pipoca com o famoso Nicolas Cage na tevê.

–– Por gentileza, você não teria um isqueiro? –– escutei um sotaque francês carregado, o inglês enrolado na língua e uma voz grossa.

Saí de minha lamentação tão rápido a ponto de fazê-lo rir, apertando os olhos com as sobrancelhas arqueadas e os dentes tomando conta do rosto – era a face mais bronzeada que existia por aquelas redondezas, mostrando-me que ele realmente não era da região.

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