0.03 - Strawberries and cigarettes always taste like you.

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❝Ele beija tão bem.

Seus lábios com sabor de menta são viciantes igual a própria nicotina daqueles cigarros estupidamente deliciosos e não me impeço de deslizar as mãos até os fios loiros do mullet que Taehyung carrega consigo para todos os lados, pressionando meu corpo esguio contra o dele sem ao menos pensar muito. Aqueles braços longos e bronzeados deslizam ao encontro de minha cintura e solto um arfar contra sua boca apetitosa, mostrando como estou adorando cada segundo contra a bancada de minha maldita cozinha minúscula.

Então é assim que franceses são bons.❞

☸☸☸

Nova Iorque, meia noite e quarenta. 1994.

Sempre há algo por trás das cores, eu imagino.

Das cores primárias até as últimas que podem ser feitas com combinações. Nada é básico como roxo, aquele que vem da mistura de vermelho e azul ou como o amarelo, que junto ao azul, se torna verde.

Eu gosto do tom vinho porque além de complexo, ele é bonito e vulgar – e essas duas coisas sempre chamaram minha atenção de uma maneira interessante. Vamos lá, marrom, vermelho e preto são cores lindas e que chamam atenção apenas sozinhas, e então junte-as todas de uma vez só e tenha o brilhante e exuberante vinho.

Naquele momento, meus olhos de jabuticaba captavam as luzes das ruas do Brooklyn passarem lentamente fora do táxi amarelo.

O garoto francês estava pagando, é claro. Eu não possuía mais nenhum maldito centavo e meu coração bom demais ainda não estava gostando daquela história – eu só queria encerrar a noite e trabalhar para retornar todos os dólares para Taehyung, afinal, não era justo estar em uma cidade como essa, gastando centenas de seu dinheiro com alguém que mal conhece direito.

Ele estava sentado ao meu lado, completamente lindo em sua jaqueta de couro e seus jeans preto. Tinha um cigarro atrás de uma de suas orelhas cobertas pelo mullet loiro e ele provavelmente estava nervoso e arrependido por ter trancado as chaves dentro do carro alugado – aquele que tínhamos empurrado para o canto do posto de gasolina e pedido para a atendente do caixa ficar de olho por uma gorda gorjeta até o próximo dia –, e eu queria dizer que estava tudo bem, mas nenhuma palavra era capaz de deixar minha boca naquele instante.

Aquelas orbes amendoadas encontraram as minhas e as sobrancelhas se arquearam com curiosidade, e mais uma vez eu não pude abrir a boca para dizer algo ou dar-lhe satisfação por estar tão focado em encará-lo.

Meus lábios não se moveram por nem mesmo um centímetro e acabei soltando um suspiro pesado.

Senti um toque sutil em meus dedos espalmados no banco do meio do carro, pressionados contra o tecido cinza e apenas existindo e quando desviei os olhos de Kim Taehyung para observar o que acontecia, sua mão já cobria a minha e seu polegar deslizava pela pele exposta, acariciando lentamente.

Meu coração estúpido se acelerou como um tolo caído naquele instante, meus olhos subindo e subindo até chegarem no rosto belo do francês. Observando-o com aquela falta de luz aparente, minha mente apenas pensava em como tudo aquilo era brega e cem porcento clichê, mas tão delicioso e diferente quanto qualquer outra coisa.

Meu. Deus.

O rapaz estrangeiro estava entrelaçando nossos dedos e encarando minha boca com volúpia, com tanta luxúria que eu poderia sentir seu cheiro excitante e pegá-la com minhas mãos.

A sociedade daqueles anos nunca foram amigáveis com gays em público e por esse motivo, eu sempre tomava cuidado com todos os toques aos meus ex-namorados, ficantes ou qualquer coisa romântica possível. Seria difícil escapar de uma agressão verbal ou até mesmo física se nos vissem tocando intimamente em público ou até mesmo no meio de amassos em qualquer canto por aí.

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