Entre Árvores e Arbustos Há Uma Flor Rosa

55 6 3
                                    

Haruno Sakura

O céu estava cinza, uma camada de nuvens cobria todo o horizonte. A brisa gélida que soprava balançava sutilmente os galhos das árvores junto às folhas, vez ou outra, um fruto se desprendia e caia no solo, atraindo a atenção de pequenos animais que pelo chão pulavam, inerentes ao perigo que os espreitava. Atrás de uma grande árvore anciã, com uma flecha fora da aljava e já posicionada no arco, pronta para ser disparada, estava uma jovem abaixada ao lado de emaranhados de cipós. Com os olhos verdes esmeraldas fixos em sua presa, a um raio de cem metros, uma lebre pulava em direção a algumas amoras que tinham caído da árvore, no momento que o pequeno animal parou para comer a garota soltou a pressão que exercia sobre a corda do arco liberando a flecha, que voou certeiramente em direção a lebre lhe atravessando na cabeça, numa morte rápida. A garota, deixou seu arco no chão e se levantou, caminhando até o animal abatido agarrando-a pelas orelhas removendo a flecha num único puxão com força, caminhou de volta até o lugar onde estava escondida. No chão coberto com grama verde e folhas caídas, havia uma bolsa de couro grande e um saco de pano marrom já com algum conteúdo em seu interior, além do arco que havia sido largado ali segundos atrás. 

A garota desatou o nó do laço que amarrava a boca do saco marrom e o abriu, havia alguns peixes, lebres e um pato dentro do tecido, já abatidos e devidamente limpos. Colocou o cadáver da lebre que segurava ali dentro e fechou o saco novamente. 

Repousou as mãos na cintura para olhar ao redor, um pouco mais adiante, entre grama, cipós e folhas, havia uma depressão no solo que poderia pregar uma peça em pessoas desastradas, não conseguia enxergar mais nada além do verde. Fechou os olhos, se concentrando em sua audição, ouvindo as informações que o vento trazia aos seus ouvidos. Um barulho de água correndo foi o que recebeu, ao julgar estaria a algumas centenas de metro à esquerda. 

A garota deixou escapar um suspiro de alívio, embora conhecesse a floresta desde pequena ainda conseguia se perder pelo caminho íngreme e enganoso. Ela se agachou e pegou dentro de sua mochila jogada ao chão um cantil pequeno de água e bebeu, refrescando a garganta depois de horas de caminhada. Ela ficou ali parada, próxima ao chão por alguns minutos, antes de reunir o resto da coragem que tinha para colocar as alças da mochila num ombro e segurar o saco dos animais mortos com a outra mão, assim ela começou a caminhar em direção ao barulho da água corrente. 

(...)

As águas cristalinas e frias do Riacho das Águas Profundas certamente trazia um morto de volta a vida, as fontes do riacho começavam bem no interior daquela pequena floresta e se desprendiam aumentando seu tamanho conforme mais adentro nos matos, o riacho se estendia até o Vilarejo do Sol Poente, que ajudava a manter a vida e a colheita do povo que viviam longe da capital do Reino, e continuava o cruzando  até se tornar o Riacho de Pedras, na Floresta Sinuosa do Monte Nevado.

Há pouco, a moça havia deixado seus pertences próximo à beira d’água e caminhado para dentro de uma pequena piscina natural no meio de rochas, tirando o grosso casaco, a blusa, o cinto, a calça e as botas, todos feitos com um tecido fino em tons marrons e verde escuro que dava a ela mais liberdade de movimento e uma certa camuflagem. Aproveitou também para tirar o gorro que lhe protegia os fios de cabelo e, assim que o tirou, uma longa trança rósea caiu livremente ricocheteando suas costas.

Ficou ali praticamente desnuda, exceto pela faixa branca ao redor dos seios, e uma calça preta — sua peça íntima —, mas extremamente fina. A água gelada beliscava contra sua pele a primeiro momento, contudo logo seu corpo se acostumava com a temperatura e podia deixar se relaxar. O clima não estava muito quente e nem tão frio, o céu tinha aberto um pouco e estava menos cinza. Ela gostava disso. De estar no meio da natureza como o espírito de um animal livre, de sentir na pele as brisas, águas, o calor, toda a vibração que a terra passava à ela, sentia-se em casa. Naquele momento, o som dos animais se misturavam um ao outro, numa melodia sem fim, a qual foi interrompida por um som de um galho se quebrando, um som quase inaudível, porém, que não passou despercebido aos ouvidos de uma caçadora. Poderia ter sido algum pervertido a observando ou algum ladrão, se a garota  já não reconhecesse a presença ali, ou melhor, as presenças. 

The Witch - A Maldição da BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora