Minhoca

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O tempo foi passando e depois de três meses, com muito esforço, Sehun finalmente havia aprendido a falar o nome da menina. Ele se orgulhava muito daquilo, pois era o único que sabia falar direito.
- Vitória, Vitória! - ele veio correndo em direção à garotinha - Olha o que eu encontrei! - ele disse, arfando, e estendendo uma das mãos. Dentro dela havia uma minhoca. Naquele dia, a professora decidiu levar os pequenos à horta que a escola mantinha nos fundos para plantarem e ao mesmo tempo ensinar-lhes a importância de cuidar da natureza.
Ela arregalou os olhos e saiu de perto dele, gritando:
- Ahhhhhh, que nojento!

Sehun e sua mãe estavam almoçando na cozinha. Ao notar que o filho estava muito calado, ela decidiu perguntar:
- Aconteceu alguma coisa meu filho?
Ele estava tão profundo em seus pensamentos que não falou nada.
- Sehun?
- Sim? - a voz da mãe conseguiu alcançá-lo. Ela percebeu a vozinha abatida dele.
- O que você tem meu bebê?
Depois de alguns segundos ele falou.
- Hoje nós plantamos na horta da escola. - a mãe o olhou confusa.
- Isso é ruim?
- É.
- Por quê?
- Eu achei uma minhoca muito legal e fui mostrar pra minha amiga. - ele respirou fundo e exalou, franzindo a testa. - Só que ela não gostou e parou de falar comigo.
Ah, então é isso...
Logo em seguida ele continuou.
- Mamãe, posso fazer uma pergunta? - ela concordou acenando com a cabeça.
- Por que ela não gostou da minha minhoca?
Aquela pergunta tão inocente fez a mãe sentir a dor e a mágoa do menor pelo fato da menina estar brigada com ele.
Ela deve ser importante para Sehun.
- Bem... - ela parou, pensando em como iria explicar para fazê-lo entender. - Olhe Sehun, você é um menino e ela é uma menina. Tem coisas que você gosta que ela não gosta, assim como tem coisas que ela gosta e você não. Minhocas não são legais para meninas, elas são nojentas. - a própria mulher fez uma expressão de desgosto ao pensar em tais bichos.
Foi o que ela disse pra mim. Ele se lembrou de algo, percebendo que fazia sentido o que a mãe dizia.
- É verdade mamãe. Teve uma vez que ela me deu uma boneca pra eu trocar o vestido porque íamos tomar chá de brincadeira. Aquilo foi tão chato.
- Viu? Eu disse... - ela parou e perguntou, curiosa. - O que você fez depois?
- Tomei chá ué. - ele disse, encolhendo os ombros.
Ela arregalou os olhos.
- O quê? Você não foi embora?
- Não.
- Por quê?
- Porque era o que a Vitória queria brincar.
- Quem? Bi...
- Você também não consegue falar o nome dela mamãe! - ele disse muito contente.
A mulher estava espantada. O modo como ele falava dela não era comum para crianças de cinco anos.

No outro dia Vitória não quis falar com Sehun, mas ele já esperava por isso. Então, com a ajuda de sua mãe, ele arranjou um jeito de pedir desculpas.
Um pouco antes de o sinal bater para o recreio, Sehun pediu para ir ao banheiro sozinho fazer xixi. Já que ele era uma criança esperta a professora acabou deixando. O que ela não esperava era que o menino pegasse a lancheira e a mochila e saísse correndo da sala. Antes de ela tentar ralhá-lo, ele havia sumido do corredor.
Quando o sinal bateu, as crianças e os professores estavam deixando as salas. Sehun voltou correndo até encontrar a menina junto com suas amigas em uma das mesinhas no refeitório.
- Vitória! - ele mal conseguia respirar, de tão rápido que havia corrido. Ela virou para olhar para ele.
- Que foi?
Ele não se abateu com o olhar zangado que ela lhe dirigiu e disse:
- Vem comigo.
- Não. - voltou as costas para ele.
- Por favor. - ela notou que havia algo estranho na voz dele e quando virou novamente viu uma lágrima escorrendo pelo rosto dele. Aquilo doeu em Vitória e ela acabou levantando.
- Tá bom Sehun. Onde?
Ele sorriu e pegou a mão esquerda dela.
- O laguinho.
Saíram para os fundos da escola, desviaram da horta e foram andando até que Sehun parou na frente dela.
- Tem que fechar os olhos agora.
- Tá.
- Não vale espiar. Eu tô de olho viu?
Ele a ajudou a andar o resto do caminho. Quando chegaram ela abriu os olhos e viu uma toalha estendida no chão, em cima tinham vasilhas com frutas e biscoitos, além de dois copos com tampa e canudinho.
- Agora vamos poder tomar chá de verdade! – ele disse animado.
Ela abriu a boca para falar, porém Sehun a cortou.
- Ah, eu já ia esquecendo. - ele abriu a mochila e tirou de lá uma boneca.
- Pra você. – ela olhou para ele, confusa.
- Pra mim?
- É.
Ela abraçou o brinquedo e sentou, sorrindo. Os dois comeram lá e depois foram observar os peixes. O lago obviamente era cercado por uma grade por questão de segurança.
- Vi? - era a primeira vez que ele a chamava por um apelido. Ela o olhou, mas Sehun continuou observando o lago.
- O que foi Sehunnie? - ele sentiu um calor estranho correr para suas bochechas, não sabia o que era. Ela não viu também. Aquela era a primeira vez em que Sehun corava.
- Desculpa. - houve uma pausa até Vitória falar.
- Tudo bem, eu te desculpo.
Ele olhou para ela e viu que ambos estavam sorrindo.
- Eu prometo que nunca mais mostro uma minhoca pra você.


Naquele dia fizeram as pazes. Sehun aprendeu que meninas eram diferentes de meninos e que nunca mais iria arrastar Vitória para tão longe da escola na hora do recreio, porque nenhum dos dois ouviu o sinal para voltar à sala. Resultado: a professora achou que Sehun havia fugido e que Vitória havia sido sequestrada. Uma hora antes da saída o zelador os encontrou. A diretora os deu um sermão e disse que aquela história morreria ali, para que a escola não fosse processada.

Love is Never Easy - She is The CauseOnde histórias criam vida. Descubra agora