CAPÍTULO 04

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LIA

Deixei o Fred embaixo da Matilda sem vontade de sair dali e subi até meu quarto para pegar meu violino e acompanhar meu pai na cantoria.

Desde o início, quando demonstrei meu interesse pela música, dois anos depois de minha mãe nos deixar, ele sempre me incentivou, tornando uma tradição tocarmos juntos na varanda aos finais de tarde. Mesmo quando eu ainda era uma iniciante, que apenas arranhava os nossos ouvidos sem conseguir acertar uma única nota no violino, lá estava o velho Joseph me colocando para cima todas as vezes que sentia minha motivação sair correndo.

Aproveitei para prender meu cabelo num coque abacaxi e retocar o batom, já que sempre filmavam nossas apresentações e queria estar bonita.

Quando desci, todos já se aglomeravam em volta da fogueira, pois a noite estava ficando realmente gélida. Vi Noah e Kate cochichando animados, bem de frente para o pequeno palco improvisado por meu pai, que já estava sentado com o violão no colo.

— Vem, filha! Que tal começar com aquela que o pai gosta de ouvir você cantar? – assenti com a cabeça e apoiei meu case no banco ao seu lado.

Peguei o violino de dentro da maleta de veludo preto, encaixei a espaleira, do mesmo tom de verde brilhante do meu instrumento de estimação, e o posicionei no ombro para verificar sua afinação. Sustentei meu instrumento com o queixo para segurar o arco e passar pelo breu algumas vezes, até a crina estar completamente branca. Bati levemente no dorso da minha mão para tirar o excesso e posicionei o instrumento no lugar correto novamente.

Passei o arco nas cordas algumas vezes, para me certificar que o som estava perfeito, antes de começar as primeiras notas de Tocando Em Frente, a música preferida do meu pai.

"Ando devagar

Porque já tive pressa

E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte

Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza

De que muito pouco sei

Ou nada sei

Conhecer as manhas

E as manhãs

O sabor das massas

E das maçãs

É preciso amor

Pra poder pulsar

É preciso paz pra poder sorrir

É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida

Seja simplesmente

Compreender a marcha

E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro

Levando a boiada

Eu vou tocando os dias

Pela longa estrada, eu vou

Estrada eu sou"

Senti uma emoção a mais na segunda parte da canção e fechei os olhos por um momento, me focando apenas nas notas que precisava executar.

Ao abri-los, encontrei com os de Fred fixos em mim, me fazendo falhar no começo da estrofe e deixei a pequena plateia continuar, até que eu pudesse me recompor do nó que se formava em minha garganta.

AMOR NAS ALTURASOnde histórias criam vida. Descubra agora