Acaso {RiNu}

Frágil

6 meses, 26 semanas, 182 dias, esse era o tempo desde que retornei à Terra, onde tudo estava um caos como nos filmes apocalípticos, foi uma loucura, a experiência mais louca da minha vida... de um jeito bom. Minha vida se transformou da água de torneira para vinho francês por um certo tempo, depois do reality recebi inúmeros trabalhos tanto para atuar, produzir, cantar e até apresentar um prêmio nacional. Vocês podem estar me achando louca em fazer tudo isso em apenas 6 meses mas, é o meu jeitinho!

Nem tudo foram flores, é claro. No começo eu não soube lidar com o boom da minha carreira; tive que fazer inúmeras sessões de terapia pra lidar com isso e comigo. Apesar de aparecer bem na frente das câmeras, por dentro eu estava um lixo... mas com paciência e dedicação Renata, minha terapeuta, ergueu-me novamente.

Hoje, felizmente ou infelizmente, estou caminhando para minha última sessão. Estou feliz por me sentir uma pessoa melhor do que já fui e vou fazer de tudo para continuar melhorando a cada dia, mesmo sem a Rê.

– Bom dia, Manuzita!
– Bom dia, Rê. – já vou logo sentando, queria aproveitar ao máximo aquele dia, mesmo não tendo nada para conversar.
– Último dia... como se sente depois de tudo isso que passamos?
– Ai Rê, você sabe... nunca estive tão bem comigo mesma, é claro que pode melhorar, mas eu me sinto.. – não consigo encontrar palavras pra descrever e percebendo isso Renata me interrompe.
– Manu, com certeza, você melhorou muito, sem dúvidas... mas, você não sente falta de algo? – abaixei minha cabeça sabendo qual seria o rumo da conversa, um assunto que venho tentado evitar todas as vezes. – adiamos tanto essa conversa, que agora está na hora, não acha? – assenti. – você tem contato com algumas delas?
– Não, ­– respondi cabisbaixa – eu não tive coragem.
– Por que você não me conta tudo o que aconteceu? Como nunca falamos disso, você poderia me falar mais sobre. – respirei fundo pressionando meus olhos tentando me concentrar e não desabar em lágrimas.

GATILHO, POR FAVOR, QUEM NÃO SE SENTIR BEM, NÃO LEIA E DESÇA ATÉ OS PONTINHOS NO FINAL DO FLASHBACK!

FLASHBACK ON – 3 MESES ATRÁS

– VOCÊ NÃO PODE CONTINUAR VENDO ESSAS GAROTAS, ELAS TE CONTROLAM, TE MANIPULAM, SÓ PRA GANHAR FAMA EM CIMA DE VOCÊ! PERCEBE ISSO! 'CÊ ESTÁ FERRADA DA CABEÇA E NÃO SABE O QUE É MELHOR PRA VOCÊ!!!! – meu namorado grita aos quatro ventos, me fazendo soluçar de tanto chorar. – VOCÊ PEGA SEU CELULAR E BLOQUEIA ELAS, TODAS! PARA DE CHORAR, AGORA! – em um átomo de segundo ele pressiona meu pulso fazendo com que automaticamente a região fique vermelha e dolorida.

– Por que você 'tá fazendo isso, Igor? Por favor, me solta!! 'Tá me machucando!

– Vou te soltar, mas não faça nenhuma gracinha. Faz o que eu te mandei, agora! Antes que eu faça. – ele me empurra e joga o celular no meu colo.

Tentei arquitetar em minha mente uma forma de sair daquele quarto sem que ele me pegasse, mas não pude concretizar o plano já que eu estava totalmente desestabilizada e frágil. 
Igor no começo era a encarnação do homem perfeito, até que depois de algum tempo do final do programa mostrou suas garras como todos meus antigos namorados. Ele se tornou possessivo e agressivo, e com o passar do tempo sempre piorava.

Eu não podia contar pra ninguém, eu me sentia uma inútil. Mesmo mantendo minhas forças de mulher empoderada na frente das câmeras durante 100 dias, fora delas eu era frágil e instável. Todo dia eu tentava lutar contra isso, mas ele sempre me fazia voltar para o fundo do fundo.

– I-Igor, por que 'cê 'tá fazendo isso? – soltei entre soluços. – elas me fazem bem, por favor!

– Cala a sua boca! Só eu sei o que é bom pra você , elas querem nos separar, aquelas vadias! – sussurrou cuspindo à milímetros de distância da minha face. – Quer saber? Me dá essa porra! – arrancou meu celular desbloqueando a tela, tentei correr atrás dele, mas ele já estava trancado no banheiro.