Capítulo 15⛩A fonte⛩

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No final da noite, liguei para os meus pais. Tranquilizei principalmente minha mãe, que está sempre muito preocupada com tudo. Pergunta se estou me alimentando bem, se tenho dormido direito, se já me adaptei ao novo fuso horário, entre outras coisas. Contei que estou bem, já matriculada e estudando e que a família Yang, me trata como a uma filha.

No meu terceiro dia de aula, acabei de conhecer o restante do corpo docente do Instituto. Mas a aula do Senhor Liu, se tornou minha preferida. Ele é especialista em História da China. E sempre traz para debate assuntos interessantes sobre a China Antiga.
Hoje ele palestrou sobre A Segunda Guerra Mundial. Apontando fatos que eu desconhecia, como por exemplo, o sofrimento que o povo chinês viveu, como consequência das invasões japonesas.

Meili também assiste essa aula. Então, sentamos juntas e quando nosso colega de classe misterioso chegou, ela me deu uma cutucada discreta. Eu apenas balancei a cabeça e procurei me concentrar na aula. Mas em alguns momentos dava umas espiadas, enquanto Chen estava distraído. Numa dessas espiadas, fui pega de surpresa e ele estava me encarando. Fiquei vermelha. E para meu espanto, ele deu um sorrisinho discreto de lado.

Durante o intervalo, aproveitei para caminhar pelos jardins do Instituto e explorar um pouco aquela paisagem.
Caminhei até a lateral do prédio e encontrei um cantinho adorável. Havia uma pequena fonte de água, que saía de dentro de um jarro nas mãos de uma estátua de bronze e desaguáva em uma pequeno lago artificial com carpas. Pequenas pedras coloridas cobriam o chão, enquanto pedras maiores cercavam o lago. Sentei em uma pedra maior e plana, à beira do lago, e fiquei observando a escultura. Quando uma voz rouca me surpreendeu:

"A mulher com jarro d'água. Essa estátua veio da Ilha Shamian, localizada na província Guangdong. Lá você encontra várias estátuas como essa, que retratam a vida cotidiana dos habitantes da Ilha."

Enquanto falava, foi se aproximando lentamente. Permaneci onde estava, calada e observando seu andar. Apesar de ser alto e forte, ele não é uma pessoa desengonçada.

"Essas estátuas retratam a vida no século XIX. Se tiver oportunidade, você deveria visitar a Ilha Shamian, um dia desses. Ouvi dizer, que haverá uma aula passeio para lá. Vale a pena conhecer. "

" Irei me informar sobre essa aula passeio. Obrigada pela dica!"

"Por nada, sei que você se interessa muito pela história da China."

A essa altura, ele já estava sentado em uma pedra também, ao meu lado. E em um momento de pura ousadia, perguntei:

"E você, pelo o quê se interessa?"

Ele parece ter ficado surpreso com minha pergunta, mas respondeu:

"Gosto de vários temas: livros, viagens e artes marciais são meus preferidos."

"Ah, você viaja muito?"

"Bastante, pode se dizer."

"Essa está sendo minha primeira viagem, fora do meu país. E você, já conheceu quais países?"

"Acredito que todos."

"Uau!" Fiquei de boca aberta.

Chen me desconcerta, fica sempre me encarando, como se tivesse algo mais a falar. Começo a me sentir tímida e me levanto para voltar para a sala de aula.

"Preciso ir. A aula já vai começar e..."

Pisei em umas pedrinhas, que me fizeram derrapar e quase caí. Se não fosse a rapidez de Chen, que se levantou rapidamente e me segurou pela cintura, agora eu estaria toda ralada das pedras.

"Você está bem?" Ele sonda meu rosto, bem de perto.

"Sim, estou..." _Respondo num sussurro.

"Você levantou com tanta pressa, que quase caiu! Isso tudo foi medo de mim? Por que quis fugir?"

Quando me recuperei do susto, notei que Chen ainda me segurava, junto ao seu corpo. Dava para ver as íris de seus olhos, que por sinal, mudam de cor de acordo com seu temperamento. Agora por exemplo, parecia que havia aquelas faíscas de fogo, que vi no outro dia.

" Medo? Não, não tenho medo de você. É que sou um pouco estabanada mesmo. Por que? Eu devia ter medo de você? Há motivos para isso?"

Com as mãos em minha cintura, ele me encarava, com a respiração um pouco mais pesada. E responde:

"Sim. Existe vários motivos para você ter medo de mim. "

Me arrepiei com sua resposta. Não sei se ele disse isso apenas para me assustar ou se estava me dando uma espécie de aviso.

"Você já deve ter ouvido os boatos que circulam pelos corredores do Instituto. "

"Não costumo julgar as pessoas, pela opinião dos outros. Muito menos, dar ouvidos a boatos preconceituosos."

Respondo tentando aparentar uma segurança, que estava longe de sentir.

Ele arregala um pouco os olhos, talvez surpreso com minha resposta audaciosa. Passa a mão em uma mecha de meu cabelo e coloca atrás de uma orelha e diz:

"[Abunai hime]!" Que traduzido quer dizer: "Cuidado princesa!"

Vai me soltando aos poucos, até que mantenho o equilíbrio sozinha. Não falo mais nada. Apenas pego minha bolsa e saio dali um tanto zonza.

À noite, em meu quarto, fico repassando aquela conversa com Chen, inúmeras vezes. Ele me perturba os pensamentos. O que eu estou fazendo? Vim para a China com o objetivo de organizar meus pensamentos. Passar um período dedicado ao aprendizado, a reflexão e encontrar minha essência. Não para me envolver com alguém mais complicado do que eu. Porque Chen é motivo de dor de cabeça, na certa! Parece uma figura bem complicada. E as mudanças de comportamento dele me desconcertam. Nunca sei o que esperar.

Pego no sono pensando em tudo de novo que estou vivendo e aprendendo na China e acabo sonhando mais uma vez com florestas, perseguições, neblinas e um par de profundos olhos negros com chamas azuis...

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