Hoje completa três anos desde que parti da minha cidade natal, desde que eu decidi arruinar minha vida e vagar sem rumo, sem destino e sem um futuro, tudo por causa de uma maldita escolha, se eu tivesse pensado melhor poderia estar com a minha família agora e também poderia estar com ela. Não há um dia sequer que eu não pense nela, em como as minhas ações a afetaram, ela confiou em mim e eu consegui colocar tudo a perder, eu sei que jamais me perdoarei por isso, então meu exílio é uma forma de redenção para mim, ou pelo menos é nisso que eu quero acreditar, a verdade é que eu me sinto culpado por tudo e escolhi fugir ao invés de resolver as coisas, e esse erro há de me assombrar até o dia da minha morte.
Estou nessa maldita floresta com apenas um facão que eu roubei de uma fazenda e uma garrafa vazia, a noite logo virá e eu preciso de um abrigo, engraçado pensar que a dois dias atrás eu estava em uma cidade e com a promessa de um futuro, ajudar um homem a cuidar de sua fazenda, eu cuidaria dos seus animais e protegeria sua família e em troca ganharia dinheiro suficiente para começar uma nova vida, mas eu não me sentia bem naquela cidade, pessoas demais, e eu prometi não me apegar a mais nada e eu sei que não pertencia aquela cidade.
Vejo um pequeno local, ideal para construir um abrigo, um local amplo, como uma pequena clareira, eu posso passar a noite a céu aberto, se eu conseguir uma boa lenha e espero que a chuva não decida cair sobre mim hoje.
Enquanto procurava madeiras secas para fazer a fogueira e algumas outras coisas para servir de abrigo, logo me peguei rodeado de pensamentos sobre o passado, o que me provocou sensações novas, enquanto eu andava e coletava alguns galhos secos e algumas pedras, eu sentia meu corpo tremer e meu cérebro vibrar com essas lembranças, eu só consigo pensar que a única decisão certa que eu fiz foi me isolar do mundo.
Depois de coletar alguns recursos resolvi voltar para o local que escolhi para dormir, fiz uma pequena fogueira, usei as pedras para formar um pequeno circulo e coloquei alguns galhos em forma de cone com um pouco de folha seca que eu encontrei, usei o ultimo fósforo que me sobrou para acender a chama e comecei a observar o fogo crescer, ganhar vida e aquecer as pontas dos meus dedos, depois de alguns minutos alimentando as chamas com gravetos e galhos, minha fogueira estava firme e forte, estiquei meus braços como se estivesse abraçando as chamas e seu calor me manteve firme, consegui recobrar um pouco de sanidade.
Minha fome crescia cada vez mais, pois não havia feito uma refeição decente nesses dois dias na floresta, minha mente logo começou a imaginar pedaços de carnes e frutas, senti minha barriga revirar, mas eu já fiquei muitos dias sem comer, sei que eu consigo sobreviver a mais uma noite sem alimento, infelizmente.
Com o cair da noite, a floresta se torna mais sombria, sons de animais saindo de suas tocas atrás de caça e barulhos estranhos rodeiam o meu ser, algo que eu já me acostumei, tudo ao meu redor é trevas e assim eu me sinto mais a vontade, pois sinto que não estou totalmente sozinho e isso é quase confortante.
O fogo logo se apagará e todas as madeiras que coletei já foram usadas, o melhor é tentar dormir. Deito na grama de frente para o fogo, que pode me aquecer até eu apagar de vez, meu facão sempre em mãos, nunca se sabe quando terei que me defender, espero acordar em um lugar melhor e esquecer de vez o meu assombroso passado.
- Por favor, não faça isso, você não precisa ir embora. - Uma voz doce, mesmo banhada em lagrimas.
- Você não entende? Eu sou um ser perverso, não quero mais ferir as pessoas ao meu redor.
- Fugir não é a solução, você não pode fazer isso. - Sua voz transbordava extrema tristeza.
- Se você realmente busca a felicidade, então deve me esquecer totalmente.
Abro meus olhos e foi tudo um sonho, essas frases me perseguirão até o fim da minha vida. Passo a mão no rosto e olho para a fogueira que está no seu fim.
- É amiga, você me salvou, por favor, descanse em paz. - Olho para a fogueira esperando uma resposta, enquanto assisto ela se apagar lentamente.
No completo breu, eu me levanto e começo a caminhar, eu sabia que caminhar por uma floresta de madrugada não era uma boa ideia, mas eu já estava no fundo do poço, não tinha mais nada a perder.
Enquanto caminhava foquei minha concentração no barulho da floresta, como uma forma de ter alguém para me fazer companhia nessa caminhada noturna, barulhos de animais, de folhas e de água. Isso, água, comecei a andar em direção ao barulho de água que ficava cada vez mais forte, quando escorreguei e cai perto de alguns arbustos e da preciosa água, lavei meu rosto e bebi um pouco de água, enchi minha garrafa e fiquei sentado ali, já tinha me perdido do local que estava antes, então decidi esperar ali até o sol nascer.
O barulho da correnteza era muito bom, limpo. A água é totalmente pura e livre do jeito certo e eu sou livre, mas do jeito errado. Depois de alguns minutos eu sentei e encostei em uma grande rocha e acabei cochilando.
Acordei com o sol queimando meus olhos, levantei meio sonolento, tonto e sem direção. Olhei ao redor e pude ouvir os pássaros cantando, peguei minha garrafa e meu facão e comecei a acompanhar a trajetória do rio, o sol pela manhã é realmente lindo, passar alguns dias na floresta me deu tempo para pensar, o que é bom e ao mesmo tempo é ruim, porém pela manhã sempre é bom. Me traz uma paz que me dá força para continuar.
Depois de algum tempo caminhando eu cheguei a base do rio e vi ao longe duas pessoas correndo, talvez eu esteja perto de algum vilarejo, continuei andando em direção aos jovens que agora pareciam estar fugindo de algo, não entendi muito bem então comecei a fixar meu olhar para um ponto com maior movimentação e então percebi que os jovens estavam fugindo de dois homens, cobertos por uma capa preta, e duas longas espadas em suas mãos.
Sem pensar muito, fui em direção a eles quando a menina que corria, caiu e o garoto que estava com ela voltou e foi em direção aos homens, gritando algo que não consegui ouvir muito bem, comecei a correr em direção aos homens, puxei o meu facão e gritei para se afastarem, todos me olharam e eu investi contra um homem, que conseguiu bloquear meu ataque com a sua espada e me empurrou contra o chão, o garoto gritou para eu me afastar e acabou sofrendo um ataque pelo o outro homem, eu rapidamente me levantei, quando olhei para frente o garoto estava de joelhos e com uma espada apontada para o seu rosto.
O outro homem veio na minha direção para me atacar, eu consegui desviar dele, acertei um chute na sua perna e o empurrei, criando uma abertura perfeita para eu correr em direção ao outro homem e acertar um soco no centro de sua coluna e o derrubar também. Ajudei o garoto a levantar e começamos a correr em direção a menina que estava no chão, ela dizia ter torcido o tornozelo, eu a peguei no colo e partimos, o garoto me disse para segui-lo e disse algo a mais que eu consegui ouvir, passamos por uma pequena trilha e logo depois chegamos a um grande acampamento, o garoto começou a gritar para alguns membros desse acampamento e logo eles partiram em direção a trilha, ignoraram completamente a nossa presença e sumiram trilha a fora.
Entramos no acampamento, um lugar muito vasto, com grandes tendas e eu acompanhei o garoto até a entrada de uma tenda, coloquei a menina sentada em um banco e finalmente pude respirar, quando olhei para frente consegui ver algumas pessoas andando em nossa direção.
Um homem alto acompanhado por um senhor e mais no fundo vinham um casal, provavelmente os responsáveis daqueles jovens, eu podia sentir o meu corpo pesado, eu estava muito cansado e fraco, minha visão começou a escurecer e o garoto me ofereceu um pouco de água, mas antes de conseguir pegar o copo eu cai e apaguei.
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Ano Um: Encontro Espiritual.
Science FictionTudo no universo funciona através do equilíbrio, mas esse equilíbrio está ameaçado pois existe um homem buscando a destruição do mundo. Lian e seus amigos precisam aprender a controlar seus poderes e impedir que isso aconteça, antes que seja tarde.