Capítulo três

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Bárbara Garcia
Rio de Janeiro, Rj

Na Segunda-feira eu não tive tempo para ficar me lastimando. David destruiu a minha carreira mas ainda assim eu precisava pagar minhas contas. Acordei logo cedo para ir trabalha na loja de eletrodomésticos localizada no Shopping da Barra da Tijuca, passei um corretivo para esconder as olheiras, tomei um bom banho e saí para trabalhar.

Foi assim durante dois longos meses, O dinheiro que eu ganho mau dava para colocar comida em casa e pagar o tratamento da tia Sofia, mas eu nunca deixaria de pagar pois sei que ela corre o risco de ser mandada para casa e aqui eu não tenho condições de lidar com ela, por possuir alzheimer em um nível avançado é perigo para ela ficar sozinha dentro de casa.

Cheguei em um estado de que eu deixo de fazer as refeições para que a Malu não fique sem ter o que comer, Às vezes preparo algum lanche em casa, mas estava me virando com as sobras que ela costuma deixar na geladeira. Não tenho mais nada para vender na casa além dos móveis, e para piorar na semana passada o meu carro foi rebocado por falta de pagamento, estava atrasado a mais de seis meses.

— Como ela está, Lúcia? — Pergunto a enfermeira observando a Tia Sofia de longe, o sorriso amarelo de Lúcia me diz que não houve nenhuma mudança, suspiro pesadamente e caminho até o banco que ela está sentada.

Ela me olha desconfiada, se afastando um pouco quando me sento ao seu lado, para tentar me aproximar um pouco dela estendo uma orquídea que peguei no caminho e sei que ela gosta.

— É uma Orquídea, trouxe para você. — Ela olha com descrença, analisa por um instante antes de pega-la. — Como você está?

— Bem. — diz vagamente tocando na rosa com a ponta dos dedos. — É uma Flor muito bonita.

— É o seu tipo de flor preferida, você sempre gostou de cultivar muitas delas.

— Gosto? — Indaga me olhando de lado, abro um sorriso ao olhar seu rosto enrugado e delicado. — Não gosto mais?

— Sim, você ama flores tia Sofi, você planta na estufa daqui também, se lembra disso? — Ela olha para o nada por um instante, refletindo.

— Gosto de flores. — Fala após um instante, suspiro e abro um sorriso.

Acaricio seus cabelos castanhos levemente, tão escuros quanto os de papai era. Ela possuí traços iguais aos seus e vê-la em momentos difíceis me acalma, lembro do meu pai quando estou com ela e dos momentos que vivemos juntos.

— Eu cultivo flores sabia? — Ela pergunta de repente, abro um sorriso maior ao ouvi-la dizer isso. — Minha sobrinha gostava de cultivar comigo, ela dizia que a acalmava. — Meus olhos enchem de lágrimas por ela lembrar

— Sou eu tia Sofi. — pego na suas mãos, ela me olha com os olhos meigos — Sou sua Sobrinha, e gostava muito de cultivar com a senhora. — Sorrio em meio as lágrimas, ela permanece me olhando com o cenho um pouco franzido.

Levanta a mão lentamente, encosta em minha bochecha e eu fecho os olhos ao sentir a pele enrugada.

— Bárbara..— Sussura baixo, um soluço me escapa quando sou reconhecida.

— Sim tia, sou eu.

— Como está bonita, Bárbara. —  Diz com um sorriso enquanto me observa com fascinação.

Fungo baixo, limpando algumas lágrimas em meu rosto. Tia Sofi me trás para mais perto, encosto minha cabeça em seu ombro e sinto sua colônia leve que sempre foi a sua marca registrada. Ela retorna a olhar para a flor em suas mãos, curiosamente.

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