Idiot.

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Prova surpresa de Inglês. Logo agora, que eu ainda estava com o Mike na cabeça, vai ser difícil me concentrar.

A Gabi parece estar concentrada, ainda não comentei com ela sobre o que aconteceu na biblioteca. Vi ela interagindo com aquele grupo de meninas e não quis atrapalhar, então eu decidi esperar aqui na sala mesmo.

Mas enfim, cá estamos fazendo a maldita prova.

Eu respondi uns dois ou três exercícios e depois fiquei olhando para o chão, pensando.

- Ei... - Gabi soltou um sussurro, mas eu não ouvi, estou muito concentrado em meus devaneios.

- Anthony! - ela fala um pouco mais alto, mas não a ponto de alguém, além de mim mesmo, ouvir.

- Oi... o que você disse? - perguntei baixinho.

- Você está bem?

Eu afirmei com a cabeça.

- Por que a pergunta?

- Está com cara de idiota... mais que o normal.

- Cala a boca. - Soltei uma risada nasal e voltei a olhar aquele papel à minha frente. A Gabi fez o mesmo.

Acho que ela percebeu que estava triste.


**********


A aula tinha acabado e eu estava nas arquibancadas da escola de novo, dessa vez com a Gabi ao meu lado. Eu pedi para ela esperar o meu irmão sair da aula dele, que acaba 50 minutos depois da nossa, e depois ela podia ir na minha casa almoçar.

Eu estava fazendo um desenho qualquer em umas folhas de caderno e ela estava cantando alguma música, devia ser a mesma que ela estava ouvindo nos fones.

Me desliguei do meu desenho e olhei para ela.

- Gabi... Gabi... para de cantar um pouco. Me ouve.

Parece que ela não me ouviu, e nem viu também porque está com os olhos fechados agora, mas continua cantando.

- GABI! - Eu a empurro levemente.

- QUE É!? Tava na melhor parte... af!- Ela tira os fones de ouvido e me olha.

- Quero te fazer uma pergunta.

- Eu achei feio. - Ela olha o desenho que eu fiz no caderno que está no meu colo.

- Eu não tô falando disso! - Eu abraço o meu caderno, um pouco magoado pelo comentário sobre meu desenho.

- Então fala! Eu quero ouvir música em paz.

- Você ficaria comigo?

- O que? Se eu fosse hétero, né?

- Sim.

Incrível como ela faz questão de expor a sexualidade a todo custo.

- Bom... se eu fosse hétero, sim. Você é bem bonitinho.

- Entendi.

- Mas por que a pergunta?

- Nada. Pode ouvir sua música agora.

- Ai meu deus! Você e o Mike vão ficar? - ela me pergunta com felicidade no olhar.

- Não. - Abaixei a cabeça.

- Merda. Mas e aí, como foi com ele na biblioteca? Você nem me contou... parece até que voltou meio triste.

- Ele ia me chamar pra sair hoje depois do jogo e eu disse que não quero.

- Você é doente? - ela disse expressando indignação.

- Eu não quero ficar perto dele. Ele fica me fazendo duvidar da minha sexualidade e, ontem ele me deu um beijo na bochecha antes de me deixar em casa. Eu não gostei porque depois eu... AAI!

Gabi deu um tapa em meu rosto.

- DOEU! - Coloquei a mão na bochecha onde ela bateu.

- ERA PRA DOER! Você é um idiota, Anthony! Qual o seu problema? - Ela estava exaltada, qualquer pessoa na arquibancada poderia ouvir ela. Sorte que estavam apenas nós dois. - O garoto é lindo, provavelmente ele é inteligente, joga no time de basquete, foi extremamente gentil contigo e é assim que você corresponde?

- Mas eu não quero nada além de amizade com ele! Eu não sou gay, apesar de você não tirar essa ideia da sua cabeça!

Nós dois estávamos falando alto um com o outro.

- Foda-se, Anthony! Era só conversar! Parabéns, você perdeu um amigo pra sua ignorância!

Eu estava com os olhos cheios de lágrimas enquanto ouvia tudo que ela falava porque, na verdade, ela estava totalmente certa.

- Você só é gay se você sentir atração por ele e se quiser beijar ele ou algo do tipo! Ser amigo dele não te faz gay! Por acaso você sente atração por ele? - Ela ainda estava falando um pouco alto.

Estava na hora de parar de me enganar. Pensei por alguns segundos. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e meus lábios tremeram. Afirmei com a cabeça e olhei em seus olhos.

- S-sinto.

Ela me olhou bem no fundo dos olhos e se acalmou.

- Você sente?

- Sinto, mas... mas eu não quero sentir. Eu acho que gosto dele, Gabi. Não consigo tirar ele da minha cabeça, gosto de estar com ele, acho ele bonito demais, eu gosto dele no geral e eu sei o que isso significa. Mas eu não quero sentir isso... por isso eu decidi ficar longe dele. - disse enquanto começava a chorar aos poucos. - Isso é n-novo pra mim!

- Vem aqui. - Ela me puxou para um abraço. - Não chora... e escuta o que eu vou dizer.

Eu apoiei minha cabeça nos ombros dela, fiquei ali abraçando e atento para o que ela diria.

- Anthony, você não pode ter medo dos seus sentimentos, não pode escondê-los, muito menos de si mesmo! Olha... deixa rolar! Mas por favor, não fique sem falar com o Mike... até porque ele não te fez mal algum. Foi coisa da sua cabeça.

Eu me soltei do abraço e olhei para ela.

- E então o que eu faço? - Limpei as lágrimas do meu rosto. - Falo com ele?

- Agora espera um pouco. Vai saber como ele ficou depois disso.

- Acho que ficou chateado.

- Isso é óbvio. Olha, na primeira oportunidade que você tiver, você vai falar com ele, me entendeu?

- Aham. Entendi. E... obrigado por isso.

- De nada. Eu fui carinhosa da primeira vez porque se você maltratar aquele anjo mais uma vez eu vou te dar um tiro e eu não estou brincando.

- Melhor não arriscar.

- Pelo seu próprio bem.

Que alívio ter colocado aquilo tudo pra fora. Me sinto leve e ao mesmo tempo um lixo.

Light in Dark.Onde histórias criam vida. Descubra agora