Romero acorda e vê Bianca sentada na cadeira onde Carolina morreu. Ela come uma maça verde e o observa. É a fruta favorita do cativo.
- Bom dia, Romero! Como foi a noite?
Ele olha friamente para a mulher e sussurra.
- Vou te matar desgraçada!
- Oras, nenhuma novidade então! Que pena! Aliás, vamos mudar esse enredo? Ouço essa ameaça há semanas. - Ela dá uma mordida na maçã, a degusta e continua. - Você já pensou como vai me matar? Estou curiosa.
- Já! Será o assassinato mais cruel que já cometi.
Bianca faz uma expressão de surpresa e pisca para o Romero.
- Romero! Você não entendeu a dinâmica desse jogo.
Ela projeta o corpo para frente, ele sente o cheiro da fruta, sua barriga treme de fome. Ela termina de comer e joga o resto na cara de Romero que tenta cuspir na mulher, mas não sente a saliva, está com a boca seca. Bianca sorri e abre a mochila, tira um tablet e mostra uma reportagem da família assassinada no trânsito.
- É, fui eu! Vai me entregar para a polícia?
- Calma Romero. Só quero dizer que hoje faz 15 anos que você matou minha família.
Bianca mostra uma foto da família que o Romero assassinou, ele observa que há um membro desconhecido, uma garota de 17 anos anos ou um pouco mais. Ela aponta para a a garota com longos cabelos escuros e óculos de garrafa.
- Sou eu!
- Que clichê! Você é filha deles! - Romero ironiza.
- Não! O homem que você matou era meu irmão. Ele cuidou de mim depois que nossos pais morreram. Não chamo isso de clichê, mas sim de vingança.
Ele respira fundo, a expressão de Bianca muda, ela transpira ódio.
- Sabe o que move mais uma pessoa do que o amor? O ódio! Eu fui movida pelo ódio nesses últimos anos. Desde aquele dia calculei como iria acabar com sua vida, foi difícil colher dados já que vermes como você não deixam rastros. Estudei direito, virei promotora, mas lutar pela justiça dos outros não me satisfez. Paralelamente, reunia dados sobre o caso, porém nada que me levasse a você. Devo assumir, você é genial. No entanto, inteligência não é o forte de todos os membros da sua família. Há alguns anos, seu irmão Pelé foi preso.
Romero observa Bianca que espera alguma reação. Pelé era o único irmão que o ajudou depois do crime. Pensou que ele estava morto quando perderam o contato e o dinheiro não caiu na conta. Pelé nunca o deixaria desamparado, só se estivesse morto. Descobrir que Pelé foi preso o surpreende, ele era esperto, não caia no radar da polícia.
- Pelo o que ele foi preso?
- Assassinato, parece que é uma vocação da família matar pessoas inocentes.
- Eu tinha que ter matado você!
Ela sorri.
- É! Deveria, mas você estava ocupado demais fugindo da polícia com o apoio do Pelé. Agora me diz: como foi quando ele parou de mandar dinheiro? Essa parte da história ficou "nebulosa".
Romero não responde, foi uma fase de decisões difíceis. Pensou que seu irmão tinha morrido. Pelé e Romero tinham o mesmo princípio, morrer é a opção, ser preso nunca. Ele não cogitou que seu irmão mais novo, astuto como poucos, foi parar na cadeia.
Um silêncio paira no ar, Romero começa a entender que não sairá livre daquele lugar, terá que dar cabo da sua vida na prisão. É um homem com valores enraizados. Cadeia e morte são sinônimos em seu vocabulário. Entende que Bianca mantém o controle da situação. Começa a compreender que suas chances diminuem a cada hora, ela o deixou fraco fisicamente e psicologicamente.
Bianca tira a arma da mochila.
- Seu irmão não gostava da ideia de ficar preso, então, quando o caso dele caiu na minha mesa após alguns amigos "ajudarem", propus um acordo! Ele me passava informações sobre você e eu o tirava da cadeia. Você acredita que ele não pensou duas vezes? Era evidente que o caso não tinha acordo, bastava um pouco de inteligência para concluir isso. Porém, ele me passou tudo, o nome falso, as contas com o nome do laranja, a região da sua moradia e uma foto "atual".
- Ele não faria isso por um acordo! - Romero afirmar sem acreditar.
- Por favor Romero. Nós dois sabemos que pessoas desesperadas aceitam qualquer condição. Principalmente quando elas tem princípios e valores enraizados.
Nesse momento Romero tem certeza que sua vida acabou. Bianca colocou a última pá de terra no seu túmulo quando enganou Pelé. Na verdade, ele nunca teve chance de virar o jogo ao seu favor.
- Continuando a historinha. Quando consegui o que queria, expliquei que o acordo não valia, foi tudo uma encenação. Romero, você tinha que ver a expressão de pânico do rosto de Pelé, não tem preço, foi incrível! Lógico que ele não gostou nada, porém sou uma pessoa com coração bom e dei duas opções: cadeia ou morte. Ele quis a morte. Sabe, em nenhum momento ele pensou no que ele tinha feito com você, pensou apenas nele. Mas eu entendo, é uma característica de pessoas da laia de vocês não pensar no próximo, nem na própria família quando a merda chega no pescoço.
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Galpão
Mystery / ThrillerBianca tem um segredo que envolve um assassinato e um homem chamado Romero, ela precisa resolver alguns pontos dessa história para ter paz. Um conto envolvente e surpreendente.