Galpão

O encontro

Romero acorda desorientado, está sem venda e vê que o corpo de Caroline sumiu, só há a cadeira vazia. Olha ao redor, ainda é dia. Não sabe se é o mesmo dia ou outro. Sente o sangue seco nos pés.

Passou as últimas semanas tentando entender quem seria aquela mulher. Classificou mentalmente as pessoas que assassinou e as mulheres que abusou. Naquele galpão, onde o tempo não passa, avalia seu maior erro. Não fazia questão de saber sobre a vida das vítimas, não era um assassino profissional e meticuloso. Grande erro! Era apenas um homem com a razão, mas naquele momento, pensa que deveria ter sido profissional. Uma lista mental com nomes e informações básicas naquele momento seria útil.

"Quem é essa mulher?"

Sua filha era a única pessoa que ele se importava, por mais que ela tivesse fugido há 16 anos e fosse uma mal agradecida. Um ano antes do assassinato da família, Caroline desapareceu, após anos de uma relação abusiva com o pai.

Para Romero, Caroline era sua propriedade, passou meses a caçando, até que a família no trânsito cruzou o seu caminho. Mau dia! Por anos foi Caroline e ele. Ela fazia o papel da esposa, principalmente depois que a mãe da menina morreu com apenas 28 anos. Ninguém desconfiou que a esposa de Romero foi envenenada por ele, uma morte rápida e sem sujeira, a única que o homem fez de maneira limpa.

Sua esposa descobriu os abusos sexuais que Caroline sofria com apenas 10 anos. Decidiu sair de casa com a menina e sumir. Para Romero, isso significava perder o controle de tudo. Caroline e ele precisavam viver longe daquela mulher, então a descartou, com o próprio dizia.

Caroline foi obrigada a tomar a posição de esposa do seu pai. Fazia todas as atividades de uma mulher casada, porém se limpasse a casa de maneira inadequada ou reclamasse de algo, apanhava.

A lista de machucado de Caroline era longa: Teve o nariz quebrado algumas vezes, tanto que respirava com dificuldade. As costelas foram quebradas pelos menos quatro vezes, depois de um tempo perdeu a conta. Além de sofrer uma grave fratura no braço esquerdo, que foi cuidado indevidamente e ficou torto. Sem contar os 3 abortos, essa foi a parte mais dolorosa. Romero a levava em um "médico" clandestino para os procedimentos.

Romero pensa em tudo que viveu com Caroline, para ele, a garota foi uma ingrata, não entendeu quando ela o deixou, mas com o tempo começou a sentir falta. Pensa também naquela mulher do galpão que o achou. Ele pensa em como ela conseguiu. Quem a pagou para fazer o trabalho? Ironia maior é ser uma mulher. Uma mulher o encontrou, sendo que a polícia nunca chegou perto do seu paradeiro. Também pensa que quando se soltar vai tortura-la da maneira mais cruel possível e isso o mantém vivo. Precisa do momento certo para atacar.