Galpão

Olhos fechados

O ar fica pesado para Romero, seu irmão o traiu, haveria meios dele conseguir liberdade, não daquele jeito, ele foi pelo caminho mais fácil, não esperava tal traição, era mais forte que ele. O ódio corre pelas veias de Romero que começa a grita ameaças a Bianca, que apenas observa, isso o irrita mais. Ele perde a voz e a garganta lateja de dor. Uma forte tosse vem e ele perde o ar por alguns instantes.

Depois da morte de Caroline, aquilo era a pior dor para um homem com valores como ele. Antes que Romero possa absorver, sente uma dor insuportável no joelho. O som do tiro vem depois, a ordem dos fatores não altera o fato. Foi baleado, por aquela mulher desprezível que acabou com a sua vida.

Bianca se ajoelha e solta a perna ferida que treme involuntariamente. Em seguida, ela aproxima a arma da posição que esta e atira no outro joelho. Dessa vez a dor é tanta que ele desmaia. Bianca bate no rosto do homem com a arma e grita:

- Acorda Romero! Vamos fazer um acordo. Sua família gosta de acordos, não é mesmo?

Ele retoma a consciência e sua frio, sente que vai desmaiar de novo. A outra perna é solta e os braços também, ele coloca as mãos nas feridas e sente o sangue quente nas mãos. Apesar de Bianca estar na sua frente, perto de suas mãos, ele não tem força para atacá-la.

- Pensei em atirar no estômago, você iria sofrer por horas e morrer gritando de dor. Imaginei essa cena em detalhes por anos, iria amar ver você agonizar, mas li em algum lugar que atirar no joelho pode ser mais interessante e se encaixa melhor na ideia que tive.

Ela fica pensativa e começa a andar de um lado para o outro, move a arma com habilidade, ele não sabe se ela vai atirar novamente e deseja que o faça, assim, sua dor acaba.

- Vou dar uma chance.

Quando ele houve isso, apenas deseja morrer.

- Me mata! - Ele fala com dificuldade.

Bianca olha friamente para Romero.

- Não! Temos um acordo. Você está livre Romero, basta se arrastar pelo galpão, chegar na estrada de terra que fica a dois quilômetros e continuar a se arrastar por mais 5 quilômetros até a estrada principal e que tem pouco movimento. Será que você terá sorte de achar uma boa alma no caminho? Quem sabe!

O homem se joga no chão e começa a se arrastar, a dor se intensifica a cada movimento e ele urra de dor. Bianca se agacha e ele tenta pegar em seu braço. Ela se afasta e sorri.

- Bom, pensa assim, eu estou dando a oportunidade de você viver, coisa que meu irmão, cunhada e sobrinhos não tiveram. Aliás, minha sobrinha conseguiu sair do carro e se arrastar por alguns metros até morrer sufocada no próprio sangue, se ela tivesse sobrevivido talvez não estivéssemos aqui, pois eu teria ocupado meu tempo nos últimos anos cuidando dela.

Bianca respira fundo, falar sobre isso ainda a machuca. Preferiria levar um tiro no joelho a sentir essa sensação que iria acompanhá-la para o resto da vida.

- Você me tirou tudo e eu tirei tudo de você. Acho justo! Você não?

O homem sente a dor insuportável, mas continua a se mexer. Realmente o ódio pode mover pessoas e ele está com muito ódio naquele momento. Quer viver para matar Bianca.

- Que comecem os jogos! Bom dia Romero!

Bianca pega a mochila e sai assoviado do galpão, enquanto Romero se arrasta pelo lugar, a dor o consome e ele tenta lutar, mas está fraco. Ele para quando o seu corpo não reage mais aos seus comandos, se deita e olha para o teto velho do galpão. Sente um ódio incomum por aquela mulher que foi habilidosa em cada passo, mas principalmente em ter sido mais esperta que ele. Sua vontade é acabar com a vida dela de maneira dolorosa, mas está fraco e não consegue continuar. Precisa continuar.

Fecha os olhos. Sozinho, sente que perdeu tudo, mas precisa se mover. Ouve o barulho da sirene da polícia. Abre os olhos novamente. Sente pavor, não consegue reagir. Parece que está em movimento, mas não saiu do lugar. Move-se em cima do próprio sangue. Seu pior pesadelo acontecerá, não tem forças para tentar. Ela acabou com ele. Sente uma dor no peito, falta de ar, sufoca com a dor. É o fim!