Gabriel Sheyder, um adolescente padrão com problemas de controle de raiva. Depois de ser expulso da sexta escola, seu pai resolveu matrícula-lo em um colégio interno em Nova York chamado EF. Academy, uma das melhores dos Estados Unidos. O grande pro...
- Filha? - Mamãe passou a mão nos meus cabelos. - Ta na hora de acordar.
Abri os olhos lentamente encarando o nada, na verdade a janela, ela estava aberta e o dia estava lindo lá fora! Ensolarado com um céu incrivelmente azul, passarinhos cantando e voando felizes, borboletas de todas as cores voando em pares, e nossa... Um dia perfeito!
- Bom dia, mamãe! Bom dia Mundo! - Minha felicidade era mais do que evidente.
Hoje é o dia perfeito para contar uma decisão que tomei um dia desses. Existe uma escola em New York, chamada E.F Academy que oferece duas bolsas de estudos a cada dois anos, ou seja, fazer TODO o ensino médio lá, com estadia, um ensino mais do que maravilhoso, e muito mais vantagens de graça! Então, eu, Laura Bazzanello, estudei horrores por um bom tempo, fiz a prova que era necessária e na semana passada saiu o resultado. EU GANHEI! E isso é totalmente e absolutamente fodástico! Porque entre o mundo inteiro, entre milhares e milhares de pessoas, só eu e outra pessoa ganhou.
Eu só tenho um pequeno problema, mas bem pequenino. Eu não falei para os meus pais, e agora que a minha matricula ta feita na escola e eu tenho que estar lá amanhã. Tenho que falar com eles urgentemente.
Mas eu os conheço, irão deixar, tenho certeza disso! Talvez eles adorem essa idéia, já que me cobram tanto nos estudos, e a E.F tem o melhor ensino dos Estados Unidos. Eles vão concordar com isso!
- Vamos - mamãe chamou novamente. - O café está esfriando.
Ela acariciou meu rosto outra vez e se retirou do quarto. Engulo em seco nervosa e saio do meu quarto, me dirigindo até o único banheiro da casa. Lá eu entrei no chuveiro e tomei um banho quente, essas horas aqui em Porto Alegre é fresquinho, hoje por exemplo, está fazendo 18° graus agora. Não me demorei muito e já sai, nem molhei os meus cabelos ruivos, escovei os dentes, passei protetor solar, um rímel e gloss vermelho. O que eu vestia era um vestido branco rodado simples, chinelos rosa com umas pérolas e um arquinho de metal segurando a parte da frente dos meus cabelos.
- Papai, mamãe, eu tenho uma coisa a lhes falar. - falei para o meu reflexo no espelho. - Não, eu não estou gravida, é uma coisa um tanto quanto mais séria. Mês retrasado eu fiz uma prova para ganhar uma bolsa da E.F Academy, que é uma escola interna super respeitada em New York. Semana passada saiu o resultado e eu passei. Eu tenho a permissão de vocês?
Me encarei no espelho. Minhas bochechas estavam levemente vermelhas por conta do nervosismo. Abri o armário e peguei a tabela de comprimidos, retirei um e engoli sem água mesmo. É tanto tempo tomando remédio, água é para meros iniciantes.
Bom, o lado bom é que esse meu nervosismo e em vão, eles irão concordar. ____________________
- MAS NEM FODENDO, LAURA! - Mamãe esbravejou depois de recuperar do seu engasgo.
Arregalo os olhos em espanto. Mamãe fala palavrão?!
- Filha, eu não acordei muito bom, estou sem paciência para brincadeiras. - Papai ajeitou os óculos que tinha no rosto.
Sem acreditar naquilo respondi. - Vocês só podem estar me zoando! Isso é uma baita oportunidade para minha vida e essa é a reação de vocês?!
- Laura Bazzanello Peglow, não é não! E sem falar mais dessa baboseira!
- Baboseira, mamãe? - Respondi indignada. - Eu estudei igual uma mongolona para passar naquele raio de prova, passei e ganhei uma bolsa de DUAS com milhares de pessoas concorrendo, e isso é baboseira?!
- VOCÊ NÃO VAI E PRONTO! - Gritou ela. - De dentro dessa casa ninguém sai, só quando eu mandar!
Abri a boca para falar mas desisti. Eu vou ir para Nova York, eles queiram ou não! Bati o pé e fui até meu quarto novamente. Ver minhas malas feitas, ver o dinheirão que gastei comprando os materiais me deu uma enorme vontade de chorar, mas segurei. Abri o meu criado mudo e peguei a passagem do avião alisando elas levemente com o dedão.
Eu vou para aquela escola e nada me impedirá! _________________
Agora são exatamente quatro horas da manhã, a casa se encontra em um completo silêncio, apenas o barulhinho chato da geladeira na cozinha podia se escutar. Não consegui dormir essa noite, passei metade dela planejando um plano de fuga que fosse bom o suficiente. Eu nem consigo acreditar que estou prestes a fazer uma coisa dessas! Enquanto as meninas da minha idade estão fugindo para ir em festas, eu, Laura Bazzanello, estou fugindo para estudar. Mais diferente do que eu, só outra versão de mim.
Com muito cuidado, coloquei os dois pés no chão, fazendo o máximo de esforço para não fazer qualquer tipo de barulho. Fui andando pé por pé até chegar ao banheiro, como eu sou ridiculamente organizada, tinha deixado a minha roupa no armário de toalhas, abrir o meu guarda roupa a uma hora dessas é capaz de acordar a vizinhança toda. Entrei no chuveiro deixando a água quente cair sobre minha pele nua, descontraindo cada músculo tenso. Se minha massagista vê esses ombros, acho que ela tem um infarto!
Cinco minutinhos depois sai do banho, foi quase tortura tomar banho sem música, mas é para um bem maior. Peguei as roupas de dentro do armário as vestindo devagar. A roupa que eu escolhi foi só uma calça preta simples, um moletom branco e tênis vans cinzas. A meta era ser o mais discreta possível, mas os meus cabelos em um tom de laranja estragaram completamente o plano. Descido prender eles em um coque bagunçado, só para deixar toda essa situação mais clichê ainda. Droga! Eu virei o que? Personagem de algum livro do Wattpad?!
Voltei para o meu quarto pé por pé novamente, para mim colocar as malas na rua foi uma completa tortura, tive que as levantar e carregar uma por uma das três no colo, e depois a minha mochila, que não estava nada leve também. Com tudo pronto, já estava a espera do meu Uber na rua, mas lembrei de uma coisa.
Retirei um papel amassado do meu bolso, era a minha "carta de despedida". A coloquei na caixa de correios ao lado do portão.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Quando finalizei o ato, o carro estaciona em frente. Era o meu Uber.
As minhas mãos tremiam muito, e as lágrimas não paravam de descer, meu peito estava apertado. Eu tenho certeza que isso é o certo a se fazer, o problema é que estou fazendo da forma mais errada que tem.
- Está tudo bem? - O cara do Uber perguntou.
- S-sim, obrigada! - Enxuguei as lágrimas e sorri forçado.
Ele não disse mais nada, apenas pegou minhas malas e colou no porta malas.
- Moça, a mochila você poderia levar no colo? É que com as bagagens do outro rapaz não tem mais espaço.
Outro rapaz? Eu pedi Uber compartilhado?
Antes que eu pudesse reclamar, a luz amarelada do quarto da minha mãe iluminou parte da calçada. Meu coração acelerou imediatamente.
- Por mim tudo bem! - Peguei o moço pelo braço e o "arrastei" até o seu carro. - Podemos ir?
Ele me olhou estranho e entrou no carro, arrancando assim que eu entrei também. O rapaz que eu estou dividindo o uber por puro engano, era ninguém menos do que Gabriel Sheyder, o garoto que pichou toda a prefeitura de Porto Alegre. Meus olhos se arregalaram, eu nunca achei que ficaria tão perto dele assim. Depois que ele fez essa tremenda merda, ele ganhou uma fama no Instagram e se tornou sonho de consumo de todas as gaúchas, inclusive essa que vos fala!
- Perdeu alguma coisa na minha cara? - Perguntou rude.
- Q-que? - Falei voltando a realidade. Ele sorriu e depois umedeceu os lábios com a língua.
- Tu ta me encarando.
- Me desculpa. - Coloquei uma mexa de cabelo atrás da orelha. Virei para o vidro e não tirei mais os olhos dele.
