O medo é um sentimento agonizante para muitos, e os motivos são claros. Entretanto, esse simples sentimento tem um poder imenso sobre todo o meu corpo; sobre todos meus nervos, ele controla até mesmo a minha voz, absolutamente tudo. Medo não deveria ser nada além de uma perturbação mental quando estamos exposto à um perigo, mas quando se trata de mim, se torna algo muito mais intenso e agonizante. Meu sangue todo congela, minha cabeça pesa, e o sentimento desagradável de raiva guardardada é liberada juntamente com a adrenalina.
Mesmo muitas vezes demonstrando controlar perfeitamente o que eu sinto, em certos momentos eu simplesmente não consigo mais manter a pose de garota inabalável. Eu viro uma montanha russa de sentimentos. Nisso eu tenho a escolha de usar essa raiva e mistura de outros sentimentos ao meu favor, ou não.
E é claro que eu sempre tento usar isso ao meu favor. Mesmo que seja perigoso, ou loucura pura.
— Não me toque!— brando com a voz trêmula e o arco desliza pelas minhas costas, batendo fortemente na mão coberta por uma grossa luva de couro do nobre. Posso ouvir um ruído de surpresa escapar na multidão, mesmo assim eu não ouso desviar o olhar do nobre nojento.
O ar fica preso no meus pulmões, e eu enrugo minhas sobrancelhas sem desviar o olhar da máscara negra do demônio da noite. Pela primeira vez, mesmo que de maneira pouco focada, eu consigo enxergar seus olhos, dilatados com íris vermelhas e escleras negras, um arrepio sobre pela minha coluna. Ele grunhe antes de uma risada macabra, que mais se parece com um deslizamento de rochas abafado escapar dos seus lábios cobertos, e em um movimento rápido arranca o meu arco das minhas mãos. Não me contenho, sentindo uma pontada de agonia no meu peito, dou um passo para trás, minhas costas se encontrando de maneira bruta com a bancada de frutas logo atrás de mim, e minha panturrilha roçando a perna da bancada.
Ache uma saída, não importa o quanto seja complicado. Por um momento da voz de Sophie preenche toda minha cabeça, juntamente com o pequeno flashback do dia em que ela me deu lições de como fugir de situações complicadas. Naquele dia, não encenamos nada parecido com a situação que atualmente me encontro, entretanto, isso me faz crer eu consigo sair dessa situação desagradável.
Jamais me renderei para vermes tão desprezíveis como os vampiros.
Uma distração. A ideia brilha na minha mente, mas me mantenho o mais serena possível. Minha visão são do nobre por um mísero segundo, e vaga rapidamente por toda a feira, procurando alguém, uma alma boa ou ruim; que esteja disposta a se servir de cobaia para me ajudar me tirando dessa situação. Os cavaleiros estão em postos, ainda em posição de ataque e com seus repugnantes olhares sobre mim, os humanos estão parados encarando a situação amedrontados, como se soubessem que o pior está por vir. E então meus olhos param nos feirantes, vampiros plebeus. Aqueles que eu consigo matar.
O nobre da um passo a mais na minha direção, mas, antes que ele dê outro e fique novamente cara a cara comigo, minha mão agarra uma fruta na bancada, e sem pensar duas vezes eu jogo a mesma em sua direção. Ele segura a fruta como o esperado, uma nova explosão de cochichos acontece na multidão, e aproveitando parte da minha distração eu giro meus tornozelos antes mesmo que os cavaleiros dêem um passo.
Minha mão agarra uma das flechas na minha aljava. O líquido grosso que cobre a ponta de ferro demonstra claramente que está envenenada. Eu agarro o feirante vampiro por trás, antes que ele consiga fazer algo, a ponta da flecha à centímetros do seu peito.
— Dê mais um passo— engulo em seco, minha respiração desacelerando—, e eu mando esse desgraçado direto para o inferno.
Outra risada esquisita e desconfortável saiu do nobre, acompanhada pelas gargalhadas dos guardas e até mesmo do feirante que mantenho com a flecha apontada.
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Reino De Trevas E Sangue
VampireA ignorância humana nos cega de uma maneira que chega até a ser incompreensível. E mesmo esse tendo sido o causador dos nossos erros, sendo o causador de tanta dor, sofrimento há sete anos atrás, simplesmente não conseguimos mudar. Estamos cometen...