❝Prólogo❞

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     Humanos sempre foram ocupados. Alguns se enamoram por viverem suas vidas ao auge, enquanto outros preferem apenas guardarem suas forças para a batalha do dia seguinte. Contanto, não importa a qual dos dois lados você se encaixa, pois sempre haverá algo que te fará ser cego, que te faça ignorar tudo a sua volta.

    Esse foi o maior erro dos humanos. Um erro que se viciaram, um erro que mais tarde custaria o seu orgulho, seus princípios morais, seus bens materiais e não materiais. Um erro que mais tarde custaria até mesmo suas vidas. Humanos, sempre gulosos, com sede insaciável de poder, fama, e curiosidade. Se sete anos atrás, se tivéssemos parado por um mísero segundo de dar atenção para coisas tão banais, se tivéssemos parado tudo, e finalmente nos focássemos nas coisas a nossas volta, talvez não estaríamos nessa situação atual. Fomos estúpidos, deveríamos ter nos focado mais nas sombras, na pequena sujeira que estava se escondendo de baixo do nosso tapete.

    Nossa ignorância foi o que nos levou a destruição. Acreditávamos que os boatos eram apenas mitos distorcidos. De qualquer modo, algo tão horrível como o que se falava na época, não poderia ser real não é? Errado. Totalmente errado. Mas nossa ignorância fez parecer que estávamos certos.

    Ninguém sabe ao certo por quanto tempo eles ficaram na espreita, nas sombras, apenas esperando o momento certo para que formassem o caos completo. Eles queriam ver o horror em nossos rostos, e conseguiram. Entregamos nosso medo de bandeja.

   Os demônios finalmente saíram das sombras, e tinham tudo planejado.

   Houveram aqueles que os apontaram como experimentos científicos, outros fizeram questão de dizer que eram coisa de outros países, um plano de invasão. Todos sabíamos o que eles eram, mas, mesmo estando diante deles, preferíamos inventar ao ter que encarar a verdade nua e crua. O governo não pôde fazer nada, não estavam ao mínimo preparados para uma guerra de tamanha imensidade. Só nos restava rezar, e...implorar por nossas vidas. O fim dos tempos estava acontecendo, mas não era nada como livros ou a bíblia retratava.

    Era pior até mesmo que o apocalipse.

  Pela primeira vez em tantos anos, em décadas e séculos, os humanos finalmente começaram a prestar atenção a sua volta. A sua espreita. Qualquer um poderia ser seu inimigo. Qualquer um poderia te matar.

   Eles vieram e em apenas uma semana, tomaram cidades, estados, países...os continentes. Quando percebemos, era tarde de mais, eles eram os donos do mundo. Mataram nossos governadores e presidentes, e começaram a se auto-intitularem de reis e rainhas. Foi como se estivéssemos voltado para a idade média. Ninguém estava feliz, mas se obrigaram a se manterem calados, não podíamos fazer nada contra eles.

   E eles sabiam disso, sabiam mais do que qualquer coisa.

  O massacre começou, acompanhado do desespero. O medo da morte chegou para todos, até mesmo para mim. Tentamos nos esconder de todas maneiras possíveis, das mais inteligentes até das mais idiotas. O problema principal era: como parar algo que te rastreia pelo cheiro, que sente o seu medo, e ouve o som da sua respiração e do sangue correndo pelas suas veias, à quilômetros de distância? É algo impossível.
  
    Na mesma noite que o massacre começou, eu completei treze anos de idade. Aquele dia eu estava estranhamente calma, entretanto, era apenas por fora, pois por dentro eu me sentia prestes a explodir com as milhões de perguntas que meu cérebro fabricava. Meus pais não tinham a resposta para nenhuma delas, e muito menos qualquer outro humano.

   Foram dias escuros para todos durando o massacre. Ninguém se atrevia a colocar um pé sequer para fora de seus esconderijos. Por isso, eu e meus pais tivemos bastante tempo para que ficássemos sozinhos. Mas essa situação não me agradava em nada, eu não queria ficar presa dentro de um lugar tão abafado e mofado como aquele, eu sentia que estava prestes a enlouquecer completamente. Por isso eu cometi o erro mais estúpido de toda a minha existência: eu saí do esconderijo. Quando eu coloquei meus pés para fora, eu já sabia que era tarde demais para voltar atrás.

   Pela primeira vez depois de tanto tempo eu estava novamente vendo o céu. Me lembro que ele estava tão azul e belo, que sequer dava para imaginar o caos todo a minha volta. Eu sai para me aventurar, não fui muito longe, mas também não fiquei apenas perto do esconderijo. Outro maldito erro.

  Quando voltei, já estava de noite. Meus pais haviam sido mortos. Seus corpos perderam a cor, seus olhos estavam virados e o sangue escorria por vários cortes e mordidas em seus corpos. A culpa era apenas minha, eu havia denunciado a nossa posição, e como castigo, eu fiquei por dias dentro do esconderijo, sem me atrever em sequer chegar perto da porta. Convivi por dias, vendo lentamente o corpo dos meus pais se decomporem, e o cheiro começar a invadir as minhas narinas, me obrigando a finalmente sair.

  Havia-se passado duas semanas. Duas semanas convivendo com meus pais mortos, duas semanas me amaldiçoado dia após dia. Duas semanas bebendo água e comendo apenas quando era realmente necessário.

   E então, o massacre havia acabado. Os demônios fizeram questão de deixar algumas coisas bem claras aquele dia, suas vozes saiam de todos os rádios que ainda restavam. Suas vozes emanavam orgulho quando eles diziam que haviam matado cerca de um bilhão de pessoas nas últimas semanas. Mataram milhares de famílias como o modo de nos alertarem sobre quem estava no comando, eu estava enojada. Eles haviam se divido, cada um iguaria sua espécie. Porém, algo inacreditável aconteceu aquele dia, algo que mudaria para sempre nossas vidas.

   Eles iriam nos capturar.

E assim os fizeram, naquele dia: vinte e cinco de dezembro de dois mil e dez, os humanos foram obrigados a largar tudo, e seguir o caminho que eles decidissem para nós.

     Anjos, demônios e vampiros. A ignorância humana nos cegou completamente, tanto, que quando percebemos que vocês estavam entre nós, já era tarde demais.

   Aquele dia, no exato momento em que um cristalino e perfeito floco de neve caiu do céu, anunciando a chegada de um rigoroso e incessante inverno sobre Sölandis, todos os humanos permitiram se submeter e se ajoelharam aos pés dos tão imundos demônios da noite.

   Foi apenas o começo de todo o sofrimento humano.

LANÇAMENTO: 07/06/20

 

  

Reino De Trevas E SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora