Capítulo 2

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Antônio

A casa dos meus pais fica em um bairro nobre do Rio de Janeiro. Na verdade, a minha família é uma das, se não a mais, famílias mais importantes do Estado. O meu pai não é só um desembargador de justiça aposentado, ele é dono de ações de uma grande editora de livros e parte de tudo que se lê no país sai da Editora O&M, que é bastante renomada. O "O" vem de Orsini e o "M" de Marcelo de Matias, um grande amigo da família, infelizmente, e acionista majoritário na empresa que ele mesmo idealizou, abriu e depois chamou o amigo da época de faculdade para fazer parte da brincadeira.

A união de negócios entre as duas famílias foi a pior coisa que já poderia ter acontecido, pelo menos para mim, e eu não era nem nascido quando tudo começou. Hoje sinto que alguns aspectos da minha vida são controlados, os mais importantes, e, de repente, eu não quero ser esse cara que se deixa levar pelas circunstâncias da vida. Hoje eu me importo mais do que me importava antes, pois tenho pelo que lutar.

Teve uma única vez em que eu tive garra suficiente para correr atrás do que eu queria, romper barreiras e sair da inércia, do medo, embora escondido bem no fundo da minha alma, de decepcionar mais do que já decepcionei, de ver que não sou e nunca fui o filho que um homem com o meu pai sempre quis. É assim desde que eu era moleque.

Quando criança, fui um garoto levado, não me comportava nos lugares em que deveria me comportar, ou seja, a maioria. Vivia com as roupas sujas, por isso, sempre de castigo. A minha pobre mãe acreditava que algumas horas sem videogame ou sem andar de bicicleta fariam com que eu aprendesse alguma coisa, que me tornariam o filho que eles queriam e precisavam mostrar para os amigos. Mas eu não era e nunca fui essa criança.

Na adolescência tudo foi ficando pior, eu ficava cada dia mais inquieto. Até as roupas que compravam para mim pareciam de outra pessoa. Hoje, aos 38 anos, e sem vergonha de admitir, ainda estou tentando me encontrar, ainda que acredite ter encontrado o meu coração. Na verdade, descobri que tenho um coração e não só um pau no meio das pernas, para dar para qualquer uma o que eu mesmo não podia.

— Meu filho, pensei que não viesse mais. — Por dentro estou revirando os olhos, pois ela não me deixaria faltar a um evento tão importante para a O&M.

Na verdade, eu estive tão absorto em meus próprios pensamentos que nem percebi o momento em que guardei o carro na garagem e subi até aqui. Fico surpreso por já terem tantas pessoas com taças de bebidas nas mãos, umas se confraternizando com as outras. Na parede tem um banner com as fotos de duas garotas e um garoto, certamente os vencedores do ano.

— Eu não poderia faltar, mamãe — falo com um sorriso congelado ao abaixar-me a altura do seu rosto e beijá-lo. Esse aqui é o meu mundo, pelo menos deveria ser, livros para todos os lados como parte da decoração, pessoas apaixonadas pela leitura e que amam passar horas com uma boa xícara de chá e entre as páginas de uma boa história.

Não é que eu odeie livros e seja contra quem gosta de ler, pelo contrário, a minha adolescência, em suas fases contraditórias, me despertou para essa paixão. No meu apartamento existe um cômodo onde montei uma biblioteca e já perdi horas e horas dos meus dias lendo bons livros. O que me frustra é o lado econômico disso tudo, a falta de paixão, onde o amor pelo dinheiro e pelas aparências é muito maior do que pela fonte de tanta riqueza.

— Promete que irá se comportar hoje? — pede com um olhar suplicante e tem os seus motivos para isso.

— Quando é que não me comporto?

— Se eu começar a numerar, passaremos a noite inteira aqui. — Então pega uma taça de champanhe com o garçom que acaba de passar e me deixa sozinho.

Segure-me em seus braços (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora