FELIZ NATAL!

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Na natureza nada se cria, tudo se transforma; essa é a premissa que rege os lugares mais profundos e obscuros do universo e da consciência humana. Se nossos cérebros são o cerne de nossas emoções e nossas emoções são filhas do cosmos, a emoção se transforma, jamais se dissipa, certo? Não sei. Talvez não esteja certo. Não estudo neurônios, fenômenos naturais ou comportamentos humanos. Francamente, meus argumentos não passam de tolas suposições. Mas o que fazer? Era disso que eu vivia. Não é que eu não buscasse pelo famigerado conhecimento, que eu vivesse com prazer na ignorância. É que eu preferia me deter na fome pelo o que era palpável, não me leve a mal. E eu digo que não me leve a mal porque eu mesma já me levei e me levei dançando. Eu mesma me dei ao desfrute durante meses e o percebi em dezembro, em uma interminável e aflitiva noite de sexta-feira em dezembro. Que dezembro é o mês das canções, da caridade, dos presentes, dos presépios e da cor vermelha, todas as pessoas já sabem. E é justamente por saberem que não acreditam que tamanha crueldade tenha ocorrido em um mês tão festivo, em um mês em que todas as pessoas possuem as mais boas intenções. Para os pagãos, dezembro é o mês do Santa Claus, para os cristãos, do Yeshua; para os amantes da vaidade é o mês dos chamativos adereços natalinos e para as mulheres, dos vestidos vermelhos e como boa mulher, sempre amei o vermelho mas naquela noite não o vesti, pelo menos não por vontade própria. Véspera de Natal, casa de número 109, Rua Anchieta, 2010. Ali estava eu, em pé, olhando para a minha própria imagem e não foi para a imagem refletida no espelho que estava pendurado na parede em minha frente, foi para o corpo no qual, dentro, passei anos alegres e dançantes reproduzindo a alegria e a dança que aprendi do mundo. Foi para o corpo pingando líquido escarlate provindo das veias de uma serena, loira e pálida moça de 23 anos. Helena Maria. É assim que eu me chamo e que me chamava no momento em que dei o último suspiro, em que enxerguei o mundo com os olhos carnais pela última vez, em que recebi um objeto longo e afiado em meu peito, cravado pelas mãos do homem que eu tanto amava e que, inevitavelmente, ainda amo.

HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora