Quando completei 13 anos o incomodo com meu corpo começou a crescer cada vez mais, meus hormônios estavam à flor da pele, seios cresciam, tudo ficava mais delicado, a preocupação de minha mãe em relação a sexo e gravidez eram insuportáveis. Eu me perguntava todos os dias porque eu sangrava todo mês, porque não poderia ser que nem meus primos, com essa idade estavam na rua correndo atrás de bola e andando de bike no parque.
Não sabia o que estava acontecendo comigo e já não entendia o que ou quem eu era. Não era como todas as outras garotas que queriam pegar todos os garotos que encontravam no caminho. Minha atenção estava nas meninas, me interessavam tanto, mas aquilo era tão estranho aos olhos da maioria que apenas deixava em segredo comigo sobre querer ficar com mulheres e não com homens como a tradicionalidade toda em que vivemos.
Enquanto tentava me entender conheci David, um moleque nerd, que apanhava quase sempre dos veteranos, e em uma dessas brigas dele escutei uma conversa ao passar no corredor:
– Além de nerd, é gay. Aqui não tem espaço para você seu esquisito. – Disse um dos babacas que haviam o derrubado no chão.
– Cara o que você acha de dar uma boa surra nele ? – Disse outro deles.
– Fazemos isso quase todos os dias, já estou enjoado.
– É uma surra diferente Pedro, vamos levá-lo ao banheiro e ver o quão gay ele é hahaha. – O último garoto disse com um deboche e satisfação no rosto que chegou a me assustar, eles iriam estuprar o garoto.
– Hey filho da puta, por que não enfrenta alguém do teu tamanho ? Larga de ser covarde, aliás todos vocês são um bando de cães sarnentos que procuram um osso para conseguir atenção da escola. Vocês são ridículos. – Me arrependi de entrar naquela briga que nem era minha, mas mantive minha postura, eu era tão pequeno perto deles, chegou até ser engraçado nossas diferenças de estatura.
– Então você tem uma namorada e não nos contou amiguinho ? – Disse o mais alto, provavelmente estava no 9° ano e deveria ter repetido umas duas vezes para estar ali com mais de 17 anos.
– Você é só uma pirralha garota, vaza daqui, isso não tem nada a ver com você, aliás não é assunto de mulher.
– EU NÃO SOU UMA MULHER!!!! – Gritei aquela frase, e no mesmo momento nem eu entendi o porque de ter saído aquelas palavras da minha boca. Sai correndo e entrei no banheiro aos prantos, comecei a chorar demais. Pelo menos os babacas deixaram David em paz e foram embora.
No outro dia todos me olhavam estranho, algo havia acontecido, ocorreram boatos pela escola inteira de que estava querendo ser macho e protegi o viadinho nerd, que eu deveria dar para ele de uma vez, mas que deveria ser o precioso anel, porque era o que ele gostava.
Me senti tão mal com tudo aquilo que me afastei da escola por uma semana. Como meus pais saiam antes do horário das aulas e voltavam tarde, não iria ter problema.
David conseguiu entrar em contato comigo através do Facebook, minha vontade era de matá-lo, a culpa de tudo aquilo acontecer foi totalmente dele. Não, não foi dele, ele não pediu minha ajuda, e eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Resolvi responde-lo e pesquisar sobre aquilo, encontrei algumas páginas no Google falando sobre LGBT+ e acabei me identificando como um transgenero. Pesquisei mais ainda sobre e só então me dei conta de que realmente não era uma menina, não me sentia uma, nunca me senti bem sendo tratado como uma. Odiava ser chamado de Clara, odiava meu corpo que adquiria cada vez mais delicadeza e traços femininos.
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No Labirinto da Escuridão
Mystery / ThrillerTudo começou quando minha vida acabou. Parece ironia, mas estava vivo enquanto o meu corpo e coração se dilacerava e eu morria. O ar não era suficiente para me manter vivo, faltava algo, faltava essência e todos os dias um novo ciclo vicioso de fant...