Três

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Aquele era o dia. O grande dia. O dia em que as filmagens começariam. Era o dia em que uma equipe iria filmar um pouco da rotina de Jay na confeitaria, desde um rapido preparo de doces  e seu entrosamento com os clientes. Era o dia também que teria que fazer um vetê falando sobre como ele era e o que ele tinha como diferencial. Ficou pensando no porquê de ter que fazer aquilo. Quando todos o conhecessem veriam que era óbvio que deveria ganhar o programa. Mas, se fosse para o ajudar de alguma forma, ela com toda a certeza faria sem nem pensar duas vezes. Apenas para o ver ser tomado pela confiança que ele devia ter em si mesmo e para ver aquele sorriso que fazia seu coração disparar.

Sentiu as bochechas corarem violentamente e esfregou o rosto como se aquilo pudesse apagar a vermelhidão no rosto. Deixou as mãos caírem ao lado do corpo e se concentrou em não pensar mais sobre aquelas coisas. Olhou a porta do quarto fechado e se permitiu sim, pensar livremente sobre tudo. Aquele era o espaço dela, era a cabeça dela, a mente dela, não precisava ter vergonha de seus pensamentos. Só não podia deixar os sentimentos saírem dali, de seu quarto, de seu peito. 

Cruzou os braços embaixo da cabeça e ainda fitando o teto com aqueles adesivos bobos de galáxia e estrelas que brilhavam no escuro lembrou de que aquilo fora ideia de Jay. 

— Eu pensei que por ser um lugar estranho e novo, isso pudesse fazer você se sentir melhor. Sei que não gosta do escuro, então isso pode ajudar também. —  falou ele rapidamente, sempre atropelando as palavras, desajeitado e afobado. 

Desceu da cadeira depois de colar a última lua e olhou seu trabalho de maneira orgulhosa. Lucce reparou em Jay, ele era muito grande e alto, não precisava de uma escada para alcançar o teto e percebeu que ao lado dele se destoavam. Ela com todos os seus um metro e meio de altura jamais poderia fazer o que ele fez sem uma grande escada. 

Avaliou o que ele havia feito e percebeu que ele a olhava em expectativa. De repente Jay correu para a sacola de papel kraft e tirou de lá uma luminária de papel no estilo japonês. Ele sorriu grande para ela e mostrou a pequena luminária como se fosse a solução para um grande problema mundial.

— Vi isso quando já estava na fila para pagar os adesivos e não pensei duas vezes antes de comprar. Achei que pudesse gostar. Acho que isso pode te trazer boas lembranças de casa, não é? 

Lucce quis dizer que poucas coisas em sua casa tinham o estilo japonês. Seu pai nunca ligou para isso e sua mãe sempre gostou mais de decoração rústica. Mas o brilho no olhar de Jay e a sua intenção, o seu carinho e sua preocupação fizeram ela ficar calada. O que ele estava fazendo por ela... 

— Não gostou? Exagerei, não é? Meu Deus, eu sempre exagerando em tudo! — a decepção em sua voz a assustou — Eu sou tão idiota, as vezes você não quer lembrar de nada e eu achando que isso poderi—

Ela não conseguiu ouvir mais nenhuma de suas besteiras. Ele como sempre havia interpretado mal o silêncio dela, então se viu na obrigação de o supreender com um abraço. Ela nunca havia o abraçado. Em todo o tempo de amizade, aquele havia sido o primeiro e ele sentiu - depois do choque inicial - que tinha valido a pena, o rodar pela cidade na busca de qualquer coisa que pudesse a ajudar a se sentir bem-vinda, as duas horas na fila daquela loja e o doer do pescoço e do braço por conta da colagem dos adesivos. Circundou o pequeno corpo e bagunçou os cabelos dela assim que se soltaram.

— É, eu acho que pode me trazer boas lembranças. —  disse simplesmente, mas o suficiente para que ele sorrisse para ela.


E trouxe mesmo. Não pela casa que um dia morou, nem pelos dias que viveu nela, mas daquela que dividiam. Boas lembranças como aquela. Sorriu de maneira boba novamente e por mais que seu rosto corasse, não ligou. Gostava do que Jay proporcionava a ela, toda a segurança, todos os sentimentos de alegria, gratidão e proteção. 

Doce Amor - Olha O Que O Amor Me FazOnde histórias criam vida. Descubra agora