O dia havia sido cansativo, tudo o que havia pedido era apenas um bom descanso, dormir como se estivesse em coma, mas parecia pedir muito para alguém com um sono tão leve.
Não queria despertar, não quando sentia que estava em sonho tão lindo e sereno, não quando a cama estava tão quente e confortável, tão macia. Nunca havia dormido tão bem, como se estivesse rodeado de nuvens macias e aconchegantes. Se aconchegou mais, mas o barulho irritante se fazia cada vez mais alto.
O vibrar insistente do celular no criado-mudo de madeira escura e maciça parecia que soava diretamente em seus tímpanos. Abriu os olhos a contragosto, a cabeça pesada e a alma parecia que não havia descido para o corpo da maneira que deveria. Demorou um pouco para se situar, mas só pôde ver um mar negro de fios lisos a sua frente. Afastou a cabeça apenas um pouco para saber que estava abraçado em Lucce como se fosse um coala.
O corpo pequeno completamente jogado na grande cama, um dos braços acima da cabeça, uma das pernas flexionadas e uma esticada abaixo da maior do homem. A boca pequena aberta, suspirando. A franja nos olhos fechados, então era assim que ela dormia? Largada e espalhafatosa.
Em meio ao riso suave que ela inconsciente havia lhe proporcionado, ele reparou em si prórpio. O rosto afundado no pescoço da menor, um braço embaixo do travesseiro e o outro abraçado a cintura dela com a mão pequena sobre a sua, seu tronco colado ao dela, uma perna enroscada na dela. Quando foi que acabaram desse jeito?
Quis a soltar, não era certo eles estarem assim. Não quando era a Lucille ali. O que ela pensaria se acordasse e visse que ele estava tão colado nela? Ela o tiraria da cama na base do chute! Sua sorte era que ela tinha o sono de uma rocha, um sono tão pesado que o fazia ter inveja. Ele não podia invadir assim o espaço pessoal dela. Mas... Porque não conseguia soltar o pequeno corpo? Porque se sentia tão bem ao ser abraçado com o calor suave do corpo dela?
Deitou a cabeça no travesseiro de novo, sem mover um músculo sequer. Olhando minuciosamente a amiga. Quando fora a última vez que reparara nela mesmo? Ah, sim. Naquela mesma manhã. Parecia muito absurdo não reparar em qualquer coisa que fosse sobre ela. Ela havia acordado com aquele mau humor que ela sempre tinha de manhã, mas não reclamou uma vez sequer, porque aquele dia era especial e importante para ele. Ela havia dirigido por ele e ele sabia que ela não gostava muito de dirigir, mas o fez por ele. Ela também se privou de um reforçado café da manhã, apenas para não correrem o risco de chegar em cima da hora ou atrasados; ele sabia o quão importante e sagrado era pra ela o momento das refeições. Fizera tantas coisas por ele durante aquele dia.
Aquele dia tão bom só pôde ser vivido graças à ela. Porque sempre era ela que fazia sua vida fluir. Antes de Lucille aparecer em sua vida as coisas eram tão simples e monótonas, tinha uma vida que seguia uma rotina que se fizera sem nem mesmo perceber, nunca houve muita ação ou muitas confusões, era uma vida tranquila e segura, como ele sempe gostou. Era um cara calmo e sabia valorizar a tranquilidade dos momentos.
Acordava cedo, tomava um café silencioso e seguia para a confeitaria. Preparava os doces e abria a loja. As conhecidas pessoas chegavam e o movimento começava. No almoço fechava a loja e almoçava alguma coisa em sua lanchonete favorita. Depois voltava a loja para preparar as encomendas feitas e depois de tudo pronto, começava as entregas. No final da tarde abria a confeitaria para o que os clientes chamavam de "chá da tarde". A noite, fechava e seguia para casa depois de limpar tudo para o dia seguinte. Em casa, depois do banho, comia alguma coisa leve, as vezes desenhava um novo modelo de bolo, as vezes assistia algum filme e depois logo ia dormir. Era assim todos os dias e seguiria assim.
Mas, ela chegou.
E depois que ela entrou subitamente em sua vida, as coisas nunca mais foram as mesmas. Ela havia balançado sua vida e seus dias. Ela era tão difícil, tão arredia e tão grossa! Era tão diferente de sua natureza naturalmente gentil, era estranho que quisesse e insistisse em uma aproximação com ela. Quantas portadas não levara na cara? Quantas vezes não escutou que era melhor deixar aquela garota pra lá?
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Doce Amor - Olha O Que O Amor Me Faz
RomanceAnthony Jay Suárez é um simples confeiteiro da cidade de Burikiacqua. Levava uma vida simples e normal até encontrar ferida e assustada na porta de sua confeitaria uma garota que descobre ter sido atacada pelo tio. Sozinha e desamparada, Jay se sent...