Teste de Aptidão

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Acordo com os primeiros raios de sol iluminando o quarto e ofuscando meu rosto. Viro-me para o lado contrário em uma falha tentativa de fugir da claridade.

- Chloe. – Chama uma voz doce. Gemo em resposta. – Chloe, querida. Está na hora.

- Ah não, Marta. – Murmuro. – Minha mãe nem está em casa, não vai saber se eu perder o primeiro período. – Ouço uma risada contida vindo do outro lado do cômodo. Provavelmente da porta.

- Quando não estou em casa é assim que você tenta negociar?

- Mãe? – Levanto de sobressalto, quase caindo devido aos cobertores enrolados em meus pés. A encaro. – Esqueceu alguma coisa? – Indago observando suas vestes sociais azuis típicas da Erudição.

- Não, mas acho que o fato de ser líder me permite chegar atrasada para te levar para a escola no dia do teste de aptidão. - Explica sorrindo. – Te espero lá em baixo. – Completa.

Ponho minhas vestes: Uma saia azul escuro com uma blusa clara e blazer da mesma cor da saia. Além do sapato colegial preto, obrigatório independete da facção. Vivemos em Chicago, em uma sociedade pós-apocalíptica dividida em cinco facções que representam as qualidades humanas: Os altruístas compõem a Abnegação, os generosos formam a Amizade, os corajosos pertencem a Audácia, inteligentes encontram-se na Erudição e os Honestos se situam na Franqueza.

Em poucos minutos estou apresentável. Arrumo meus longos cabelos loiros e lisos, opto por deixá-los soltos. Coloco meus óculos quadrados cujas hastes são negras e encaro minha imagem no espelho, minha visão não alterou em nada, já que a lente é seu grau. Utilizo o acessório pois é quase uma regra na Erudição, uma vez que as pessoas acreditam que o objeto dá um ar mais intelectual ao visual. Pego meu material escolar (livros e bolsa) e desço a enorme escadaria que leva ao primeiro andar. Assim que me aproximo da mesa, minha mãe, sentada majestosamente à ponta da mesa, se levanta. Vem até mim, arruma a gola de minha camiseta polo e fecha dois botões, deixando apenas um aberto.

- Onde está sua gravata. – Pergunta séria.

- Mãe. Por favor. Praticamente ninguém vai de terninho para o colégio, muito menos de gravata.

- Você não é ninguém. É minha filha e futura líder da Erudição, tem que se vestir de acordo.

- Não estou pedindo para sair para beber e voltar às três da madrugada, só quero usar uma calça e uma camiseta normal. Como qualquer outra pessoa. – Explico, ela me lança um olhar de compreensão, contudo, fala:

- Eu vou pegar a gravata. – Bufo em resposta.

- Não bufe para mim, essa não é uma atitude adequada para uma moça na sua posição. – Me repreende minha mãe subindo as escadas.

- Marta – Gemo frustrada encarando minha ex-babá. Ela era baixinha, ruiva com lindos olhos verdes. Tinha um coração enorme, e após a morte de meu pai, havia ajudado minha mãe durante toda minha vida. Era da Amizade, mas encontrara sua vida junto a Erudição, e hoje em dia era governanta de minha mãe.

- Coloquei a calça social na sua mochila. – Diz com um sorriso cumplice, sorrio dizendo:

- Marta, você é minha heroína.

Instantes depois minha mãe desce. Sorri vitoriosa enquanto dá o nó na pequena peça de roupa azul e prateada, combinando com as bordas do blazer. Já sentadas a mesa, ela começa sua habitual sessão de reclamações.

- Que horas foi dormir ontem à noite? – Indaga. Antes que eu possa proferir alguma palavra ela completa. – Vi a luz por baixo de sua porta. Devo lembra-la novamente da importância das oito horas de sono diárias?

AscendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora