Cerimônia de Escolha

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Às quinze horas quando saio do colégio, não me surpreendo ao ver Charles, motorista da minha mãe, encostado na porta no carro. Nem me dou o trabalho de ficar chateada quando ele informa que "a senhora Matthews teve alguns imprevistos de última hora e não pode vir", visto que este é um acontecimento muito recorrente. Apenas assinto e fico admirando a paisagem enquanto penso na frase de Caleb.

Á noite, quando chega, a primeira coisa que minha mãe pergunta é sobre o resultado do teste de aptidão, entrego-o com um enorme sorriso no rosto, ocultando toda a confusão que toma conta do meu ser. Ela se mostra muito eufórica com aquele resultado, e fica tagarelando sobre os diversos planos que tem para meu futuro dentro da Erudição. Nas expectativas dela, meu caminho já está traçado: passarei da iniciação como primeira colocada e irei trabalhar direto no complexo. Após, farei políticas de alianças e conseguirei o apoio das outras facções. Lhe substituirei na liderança da minha facção e elevarei a qualidade de vida de todos. Depois me candidatarei e conseguirei o cargo máximo do Governo de Chicago.

Confesso que só de imaginar já me sinto enjoada, esse é o sonho dela, não o meu, eu tenho os meus planos, que não incluem fazer faculdade de direito e de ciências políticas, participar de eventos e ser bajulada por hipócritas interesseiros em busca de um cargo ou amento de salário. No entanto, algo dentro de mim se quebra cada vez que penso em decepcioná-la, talvez porque o único assunto em que ela realmente se interessa em me ouvir é referente a meu futuro acadêmico e profissional.

Deixo essas dúvidas de lado quando ela me chama para irmos à cozinha fazer os hamburgers. É uma cena até engraçada ver a poderosa Jeanine Matthews tirando seus saltos 15 cm para brigar com um amontoado de ingredientes que teimam cair para o lado enquanto ela tentava organizá-los dentro do pão. O som do interfone é o suficiente para eu saber que nossa noite de despedida foi arruinada. Logo que coloca o telefone de volta no gancho após falar com o segurança na guarita, ela me lança um olhar indicando a escada. Já sei de cor o que fazer. Cada vez que ela precisa receber alguém em casa, pelos mais variados motivos, me manda ficar no quarto e não descer até que permita.

Curiosa, como qualquer erudita, sento diante da janela e me ponho a observar os vastos gramados da mansão. Os pensamentos do que fazer no dia seguinte voltam a me assombrar. Me pergunto quantos jovens estão com essa mesma dúvida nesse exato momento. Ou será que todos ficaram contentes com seus testes de aptidão? Também fico pensando no porquê de eu ter ficado consciente durante todo o teste. Será que é normal? Por algum motivo, penso que não é seguro compartilhar minhas dúvidas com minha mãe.

Sim, eu sei que não estou contente com a Erudição, sei que se permanecer terei que me submeter aos seus planos, e, embora eu ame os ideais de minha facção, quero poder chegar a um cargo alto por meus méritos, minhas ideias, meus desejos. Quero ter a sensação de arriscar tudo, de tropeçar no meio do caminho, de cair e de levantar. Longe dos olhares tortos e dos comentários maldosos sobre o privilégio de ser filha da líder. Sei que quero ajudar as pessoas, ser útil na sociedade. Mas acima de tudo, quero liberdade. Liberdade para expressar que eu sou. Me decido, não irei me submeter a minha mãe. Amanhã, escolherei alguma facção com a qual me identifique. O único problema, é decidir qual das outras quatro. Antes que possa parar para pensar, vejo Marcus Eaton, líder da Abnegação, cruzar o gramado em direção ao portão, parecendo muito irritado. Me pergunto que tipo de assunto teria ele a tratar com minha mãe e por que saíra tão bravo.

- Chloe. – A imagem e a voz dela ecoam da porta me assustando. – Bisbilhotando outra vez? – Indaga.

- Desculpe. Mas o que Marcus queria? – Questiono.

- Conversas burocráticas. Nada com que se preocupar. – Diz. Assinto. Ela retira de traz de si uma sacola de papel com escritas em preto, e me entrega. - Abra. – Pede.

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⏰ Última atualização: Jun 11, 2020 ⏰

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