4 - Eu sou assim.

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THEREZA SILVA

Já amanhecia e a claridade começava a invadir o quarto. A sensação de leveza pairava em mim.

- Senti sua falta! - assumi sem reservas.

Vitor Hugo apenas sorriu e me puxou mais para seu abraço beijando o topo da minha cabeça. Estávamos em sua cama, nus, frouxos, exaustos após novas e intensas rodadas de sexo. Ele de olhos fechados com um semblante de felicidade, e eu, apesar da posição do rosto sobre seu peito, estava de olhos bem abertos olhando ao redor. Atenta. Observei seu quarto bem minimalista em um degrade de tons cinzas. Uma cama enorme com um conjunto gostoso e suave de lençóis e edredons com muitos travesseiros de tamanhos diferentes. Estes em sua grande maioria estavam no chão. Antes o ar ligado no máximo não era pálio para nosso calor, mas agora gélido nos arrepiava então nos apertamos ainda mais sobre o pesado endredon. Fiquei apenas deleitando daquela nuvem de plenitude mesmo sabendo que não era algo que buscava. Meu querer com Vit para vida era completamente diferente do querer dele por mim. Mas precisava admitir pelo menos para mim mesma que o amava e que era o único homem que me fazia sentir a mulher mais feliz do mundo, no sexo ou com apenas sua presença.

Vit era meu calcanhar de Aquiles. Perto dele me sentia leve, sensível, completamente a mercê das minhas emoções. E isso era algo que me amendrontava. Gritava aos quatro ventos que o achava um fraco para estar comigo, mas a verdade é que a fraca sou eu. Tento manter meu coração e sentimentos como mantenho os meus punhos, feito aço, feito pedra, mas quando estou com ele, em todos os momentos isso cai por terra. Penso que ao assumir esse amor e dividir minha vida ao seu lado posso contribuir para que minhas ações em campo fiquem mais brandas, mais moles. Que me desestabilize. Que o medo me tome e me torne uma incapaz. Não é como se eu julgasse que mulheres que se entregam ao amor, a paixão, estejam erradas. Mas para mim é algo que não funciona. Nunca fui uma menina, mulher sonhadora. É algo natural em mim. Sempre alheia ao que chamo de ilusões sentimentais. Nunca quis me sentir tão dependente de ninguém como o amor faz sentir. Isso sou eu. Minha essência, e nela me firmei. Nem todo o amor real e extremamente emocionante que tive de exemplo em minha casa através da relação de meus pais me faziam crer que para mim seria assim. Eu simplesmente não queria me ver tão entregue a outrem como se não fosse precisar apenas do ar para sobreviver. Imaginei que não fosse ser difícil porque o verdadeiro amor não acontece a todo momento, nem para todo mundo. Por que seria contemplada por algo que fazia questão de não ter?
Sempre achei que essa "conexão" entre nós fosse fogo de palha, algo que se perderia com tempo e se consilodaria no que era, amor de amigos, quase irmãos. Mas havia algo diferente.

Sou mais velha que ele quase dois anos, e uma mulher mais velha que um homem, ainda na pré adolescência, é muito diferente. A mulher geralmente parece amadurecer mais cedo, corpo, cabeça. Eu fui assim. Mas, nem essa diferença nos fez se afastar. Nada se perdeu, e essa conexão nos levou cada vez mais para um lado que nem de longe nos sentíamos irmãos. Os sentimentos mudavam a cada fase de nossas vidas. Nossa "amizade" se tornou tão imprescindível que fazíamos birras aos nossos pais para nos ver com mais frequência. Bem... eu fazia mais birras que ele, pois Vit sempre tinha um jeitinho mais doce de conseguir o que queria. Quando percebi que o amor juvenil nos invadia eu quis lutar, mas, por mais que eu tentasse lutar contra, na puberdade, foi impossível. Meu corpo e o dele em mutação, cada um agraciado pelo ótimo resultado do DNA de nossas famílias eram chamariz para o pecado. Meus desejos desabrocharam aos toques ainda que com intenções amigaveis. Assim como os dele. Foi impossível evitar o querer no acarinhar espontâneo vendo filmes por horas a fio, ou até andar de mãos dadas. Parecíamos namorados, apenas não nos beijavamos. Vit tinha um porte diferenciado dos rapazes de sua idade e, somada à sensibilidade e gentileza que via o mundo, que agia, que me tratava me fez surtar de vez. Eu o queria. Meu fim foi notar a mudança de seu olhar e sorriso maroto que foi ganhando uma forma mais viril e quente ainda muito cedo ao meu ver. Passou a ser impossível não me imaginar e desejar ardentememte estar em seus braços de uma maneira nem um pouco amigável. Foi muito difícil, ainda que aos meus quase dezessete anos, me sentir subjulgada a um garoto de tenra idade, e me entregar com muita paixão de corpo e alma. Acredito que ali tenha sido meu erro.

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2020 ⏰

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