I feel a little safer when I'm with you

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Quando Katsuki voltou para casa, encontrou Shouto em seu sofá. A televisão estava ligada em um volume baixo demais para poder-se ouvir alguma coisa, havia um livro caído no chão — um compilado de leis tediosas que eles precisam estudar para a reciclagem, não era à toa que ele provavelmente tinha caído no sono lendo aquilo.

Uma mecha de cabelos vermelhos misturados com brancos caía perfeitamente sobre seus olhos de um jeito delicado, ainda que delicado não fosse um adjetivo muito condizente com o bicolor, na maior parte do tempo, mas se Katsuki tivesse que escolher um momento para descrevê-lo de tal modo, seria certamente enquanto este dormia.

Havia sempre muito cuidado também em seus momentos íntimos, por mais acalorados que fossem, Shouto o segurava firme nos braços, olhava para ele como se ele fosse a oitava maravilha do mundo, ou algo assim, e embora nunca fosse admitir, Katsuki sentia-se protegido nos braços do meio a meio. Era até um pouco irritante.

Eles já estavam juntos há mais de quatro anos e Katsuki ainda era surpreendido ao descobrir coisas novas sobre Shouto. Ele sabia que as pessoas estavam sempre mudando, porra, ele mesmo se considerava uma maldita metamorfose ambulante, mas Shouto parecia sempre ter algo inédito para revelar, sempre alguma coisinha que não estava ali antes. Katsuki supunha que era isso que os anos de intimidade conquistavam, coisas e mais coisas para agregar ao extenso arquivo mental que tinha reservado a esse homem que agora dormia em seu sofá, sem nem ter avisado que estaria indo para a sua casa.

Havia muitas coisas que Katsuki adorava — não, que ele amava — sobre Shouto Todoroki. Ele amava quando o outro segurava firme em seu rosto ao beijá-lo, ou quando ele o abraçava e enfiava o rosto na curva de seu pescoço, como se aquele espaço tivesse sido feito exatamente para aquele propósito e nada mais.

Vê-lo dormindo tão pacificamente ali em seu sofá fazia o coração de Katsuki crescer de tamanho, até quase ameaçar explodir, de tanto carinho que ele conseguia sentir por uma pessoa que, há alguns anos atrás, havia jurado destruir, cego de orgulho e arrogância, e incapaz de enxergar as coisas pelo que elas realmente eram.

Se Shouto estava ali, ele sabia que só poderia ser porque ele estava querendo fugir de suas responsabilidades, as coisas provavelmente estavam difíceis de lidar na agência, porque ele ainda insistia em algumas coisas que não funcionavam, por puro orgulho também, como continuar trabalhando sob as ordens de seu pai, mesmo sabendo que aquilo lhe fazia mal e que o melhor seria sair logo da sombra do velhote, para que pudesse logo traçar seu próprio caminho.

Bem, Katsuki entendia de teimosia. Shouto ainda precisava enxergar algumas coisas sob uma nova luz, mas isso aconteceria apenas em seu próprio tempo, não adiantaria nada forçá-lo a perceber coisas que ele ainda sequer compreendia como erros.

Seus pensamentos foram interrompidos quando Shouto se encolheu no sofá, respirando suavemente e resmungando alguma coisa em seu sono. Katsuki não pode evitar o sorriso que se abriu em seus lábios, aproximando-se cuidadosamente e recolhendo o livro do chão, colocando-o sobre a mesinha de centro, aproveitando para apanhar o controle remoto e desligar a televisão.

Aproximando-se como se estivesse tentando chegar perto de um animalzinho selvagem, Katsuki afastou as mechas de cabelo dos olhos de Shouto, que se encolheu um pouco mais, antes de abrir os olhos minimamente, ao sentir o movimento. Um discreto sorriso se abriu em seus lábios e ele estendeu os braços, fazendo o loiro franzir o cenho. O bicolor abriu e fechou as mãos, como uma criança tentando comunicar que deseja colo.

Katsuki riu, girando os olhos.

— Folgado — disse, mas lhe concedeu essa pequena indulgência. Esticando os braços, um passou por baixo das coxas de Shouto e o outro por trás de suas costas, elevando-o em seus braços em um impulso, com bastante facilidade, mesmo que o meio a meio não fosse exatamente leve, apesar de ser bastante magro.

Shouto envolveu os braços no pescoço do namorado, enfiando o rosto na curva de seu pescoço e deixando um beijinho ali, um arrepio correu pela espinha de Katsuki por causa do toque dos lábios dele que estavam gelados dessa vez, como às vezes ficavam, era sempre uma loteria, nunca era possível saber se estariam quentes ou frios.

Ele só se desvencilhou de Katsuki quando foi depositado na cama, já se enfiando embaixo das cobertas como se fosse dono do lugar todo, ganhando mais uma tentativa de censura da parte do outro, que soava apenas como afeto enquanto ele próprio se enfiava debaixo das cobertas, logo após tirar suas roupas.

Shouto virou-se de costas para ele, ainda que ele fosse três centímetros mais alto, às vezes ele conseguia reproduzir essa mágica onde ele se fazia significativamente menor apenas para caber perfeitamente nos braços de Katsuki, que o envolvia com seus braços e o mantinha ali, como se os dois estivessem seguros dentro de um casulo particular criado apenas para eles.

— Dia difícil hoje? — Katsuki perguntou no escuro do quarto, a própria voz arrastada de sono.

Mmhm — Shouto resmungou sua meio-que-resposta, depois de tanto tempo que o outro achava que ele já tinha pegado no sono novamente. O loiro empurrou o nariz entre os cabelos bipartidos macios, sentindo-se completamente relaxado.

— Está bem, descanse agora — disse ainda mais baixo, incerto se o outro sequer tinha ouvido.

— Eu amo você, Katsuki — ele ouviu quando estava quase mergulhando no mundo dos sonhos. Shouto já estava dormindo, mas às vezes ele resmungava coisas em meio ao seu sono. Aconchegando-se e encaixando um pouco mais os seus corpos, Katsuki caiu no sono, sentindo seu coração cheio e tão, mas tão contente.

Safe - bnha | tdbkOnde histórias criam vida. Descubra agora