Capítulo 1 - Shinobu Kocho nunca irá arrumar um namorado

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Reação Química

Capítulo 1

Eu sempre me senti solitária, isso é um fato que jamais vou poder negar. Mesmo com minha irmã ao meu lado a vida toda, sentia um vazio no meu coração. Eu não esperava que ele fosse preenchido, mas foi.

- Shinobu! - a voz da minha irmã me acorda. Me remexo na cama, que está tão quentinha. - Acorda, irmã! Você tem que ir à faculdade.

- Já vou! - grito irritada.

Eu odeio levantar cedo, sinto como se precisasse de mais horas na minha cama. Mas também, eu fiquei acordada mais do que devia assistindo séries.

Minha irmã diz que sou um pouco irresponsável por dormir tarde, mas quando se trata de outros assuntos, eu sempre sou a mais sensata e séria. Kanae é como uma Maria mole, macia e… molenga. Um coração tão mole que chega a ser fofo, mas em algumas situações chega a ser até mesmo inconveniente.

Jogo as cobertas para o lado e me levanto, com muita preguiça. Troco de roupa rapidamente, uma calça preta jeans e uma blusa de manga longa. Eu até queria usar saia hoje, mas teremos aula no laboratório e roupas curtas não são permitidas.

Eu estou no segundo semestre na faculdade de química. Consegui uma bolsa de estudos integral numa das melhores faculdades, o que é motivo de orgulho para mim e para a minha irmã, que também já passou na mesma faculdade e se formou há algum tempo.

Pego meu celular, mochila e notebook, então saio do quarto, mas antes de descer as escadas, me lembro que não prendi o cabelo.

Sou acostumada a usar o cabelo preso, acho que fica bem bonito. Meus cabelos também não são longos ao ponto de deixá-los soltos com os de minha irmã. Ela insiste que devo deixar solto mais vezes, porque me deixa mais delicada.

Assim que chego na cozinha, vejo lá as crias da minha irmã.

Sumi, Kiyo, Naho, Kanao e Aoi são as filhas adotivas da Kanae. Não entendo o que passou pela cabeça dela de adotar cinco meninas. Eu até entendo que temos uma ótima condição financeira para ter filhos, mas adotar tantas? Ela também pode ser uma boa mãe, mas mesmo assim! Criar crianças é uma responsabilidade enorme que eu não estou preparada. Filhos não são algo que estão no meu futuro, muito menos destino.

- Bom dia. - digo ao me sentar. Pego um pão fresco e uma fatia de queijo branco. Eu adoro essa combinação, é muito gostoso.

- Bom dia! - as cinco respondem juntas, enquanto comem. Kanao é quieta como sempre, mas nunca deixa de me cumprimentar. De todas, ela é a que mais simpatizo. É uma boa garota, assim como as outras.

- Bom dia, irmã. - Kanae me cumprimenta.

- Bom dia. - olho as horas no celular e percebo que estou atrasada. Como mais o mais rápido possível.

- Atrasada?

- Um pouco. - dou uma risadinha sem graça. Termino de comer e me levanto. - Estou saindo. Boa aula, meninas. Tchau! - aceno para elas e saio. No caminho, mexo no celular tentando ver se alguém já está acordado.

Nada da Misturi, desde ontem ela sumiu e não deu mais sinal de vida. Garanto que foi na casa do Obanai e perdeu a hora jogando com ele. Bem, só jogando eu não sei, já que está mais que claro que rola um belo clima entre aqueles dois. Mas infelizmente, os dois são tão lerdos que não conseguem assumir nada nunca. O dia que eles começarem a namorar, eu vou desfilar de biquíni pelo corredor da minha sala. E não estou brincando, estou fazendo um juramento. Anota aí:

Shinobu Kocho irá desfilar de biquíni no corredor da sala dela caso Mitsuri e Obanai comecem a namorar.

Sinto que vou me arrepender amargamente por isso.

No portão da faculdade, cumprimento alguns conhecidos enquanto adentro o local. Estou tão distraída com o celular, que não noto uma pessoa na minha frente e bato a cara nas costas do indivíduo.

- Ai! Desculpa. - com o impacto, caio de bunda no chão. O homem que atropelei me olha de cima. Me pergunto se ele não vai estender a mão para me ajudar a levantar. Desisto de esperar ajuda e me levanto emburrada. Ele não está seguindo aquele belo roteiro romântico onde a pessoa derruba a outra e é amigável para mais tarde, nos apaixonamos.

Eu odeio clichês de romance.

- Desculpa. - diz e se afasta, seguindo seu caminho. Reconheço ele depois de um tempo pensando. É o Tomioka, do curso do curso de química. Se não me engano ele está um semestre na minha frente.

Tenho que dizer que ele é bem atraente, mas a personalidade foge do meu interesse. Não que eu tenha interesse em muitos homens, mas ele com certeza não é algo com quem eu me interessaria.

- Oh, Shinobu-chan. - reconheço a voz que se aproxima de mim. - O que faz no chão?

- Eu tropecei em alguém. - Mitsuri estende a mão, me ajudando a levantar. - Obrigada.

- De nada, amiga. - sorri. Noto que ela está um pouco inquieta enquanto andamos pelo campus.

- Há algo que queira me contar? - pergunto normalmente. Paramos para nos sentarmos em um banco.

- Na verdade, sim! Sabe, o Obanai-kun me chamou para ir ao baile de boas vindas com ele. - Está corada ao falar. Deve estar muito feliz com isso.

- Que legal. Espero que se divirta.

- Vou me divertir muito! Esse baile para início do ano letivo é um dos mais legais que se tem. Estou muito ansiosa. E quanto você, Shinobu-chan?

- O que tem eu?

- Irá com alguém ao baile? - congelo no lugar, sem saber o que responder.

Se eu tenho companhia? É claro que não. Ninguém quer ser meu par e eu também não gosto muito de lugares barulhentos, cheios de bebidas e com casais se pegando.

- Nem sei se vou. - encolho os ombros quando ela me lança um olhar de surpresa. - O que foi?

- Você tem que ir!

- Por que eu deveria?

- Porque sim! Shinobu-chan, você é minha melhor amiga, precisa ir comigo.

- Mas você vai ter o Obanai-kun, não precisa de mim.

- Não importa! Você tem que ir! Ou será que você não quer ir por não ter companhia? - dou uma risadinha.

- Claro que não é por isso.

Pelo menos eu acho que não.

- Você não precisa de um par, ou namorado. Vá por conta, irá se divertir.

- Prefiro ficar em casa maratonando minhas séries. - isso não é uma mentira. Assistir séries me parece muito mais legal do que um salão cheio de jovens suados.

- E se você arrumar um namorado para ir com você? Ah, isso é impossível.

- O que? - tenho uma leve irritação. Odeio que duvidem da minha capacidade de fazer algo. - Eu posso conseguir um namorado!

- Desculpe, mas acho isso impossível. Como você vai arrumar um namorado?

- Não sei, mas eu consigo! - digo decidida. - Apenas espere, Mitsuri. Até o final do dia eu estarei com um namorado ao meu lado.

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