[6] Our Lie

308 56 2
                                    

──⊱❦⊰──

Acordei encolhido no terraço, sem ter a mínima ideia de quanto tempo dormi.

O frio me recebeu com suas garras, então saí aos pulos e fui para a sala de prática. Ali pude ver que os garotos já estão ensaiando.

Suspiro para juntar coragem, então largo minhas coisas e tiro o excesso de blusas, faço um alongamento e me preparo para os primeiros passos.

- Onde você estava Han? - Changbin hyung pergunta.

- Ah. Desculpe, eu dormi. Mas eu trouxe as músicas então só precisamos-

- Você comeu alguma coisa? - I.N e Seungmin perguntam ao me estender um copo térmico e um pacote com mini sanduíches. - Coma rápido para continuarmos. - Seungmin diz levando I.N consigo.

Eu não estou com fome, mas me sento no canto da sala a fim de acatar a sugestão. Ao observar o copo reconheço as iniciais de Minho hyung, e com o primeiro gole da bebida percebo que é um chá de jasmin. 

Eles me conhecem bem, crianças adoráveis. Sorrio com o calor se espalhando por meu corpo. E é uma pena que não possa sentir o sabor adocicado do chá, já que minha garganta está estranha, então como alguns dos pãezinhos.

Apesar do pequeno momento agradável, eu estremeço de novo com esses calafrios insistentes. Minha cabeça lateja, parecendo pesar uma tonelada. Eu tusso, então limpo o suor da testa antes de me levantar.

•••

Ei, Chan hyung. Os garotos estão agindo diferente, não acha? 

Gosto de me sentir cuidado, mas acho que não estou dando a eles as reações que eles querem. Eles estão esperando algo de mim e eu não sei o que poderia ser.

Será que ainda estão bravos pelo atraso da nossa nova Mixtape?

Diga-me, com aquele sorriso de covinhas, com aquele sussurro para que só eu escute… Quando você vai voltar, Chan hyung? Quando tudo vai voltar ao normal? 

Quando poderemos fazer músicas juntos e treinar juntos? Quando você vai cessar as lágrimas do Felix… Quando vai deixar que eu te diga…?

Eu acho que o mundo está se partindo. E estou preso nessa armadilha bem no meio dele. 

Esse mundo é falso. Como não poderia ser? Você não está aqui.

Você está aqui. Essa é minha mentira.

•••

- Hyung. - Felix me chamou de novo, pegando a minha mão e me guiando para o centro da sala. - E então?

- Ahn... A música não está completa, desculpe garotos. Vou trabalhar mais nela essa noite. Prometo que amanhã trago ela pronta.

- E sobre se abrir mais com a gente? - Hyunjin diz se aproximando. Ele pousa o punho no meu peito, no que julguei ser um ato inocente antes dele me empurrar. - Vai agir assim até quando? - Sibilou visivelmente irritado.

- Eu já pedi desculpas! E já falei que vou trabalhar mais duro. Por que continuam irritados? O que querem que eu faça??!! - Eu cuspo as palavras empurrando ele também.

Por que estou tão explosivo de repente? Eu o empurro de novo e ele avança, estamos praticamente trocando tapas quando Felix e Minho nos separam.

Eu caminho atordoado, o calor insuportável parece prestes a me rasgar de dentro pra fora. Eu expiro repetidas vezes até voltar a olhar para eles.

- O que vocês querem de mim? - Passo a mão na nuca quando caminho até os espelhos. - O que querem de nós?

Os garotos se entreolharam de novo, daquele jeito suspeito que tem ocorrido nas últimas semanas. Eles descobriram sobre o JYP PD-nim e estão bravos porque não contei?

Eles trocam algumas palavras entre si, então saem. Provavelmente vão ter alguma reuniãozinha emergencial sobre o surtado do Han, vulgo eu, e só restam Changbin e Felix.

- Nós estamos te esperando, hyung. Estamos cansados de nos sentir solitários. - Felix diz e me abraça. Eu fico sem reação até sentir o rosto dele se aninhar em meu pescoço. Faz tempo que não nos abraçamos assim, e é… Bom.

Ele se afasta sorrindo daquele jeitinho ainda tão triste e sai. Changbin hyung me observa em silêncio então pigarreia.

- Dissociação, negação, apagão. - Recita para si mesmo enquanto caminha até chegar ao meu lado. - Você lembra de como testávamos conceitos e palavras novas para compor as letras e seu significado?

- Ah… Lembro? - Digo com as mãos nos bolsos da calça de moletom, completamente confuso. Todos eles endoidaram. É isso.

- Vou te dar três palavras e você vai fazer um rap improvisado como nos velhos tempos. Okay?

- Claro! Mas por que tão…

- Jisung. Só faça. Okay? - Dou um aceno positivo e ele caminha até o estúdio. O sigo e nos sentamos na mesa de Chan, na mesa do 3racha. Nossa mesa.

- Quais as regras? - Pergunto já preparando a batida e pegando um caderno de anotações.

- Você precisa ser sincero.

- Então não sou sincero sempre? Ok, entendi. Hoje é dia de malhar o Hannie. - Reviro os olhos e rabisco a primeira página.

- Mentira, inocência, sorriso. - Changbin recita. - Seus sentimentos mais sinceros sobre isso.

Eu penso na batida e as palavras saem repetidas vezes. Não gosto da sonoridade, e tento de novo. Também fico insatisfeito. Então me lembro de você me dizendo que a música vem do coração. Que é pela música que somos capazes de transmitir o que sentimos.

°°°
A música é a língua do nosso coração, que nos comunica com o mundo.

É refletindo sobre essas três palavrinhas que percebo as verdadeiras mentiras, que eu criei nessas semanas.

Bang Chan, você não vai voltar.

Han Jisung, você não pode voar.

Lee Felix, você não pode me ajudar.

Porque eu estou quebrado. Porque eu fui pego na minha mentira.

Eu cubro a boca quando essa maré se levanta, e aos poucos vou sendo engolido por ela, me encolhendo e me tornando nada mais do que um bebê chorão.

Bang Chan, não vai voltar.

Por favor, devolva o meu sorriso

Felix não pode me ajudar.

Eu não consigo escapar desse sofrimento

Han Jisung, você não pode salvar ninguém.

Eu não consigo escapar desse sofrimento,

Por favor, salve o eu que está sendo punido.

────⊱❦⊰────

Our Story [chansung + jilix]Onde histórias criam vida. Descubra agora