Copacabana francesa

I

Já eram 1:30 da manhã quando o som dos meus dedos sobre as teclas do notebook dominavam minha cozinha. Garry, meu gato de estimação, se encontrava deitado em uma das cadeiras tendo provavelmente seu milésimo sono. Já se faziam horas que eu estava escrevendo minha defesa.

Quando escolhi o curso de Direto na UFMG¹ meu principal objetivo era poder trabalhar por causas legítimas e coerentes, sem me desvirtuar por motivos financeiros - provavelmente o sonho de todos que realmente querem ser advogados. Esse era um dos princípios que eu havia aprendido com minhas duas maiores inspirações, minha mãe e meu pai. Ela é professora quase aposentada de História Literária na UNICAMP², e meu pai é advogado, recentemente aposentado, então ao passar do tempo que fui crescendo e observando o quanto era importante saber nossos direitos e como pode ajudar a diminuir as injustiças, mais tomei amor pela profissão. Quando finalmente consegui a licença da OAB³ pensei que essa ambição estaria um pouco mais próxima de se concretizar ao ser chamada para uma entrevista de emprego na empresa que trabalho atualmente, Marquer sans Couper, uma famosa marca francesa de acessórios para escritório que visa o desenvolvimento de produtos sustentáveis e ecológicos.

Mal havia fechado os olhos, quando o maldito despertador toca me fazendo ter a vontade imensa de quebrá-lo em mil estúpidos pedaços. Abrindo a cortina, pude notar que a cidade já estava bem movimentada, visto que ainda eram 4:00 da manhã.

Uma hora, eu havia dormido apenas uma hora. Isso é desumano.

Já na estação de metrô, pude notar a movimentação e a feição das pessoas.

— Precisamos de mudanças, é disso que o país precisa! Os verdadeiros ladrões estão soltos em Brasília gastando nosso dinheiro, precisamos colocar esses vagabundos na cadeia! — um homem de cabelos cumpridos e cavanhaque gritava enquanto segurava um cartaz. Interessante sua coragem em acordar a essa hora para gritar em um pequeno espaço cheio de pessoas irritadas com empregos estressantes.

— Jésus, Nicolas! Não foi o que pedi, ne pas! — senhor Vaux rosna com um olhar crítico por cima dos óculos, enquanto segurava o relatório — Pedi uma análise completa sobre as nossas últimas três reuniões, aqui só relata uma. C'est tellement dur?