Capítulo 1

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Nicole

Olhava para a mulher, ansiosa com sua resposta. Eu estava mostrando alguns dos desenhos que amava fazer, e se ela aceitasse qualquer um deles já me ajudaria muito. Seus olhos castanhos focaram dentro dos meus, e só com aquele olhar eu já sabia que não viria coisa boa.

— Não estamos interessados no momento. — A tal Verônica foi até educada em sua resposta.

— Obrigada — respondi a única coisa indicada para aquele momento.

O que poderia fazer? Obrigar a mulher a comprar alguns dos meus desenhos? Implorar por misericórdia? Não faria nada daquilo. Peguei minhas coisas e saí da galeria sentindo um aperto em minha garganta, era devido ao choro que estava segurando. Essa foi mais uma das minhas tentativas frustradas de arranjar algum dinheiro sem ter que vender algum móvel da casa.

Já que a televisão tinha ido embora para pagar alguns boletos, e o próximo passo seria o micro-ondas. O celular eu não cogitava, pois era o único meio que tinha de receber alguma ligação para uma entrevista. E o notebook que já fazia parte da minha vida há seis anos, era onde eu tentava colocar minhas artes para vender na internet. Naqueles sites que não precisava pagar a parte premium, e minha vizinha, única amiga Amanda, me emprestava a wifi para que eu pudesse ao menos mexer nas redes sociais. Eu era filha de Deus, tinha o direito de perder várias horas mexendo naquilo que não me trazia nada de bom.

Respirei fundo, enquanto o vento frio batia em meu corpo, e segui caminhando até chegar ao meu bairro, pois nem o luxo de pegar um ônibus eu estava podendo ter. Já que possuir somente quatorze reais e quarenta e cinco centavos para passar o resto do mês, não era muita coisa, e eu precisava comprar algo para comer.

E olha que estava tentando arrumar um emprego, fora vender minha arte, eu já havia participado de dez entrevistas, e ainda estava no meio do mês. Qual era o problema? A falta de experiência? Talvez! Ou por eu ter me formado em Artes Visuais em um país onde essa profissão era considerada quase um nada. E até a cultura era jogada para escanteio. Ou podia ser também, que era péssima lecionando, e toda vez que participava de testes para alguma escola eu gaguejava, suava, e esquecia o que tinha que falar.

Devia ter ouvido minha mãe que sempre dizia que eu estava jogando meu tempo fora. Mas ela também dizia que devíamos fazer o que amávamos, e o que eu amava? Desenhar! Isso era minha vida, fazer vários desenhos, principalmente de fisionomias. Sentia meu mundo entrar em uma órbita diferente quando estava com um papel e um lápis nas mãos.

Então jurei que desenhando eu chegaria longe. Até que fui vender minha arte nas pracinhas do meu bairro – bem de humanas –, pois ainda tinha um leve medo de ir para as praças mais movimentadas de São Paulo. E eu descobri da pior forma que fazer as coisas por amor não enchia barriga.

Para piorar tudo, mamãe havia falecido há quatro meses, vítima de um assalto que acabou dando errado, o ladrão ficou com medo quando viu o carro da polícia e disparou a arma. Dona Júlia tinha passado todos os seus pertences a ele, mas mesmo assim... e o dinheiro que ganhava do hospital que trabalhava – já que ela era enfermeira – parou de entrar.

Agora eu era uma mulher de vinte e um anos, recém-formada, desempregada, ainda de luto pela mãe, sem um pai – que nos abandonou quando eu era pequena. E tentava levar tudo sorrindo. Já que sorrir era importante, fazia a vida ter menos cores cinza e mais amarelas, cor de rosa e azul – digamos que eram minhas cores preferidas.

Cheguei ao meu prédio, que graças a Deus o apartamento estava quitado, mas não diria nada sobre a água e a luz que estavam atrasadas. Quando fui começar a subir as escadas para o meu apartamento ouvi me chamarem:

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