Capítulo 2

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Roberto

Ela sorria, quando afastava a boca do bico da mamadeira, enquanto eu a encarava. Seus olhos tão iguais aos meus me fitavam parecendo que eu era a pessoa mais importante em sua vida, talvez eu fosse mesmo. Sua mão gorducha passava por meu rosto e com certeza os fios da minha barba machucavam sua pele, mas parecia não importar.

A garotinha só queria chamar atenção, ao mesmo tempo que eu tentava fazer minha parte de pai do dia. Eduarda parecia ter um reloginho, sempre às quatro da manhã ela acordava, tomava sua mamadeira e voltava a dormir, mas hoje estava nítido que o seu sono havia passado.

A babá entrou no quarto da minha filha e tomou um leve susto, provavelmente comigo, por estar cuidando da minha pequena. Mas o que eu poderia fazer? Eu pagava a mulher para tomar conta dela, e já havia uns cinco minutos que minha bebê estava chorando, e a tal Manoela não havia aparecido para cuidar da minha pequena. Acordei com seu choro e vim ver o que estava acontecendo.

Ela só queria um colo, e já tinha tantos dias que eu não fazia isso – já que chegava do trabalho e ela estava dormindo, e quando saía ela ainda estava dormindo – que achei por bem tomá-la em meus braços. Amava minha filha, era extremamente protetor a seu respeito, em um nível exagerado. Já havia demitido seis babás, essa era a sétima e minha bebê estava apenas com um ano e cinco meses.

Quando fitei Manoela, ela sabia que já tinha perdido seu emprego. Primeiro que a mulher já estava na minha lista vermelha, pois eu soube que levou Eduarda para o gramado e colocou minha filha no chão. Seria algo normal a se fazer, se esta casa não tivesse ordens diretas para o cuidado com a minha neném. Desde que perdi Camila, fiquei um pouco possessivo, e agora tudo que achasse que poderia fazer minha filha adoecer era um motivo para que eu derrubasse minha fúria para cima das cuidadoras. Não podia perder mais ninguém que amava, então, minhas regras deveriam ser cumpridas.

E para piorar a situação da babá, Eduarda tinha sido deixada de lado e se eu não tivesse aparecido no seu quarto, tinha continuado chorando por aproximadamente vinte minutos. Era inaceitável minha filha ter sido esquecida.

Eduarda continuou me olhando, e mal sussurrou os poucos sons que fazia, e eu levei novamente a mamadeira a sua boca, ela sugou o bico do objeto com vontade tomando o leite que tanto amava. Parecia uma pequena bezerrinha. Sorri levemente com meu pensamento.

— Senhor Martini, posso ajudar? — Manoela questionou.

— Pode voltar para o seu quarto, eu cuido de Eduarda. Assim que amanhecer pode conversar com Ivone para acertar sua demissão com ela — respondi, calmamente.

Comigo as coisas eram assim, eu ordenava sem fazer alarde, falava em um tom ameno, como se estivesse conversando com Eduarda. Só gritava em último caso, e se isso acontecesse poderia saber que eu havia passado do meu nível nervoso, para o puto da vida.

— Senhor, desculpe-me, não ouvi a babá eletrônica. Eu...

— Por favor, saía — ordenei sem olhar para a mulher.

Ouvi uma pequena fungada, mas não importei. Sinceramente, mulheres chorando era um ponto fraco para mim, só que se me escutassem, se soubessem seguir regras não teríamos que entrar nesse empecilho. Então agora que aguentasse as consequências. Eu não era abusivo nem nada, pedia com todo cuidado para lerem o contrato de trabalho que continham cláusulas enormes "NÃO COLOCAR EDUARDA EM LUGARES QUE PODEM FAZER COM QUE ELA PEGUE RESFRIADO", "NÃO DEIXAR EDUARDA CHORAR DESNECESSARIAMENTE", "CUIDAR COMO SE FOSSE SUA PRÓPRIA FILHA".

Sinceramente ou não sabiam ler, ou só pensavam que as regras estavam lá para serem quebradas. Saí dos meus devaneios observando minha filha que já havia caído em um sono completamente profundo. Passei uma de minhas mãos por seu cabelo admirando sua beleza, e eu que pensei que ela não iria dormir mais.

Uma Babá em Apuros - DEGUSTAÇÃO - LIVRO COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora