Capítulo 1

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Um mês antes...
Havia acabado de chegar da faculdade. Encontrei meu pai trabalhando sentado à mesa dele, que ficava em um cômodo próximo à sala de frente para a escada que levava para o segundo andar da casa. Meu pai é empresário e trabalha muito.
-Cheguei família! –Gritei. Apesar deu ser escandalosa, meus pais não curtem muito esse meu lado. Aproximo-me do escritório dele.
-Para de gritar, minha filha. Não está vendo que estou trabalhando?! –Meu pai é meio resmungão mesmo.
-Ah, pai, desculpa. É que estou feliz. –Digo sorrindo. - Nada pode acabar com a minha felicidade- Rio um pouco baixo. Meu pai riu junto comigo. Eu gosto quando ele sorri. Ele passa tanto tempo pensando no trabalho, que às vezes, eu acho que ele se esquece de se divertir.
-Bom, eu vou subir para tomar um banho. Pai, onde está a mãe? –Pergunto franzindo um pouco a testa.
-Ela está presa em uma reunião. –Comentou enquanto voltava a mexer no computador e a digitar no mesmo.
Bom, já era de se esperar. Depois da perda do meu irmão minha mãe começou a evitar ficar em casa, vivia no trabalho. Faltava só dormir lá de uma vez.
Meu irmão sofreu um acidente de carro e acabou não resistindo ao ferimentos. Foi um acidente, mas eu tenho a plena certeza que minha mãe culpa o meu pai por causa disso. No dia do acidente meu pai e meu irmão tiveram uma discussão muito séria. Bom, eu acho que era, ninguém quis me contar nada. Minha família não me conta nada! Tratam-me como se eu fosse criança, e olha que eu tenho 25 anos na cara! Mas isso aconteceu há três meses. Não gosto de ficar lembrando isso.
Chego ao meu quarto e me jogo na casa. Estava doida para contar as novidades para Melany, minha melhor amiga. Acho que vou ligar para ela. É impressionante como as coisas boas acontecem quando ela não vai a faculdade. Ela fica irada com isso.
-Alô. - Finalmente ela atende depois de chamar algumas vezes.
-Amiga! Nem te conto o que aconteceu hoje! –Digo com certa empolgação.
-Sério?! Sabia que tinha acontecido alguma coisa. Sempre que falto isso acontece. –Suspira de frustração.
Sabia que ela ia dizer isso.
-Bom, sabe o Ethan? O meu nerd fofo? –Digo ansiosa. Bom, não exatamente meu. Eu tenho uma quedinha por ele desde o primeiro período, mas ele nunca me deu bola e nem conversou comigo, até hoje.
-Seu?- Indaga com deboche.
-Você entendeu, doida.-Reviro os olhos, apesar de saber que ela não veria isso.- Então, ele falou comigo hoje.
-Serio?! Conta-me tudo e não me escondas nada. –Diz animada.
-Bom, não tem muita coisa para falar. Ele só disse “oi” e perguntou se a minha mãe estaria em casa hoje. Confesso que achei estranho, mas como ele estava falando comigo, eu não liguei.
-Sério que ele falou contigo para perguntar sobre a sua mãe?! –Ela pareceu estranhar. Até eu estranhei, mas estava tão feliz que ele havia falado comigo que nem me importei com isso.
-É... –Digo e dou uma breve pausa. –Ah, ele também perguntou se eu chegaria em casa cedo. Claro que para parecer que eu era uma mulher ocupada eu falei que iria para uma festa depois da faculdade. Ele falou “ta bom” e foi sentar no lugar dele.
-Podia ter o chamado para a festa né... –Quando eu ia responder, ouvi um barulho alto vindo do andar debaixo.
-Espera um minuto, Melany. Esta acontecendo alguma coisa lá embaixo. Não desliga...
Larguei o celular na cama e fui ver o que estava acontecendo. Cheguei à escada e vi a mesa da sala toda quebrada havia muito sangue no chão. Me assustei, baixei um pouco o tronco e desci mais três degraus para conseguir ver alguma coisa.
Vi meu pai sentado no chão ensanguentado. Seu rosto estava inchando, por conta da agressão, e havia alguns cortes no mesmo.  Uma pessoa encapuzada estava diante dele, apontando uma arma para o meu pai. Eu travei, não sabia o que fazer. Estava pensando em subir para ligar para a polícia, mas meu pai falou algo que me chamou a atenção:
-Por favor! Eu não o matei. Você tem que acreditar em mim. –Implora com a voz embargada e rouca.
-Então quem foi? –Pela voz, era um homem.
-Eu não sei, mas eu juro que não fui eu. –Meu pai insistiu.
-Me desculpa, mas eu não acredito em juramento. –E então ele dispara. Só vejo a cabeça do meu pai abrir, espirrar sangue em volta e ele cair morto no chão. Uma cena que eu nunca vou esquecer.
-Não! –Grito. Foi mais forte que eu. Ver meu pai ser morto na minha frente. É minha culpa! Se eu tivesse subido na mesma hora ele ainda poderia estar vivo... Não é?
O assassino olhou para mim assustado, arregalou os olhos quando me viu. Apontou a arma para mim. A mesma que apontou para meu pai, a mesma em que ele tirou a vida do meu pai! Mas para o meu alívio a polícia chegou na hora. Ele olhou para a janela, onde dava a visão para a rua, a luz azul e vermelha do carro entrava pela mesma. Ele voltou o seu olhar para mim, os olhos cheios de raiva. Antes que a polícia entrasse na casa ele correu para a porta dos fundos, onde fugiu.
Aqueles olhos.
Nunca esquecerei daqueles olhos.

Dias atuais....
Hoje faz um mês que meu pai foi assassinado.  E hoje, exatamente hoje, encontraram o assassino do meu pai. Bem, foi isso que o policial Mitchell me disse ao telefone pela manhã.
-Alô.- Atendi ao telefone, bem sonolenta. Havia acabado de acordar.
-Senhorita Kathelen. Bom dia. Sou o policial que está encarregado pelo caso do seu pai. -Uma voz rouca e bem atraente me despertou completamente.
-Sim! Pode falar. –Digo com certo entusiasmo e ansiedade.
-Como eu não consegui entrar em contato com sua mãe, peço para que a senhorita compareça a delegacia hoje. Conseguimos prender quem matou o seu pai.
Demorei um pouco para assimilar o que ele estava dizendo. Como assim?! Depois de um mês?! Esses casos demoram uma eternidade para serem solucionados, e o do meu pai demorou apenas um mês?!
Percebi o policial chamando a minha atenção por não tê-lo respondido.
-É claro! Apareço ai sim. -Desligo. Tentei ligar para minha mãe, mas o celular dela só dava ocupado, como sempre. Desde a morte do meu pai minha mãe não atende mais o celular. Ela não para em casa e está dormido em hotéis. Tecnicamente, eu não tenho mais mãe. Ela vive com medo. Como se ela fosse a próxima da família a morrer, ou que conseguisse descobrir algo sobre ela que ninguém sabe.
Levanto-me da cama e vou direto para o banheiro tomar um banho. Durante a ducha eu só conseguia pensar em uma coisa: Será que eu vou me deparar com aqueles olhos de novo? Os olhos que tem me rendido vários pesadelos? Os olhos do assassino de meu pai? Bom, ficar pensando não vai me adiantar de nada. Tenho que ir a delegacia vê-lo com os meus próprios olhos. O homem que tirou a vida do meu pai.
Procuro um vestido básico em meu guarda roupa, e assim que acho mando mensagem para Melany, para que ela fosse comigo até a delegacia. Não queria encarar aquele monstro sozinha de novo. Dois minutos depois ela me responde “Claro, amiga. Dentro de 5 minutos eu chego aí.” Essa é a vantagem da sua melhor amiga, morar duas casas depois da sua.
Já na rua Melany começa a falar. A delegacia ficava no mesmo quarteirão então optamos por ir a pé.
-Ai Kat, tem certeza que é uma boa ideia você ir à delegacia? –Pergunta em um tom preocupado. -Vai que alguém está te seguindo para te sequestrar em troca da soltura do assassino?!
Arregalei os olhos parando para pensar nisso, o quão perigoso pode ser. Ela tem razão. Mas eu não posso pensar nisso, não agora.
-Mel, eu não posso pensar assim. Eu tenho que saber quem matou o meu pai, e o porquê fez isso. -Eu realmente precisava achar o assassino, conversar com ele. Acho que ele sabe mais da minha família do que eu mesma.
Enquanto a Melany estava se preparando para falar mais alguma coisa, peguei o meu celular para avisar ao Policial Mitchell que já havíamos chegado na porta da delegacia. Eu não ia entrar lá sozinha mesmo.
Não esperamos nem dois minutos e a porta da delegacia foi aberta. Entre ela estava o policial mais jovem e mais gato que eu já tenha visto. Meu Deus! Era tanta beleza que eu confundiria ele facilmente com um deus grego. Fiquei de boca aberta e olhei para Melany que estava, literalmente, babando.
-Bom dia, senhorita Kathelen não é?! Poderia me acompanhar? -Meu Deus. Essa voz rouca e ao mesmo tento aveludada. Uma voz que te hipnotiza.
-Claro. Minha amiga poderia ir comigo? -Apontei para a Mel que, não sei da onde ela tirou, um pirulito! Estava com ele na boca pronta para seduzir o policial.
-Claro.
Seguimos o policial Mitchell por alguns corredores com várias portas e salas de interrogatório diferentes. Aquela delegacia parecia um labirinto, me perderia facilmente ali dentro. Entramos numa sala que continha apenas duas cadeiras e em frente a elas uma parede com um vidro que ia de um canto a outro da mesma. O policial parou diante dela.
-Eu quero que vocês permaneçam calmas. Ele não estará vendo vocês, mas vocês poderão ver ele. Então fiquem tranquilas.
-Com você ao meu lado eu não temo nada, meu policial... -Dei uma pisada no pé da Mel. Que sem noção! Ainda bem que ele não ouviu, ou fingiu não ouvir.
Ele ligou a luz da sala e lá estava ele, o suposto assassino. Me aproximei do vidro para tentar vê-lo mais de perto e me assustei um pouco quando ele virou o rosto para o vidro. Consegui ficar de frente com ele, com o assassino, mas tinha algo errado. Cadê os olhos castanhos arregalados? Cadê o brilho assustador daqueles olhos? Não. Não era ele. Não era o assassino, prenderam a pessoa errada.
-Policial, quem é esse homem? –Franzi a testa, estava na dúvida. Vai que ele me trouxe para a pessoa errada.
-Senhorita, esse é o assassino do seu pai. Ele foi pego com a arma do crime e achamos o sapato que ele usou no dia do assassinato. -Tadinho, ele achava mesmo que esse era o cara.
-Desculpa, Mitchell. Mas não é ele o assassino de meu pai.

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