Querido diário,
eu acordei no dia seguinte sentindo aquela sensação estranha de ter alguém me observando. Ok, dramático, mas era exatamente isso. A queimação na pele, a desconfiança, o tremor. Quando abri os olhos, dei de cara com Jooyoung no batente. Ele me olhava como se esperasse algo.
— Meus tênis já estão socados no guarda-roupa, nada para jogar aqui. — Resmunguei, sentando-me na cama.
O vi rolar os olhos, aproximando-se de mim como um furacão. Quando menos percebi ele estava sentado ao meu lado, ainda com aquele mesmo ar cheio de expectativa. Eu não sabia o que aquele doido queria, já tinha entregado seu dinheiro e certamente não tínhamos muito em comum para ele aparecer no meu quarto com poucas palavras — ou no caso dele, palavra nenhuma. Mas tudo bem, minha fraternidade era cheia de gente louca mesmo, eu conseguia lidar com mais um surtado abrindo minha porta e esperando algo de mim. Só preferia que fosse um surtado que não parecia com um Jooyoung que não dormia há dois dias e fedia a cigarro, mas, é, não havia muita escolha.
— Me fala logo, porra, você e o Jaebum! — ele me deu um tapa no braço como se o que esperava fosse óbvio. — Não tenho todo o tempo do mundo não.
Então as coisas clicaram na cabeça, me fazendo rapidamente devolver o tapa.
— Por que você não me disse que ele era seu cliente favorito? Quase morri do coração quando Jaebum apareceu na porta!
Jooyoung sorriu maroto, como se tivesse organizado o maior plano dos planos.
— As pessoas que me ajudam sempre são abençoadas de alguma forma, jovem Youngjae. Sua benção foi Im Jaebum, espero que tenha agradecido por ela de joelhos.
Eu engasguei, sentindo a vergonha me subir o rosto. Jooyoung soltou um risinho safado.
— Nada disso, seu pervertido. — cortei sua graça, vendo-o fechar a cara. — A gente só conversou. Aliás, você falou de mim para ele?
— Não. — cruzou os braços. — Por quê? Jaebum sabe seu nome, é? Será que ele andou perguntando por você também...
Eu bem que queria acreditar que, sim, o calouro mais lindo do universo estava perguntando sobre mim por aí, mas isso era impossível. Primeiro porque ninguém realmente me conhecia fora do bloco de música, artes e afins, o que tornaria seu grupo de pesquisa, o pessoal de exatas, extremamente inútil. E, claro, ele poderia ter cruzado o campus e perguntado de mim aqui, mas era trabalho demais para se fazer por conta de alguém como eu, não realmente muito surpreendente. Se eu fosse lindo de morrer, perfeito, rico e oferecesse dinheiro por um bom-dia, até entenderia, mas como esse não era o caso, não fazia muito sentido. E segundo que, apesar de eu ver determinação nele, duvidava que iria encontrar algo de mim por aí para agir com tanta confiança sobre minha pessoa.
As pessoas até sabiam quem eu era dentro desse grupinho de artistas, mas nada muito fora meu nome e idade, talvez até o curso. Eu sempre fui reservado e introvertido, e apesar de ser bem alegre pelas manhãs, não era muito do meu feitio trocar papo, era apenas sorrisinhos e cumprimentos, nada mais nada menos. As pessoas até gostavam de mim, muitos elogiavam minha forma agitada e simpática, só que nunca passou disso. As únicas pessoas que realmente me conhecem de verdade são Mark e Yugyeom, dois patetas que certamente teriam me dito se Im Jaebum tivesse ido falar com eles sobre a minha pessoa. Como não recebi nada dos dois, acreditava que ele tinha descoberto por acaso.
— Nah, Jaebum tem cara de ser bonito demais para se preocupar em saber nomes. — Dei de ombros, voltando a me deitar, mas Jooyoung não ia deixar barato.
— Nada disso! — me virou. — Você tem o número dele, poxa. Hora de investir.
— Eu pensei melhor sobre isso do número, — levantei o dedo indicador para reforçar que tinha um ponto. — e concluí que nunca vou usá-lo.
Jooyoung bufou, levantando-se.
— Escuta, Youngjae, se você não vai até a montanha, a montanha vem a você! — Saiu pisando duro, batendo a porta.
Eu disse, diário, as pessoas da minha fraternidade são meio surtadas. Mas tudo bem, pelo menos eu pude voltar a dormir. Ou foi o que eu pensei, porque em menos de trinta minutos alguém voltou a abrir a porta e eu estava pensando seriamente em colocar uma tranca nela mesmo que fosse contra as regras da fraternidade. Me virei pronto para lançar todos os xingamentos que aprendi em meus vinte e seis anos de vida, mas encontrei o convencido do Jooyoung praticamente empurrando Jaebum para dentro. Aí eu surtei porque 1) eu tinha um ninho de passarinhos na cabeça e o rosto inchado, 2) não tinha escovado os dentes e estava prestes a falar com o amor da minha vida e 3) Jaebum estava perfeitamente vestido como um anjo.
— Ele não se parece com uma montanha. — Murmurei, tentando a piada para esconder minha vergonha.
— Mas é tão pesado quanto uma. — Jooyoung o deu um último empurrão, cruzando os braços. — Vamos brincar de sete minutos do céu no seu quarto. Vocês dois começam. — Disse de forma birrenta, correndo até a porta, fechando-a com força.
Jaebum me olhou extremamente confuso, eu apenas suspirei.
— Olha, a porta não tem tranca. Se você correr, foge dele rapidinho.
Mas o Im apenas me sorriu de lado, daquele jeito fofinho, e deu de ombros.
— Eu aguento sete minutos, mesmo que esse seja literalmente quase todo o tempo que eu tenha disponível para gastar aqui. E além do mais, você aguentou mais que isso por mim ontem. — aproximou-se da cama, sentando aos meus pés. Ele varreu o quarto com o olhar. — A fraternidade de vocês é legal.
— É, um pouco. — assenti, pensando em uma forma de simplesmente não parecer um idiota na frente dele. — Você é daquela fraternidade mais afastada, não é?
— Sim, a Lobos. — ele me lembrou o nome dela, cruzando as pernas. — Mas é bem pequena, a gente geralmente não se mistura muito com vocês.
— Você fala como se a gente fosse super importante ou sei lá. — Ri, sem graça.
Jaebum sorriu, fofo e doce, extremamente adorável aos meus olhos. Eu não entendia como alguém de aparência tão elegante como ele conseguia mudar de expressão tão rapidamente apenas sorrindo, deixando os olhinhos pequenos e as bochechas mais saltadas, entretanto não estava reclamando de forma alguma de sua dualidade. Achava até interessante, na realidade, a forma que ela provavelmente confundia as pessoas por aí. Dele eu já tinha ouvido tudo; que era frio e que era um jovem adulto cativante. Talvez apenas alguns merecessem seus sorrisos, deixando para o restante aquela expressão quase superior que ele facilmente sustentava ao manter-se neutro.
— Mas todo mundo conhece vocês, Youngjae hyung. — lá estava ele novamente com esse hyung. Maldito, eu queria mordê-lo inteirinho. — Até mesmo calouros como eu. — Jaebum brincou.
— Aposto que falam super mal de mim. — Resmunguei, incerto.
— Só ouvi coisas boas. — deu de ombros. — E falando agora com você posso confirmar que muitas delas são verdade.
— Como por exemplo? — Arrisquei perguntar, vendo-o se aproximar ligeiramente.
— Todo mundo fala como você tem um sorrisão muito bonito, e isso é verdade. — sorriu, me deixando sem jeito. — Também vivem comentando sobre sua simpatia, algo admirável. E...
— Pronto, morreram? — Jooyoung entrou, interrompendo Jaebum. — Não, não morreram. Ótimo.
Dessa vez fui eu que quase joguei meus tênis, mas não dentro do guarda-roupa e sim nele.
— É melhor eu ir mesmo. — Jaebum se levantou, sorrindo educado. — Até mais, Youngjae hyung, Jooyoung hyung. — Despediu-se, acenando um pouco envergonhado antes de sair.
Jooyoung se virou para mim cheio de esperanças que eu fiz questão de cortar com um dedo no meio.
— Você atrapalhou!
— Ai, credo. Eu tentei. — Ele resmungou.
E apesar de não ter dado exatamente certo naquele dia, diário, esse encontro estranho entre mim e Jaebum fez muito por nós dois.
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Querido Diário
FanficÉ o século XXI, mas Youngjae ainda usa diários por achá-los mais confiáveis que as notas do seu celular. Naquele diário em especifico, ele narrou o primeiro encontro com Im Jaebum, o calouro que estava lhe roubando suspiros diariamente.