— Ela dormiu?
— Sim, Toby. Dormiu. — respondeu Paige, deixando o banco ao lado da adolescente.
Aproximou-se do resto da equipe no jato particular alugado pelo governo. Segundo Tobias, uma maneira de tentarem amenizar os danos feitos à equipe. Não estava funcionando, ainda estavam sim irritados com os agentes. De qualquer forma, alívio era um dos sentimentos predominantes no grupo. Isto e preocupação.
— Eles disseram se vão fazer algo com a garota? — perguntou Happy, observando Cabe, que havia desligado o celular instantes antes.
— A Superintendente disse que vão deixar a menina sob os cuidados de agentes federais até o final do caso. Ainda não escolheram ninguém. Depois vão atrás de familiares, se não acharem ninguém, irão emancipá-la aos 16.
— Não vai funcionar.
A declaração do Dr. Curtis chamou a atenção, além do tom quase soturno em sua voz. A situação havia o afetado de alguma forma.
— Ela tem aversão a figuras de autoridade que podem representar violência. Não se aproximou de Cabe, Tim e Walter no caminho todo até o avião. — explicou ao vê-los confusos, apenas confundindo mais seus colegas ao citar Walter na lista.
— Pelo o que ela é capaz de fazer, eu não represento ameaça alguma. — apontou o líder da Scorpion, sendo rapidamente respondido por Toby.
— Você é ríspido, direto, o que não me leve a mal, a gente já aprendeu a lidar, mas a garota não te conhece. Dá um tempo pra ela. — concluiu, aproximando-se do agente Galo — Eles irão assustar Etta.
— Não acho que eles têm escolha, Toby. — pronunciou-se Tim, a expressão mais séria do que o comum — Etta será perseguida, assim que eles se reorganizarem. Ela precisa ser protegida.
— Isso não vai funcionar se ela fugir. — interviu Happy, causando certa surpresa nos demais — Sei como é.
Logo a mulher estava em sua clássica expressão impassível, fazendo com que a atenção saísse de si tão rápido quanto chegou. Paige, aparentando estar inquieta, permaneceu em silêncio, os olhos percorrendo o espaço, enquanto uma das mãos brincava com seus lábios. Walter não pode deixar de observá-la, contendo um sorriso quase natural. Toby também enxergou a interação, porém, preferiu focar nos sinais dados pela loira.
— Fala, Paige.
Um pouco assustada, deixou seus devaneios, virando-se para o homem de chapéu.
— E se ela ficar com a gente?
— Nós, protegendo uma garota procurada por uma organização criminosa? — rebateu Sly, pelo comunicador que sabiamente fizeram Etta retirar antes dela descansar — Você só pode estar louca!
— A proteção que ela precisa é de amor, cuidado, respeito. Vocês viram como ela luta, é só colocarem uns federais de olho o tempo todo. — argumentou a Dineen, olhando rapidamente para a adolescente adormecida — Ela é só uma criança.
Aquilo fizera a equipe se calar por alguns instantes, algo raro de se acontecer.
— Com quem ela ficaria? — questionou Walter, buscando ser mais objetivo — E como os federais aceitariam uma coisa dessa?
Tobias encarou Happy, calmamente, como se perguntasse sua opinião. Permaneceram a se encarar por alguns instantes, até a mulher assentir, fazendo-o sorrir suavemente.
— Nós vamos. Acho que ela vai se sentir à vontade lá em casa. E sem ofensas, Paige, mas você tem o Ralph. Não podemos esquecer que isso tudo ainda pode causar alguns problemas.
A loira assentiu, sendo abraçada de lado por Timothy. Walter desviou o olhar, encontrando os olhos verdes e compreensivos de Cabe. Detestava ser digno de pena, de qualquer pena. Esta parecia ser muito mais dolorosa.
O resto da viagem foi mais tranquila, já que a equipe decidiu descansar em suas realidades próprias. Agente Gallo fora o único ocupado, em uma extensa ligação com a Superintendente. Podia não entender de psicologia como Toby, mas a experiência com aqueles gênios já tinha lhe ensinado a confiar nas suas análises na maioria das vezes.
Assim que aterrissaram, a adolescente acordou com a pressão da descida. Ao seu lado estava Paige, os olhos marejados e um sorriso suave demais para demonstrar felicidade.
— Tudo bem, Etta?
— Você não parece bem. — afirmou a menina, um pouco desconfiada — Aconteceu alguma coisa?
Olhou em volta, porém apenas Tobias e a mulher asiática, que lembrava se chamar Happy, ainda estavam na aeronave. Nenhum deles sorria, ainda que o homem aparentasse estar mais sereno do que as outras. Encarava-lhe com a mesma ternura anterior, o que lhe deixou alerta. Por que precisaria a tranquilizar?
— Nós pretendíamos te convidar para morar conosco, porém, a organização dos agentes que você viu lá na Grécia achou melhor você ficar com eles. Pra te manterem em segurança.
Durante a fala, Toby se aproximou e sentou em frente à adolescente embasbacada. Não a pressionou, esperando pacientemente que a informação fosse entendida. Nenhuma das outras duas ousou fazer diferente.
— Eles são iguais aos outros. — sussurrou, engolindo seco o pavor que caía sobre ela.
— Querida, eles não vão te machucar. — disse a loura, segurando uma das mãos da menina — Eu queria que fosse diferente. Todos queríamos. Mas saiba que estaremos aqui.
— Você não os conhece.
— Eu sei. E eu queria que fosse diferente, Etta. Mas eles não querem o seu mal. — interviu o gênio, respirando fundo ao ver os olhos arregalados da menina.
— Garota. — aproximou-se Happy, estendendo um pequeno papel rasgado — O endereço da Scorpion. Meu endereço e do Toby tá atrás. Se você precisar de um lugar, sabe onde aparecer.
Etta segurou, escondendo em um de seus bolsos, sorrindo levemente para a mulher, que se afastou novamente. Toby olhou rapidamente com suavidade para sua amada, que sorriu sem os dentes antes de olhar para o lado de fora, onde o resto da equipe os esperava.
— Mas antes de ir embora, eu vou cumprir a nossa promessa. Aqui no aeroporto mesmo, não deixaram a gente sair. — concluiu Toby, em um tom falsamente animado.
Etta lhe encarou por alguns segundos, dando-lhe um triste sorriso. Ela sabia o que se passava na mente dele, apenas preferiu não dizer. Então a menina se levantou, assentindo para os adultos presentes. Saíram os três em silêncio, reunindo-se com o resto da equipe. Quatro agentes estavam do lado de fora, e os escoltaram para uma pequena sala conectada à seção de desembarque.
Assim que a porta foi aberta, Etta arregalou os olhos ao ver alguns balões desconexos, vários potes de sorvete e duas pessoas, um homem alto e uma criança de cabelos castanhos e olhos claros.
— Surpresa! — disseram ambos, o rapazinho com um sorriso tímido.
— Esse é o meu filho, Ralph. E o Sly você já ouviu no comunicador. — apresentou Dineen, acariciando os ombros da menina antes de ir dar um abraço em seu menino.
Todos entraram, menos os agentes. A garota permaneceu de pé, um pouco distante, encarando todos sem saber o que fazer. Toby, percebendo seus sinais de confusão, chamou-a com os dedos.
— Prefere começar por chocolate com menta ou cookies & cream? — perguntou, fazendo a menina sorrir.
Ela se sentou ao lado dele, com um leve sorriso no rosto. Naquele momento, estava apenas fazendo amizades com pessoas amigáveis. Queria acreditar em uma realidade onde permaneceria com eles, conheceria pessoas da sua idade, teria uma vida normal. Apenas por algumas horas. Pelo menos algumas horas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cobaia 37
ActionEtta não sabia de nada sobre sua vida que não estivesse nos laboratórios do Sr. V. Desde a barriga, a adolescente havia sido geneticamente modificada para que servisse aos propósitos da corporação. Já havia tentado escapar; sem sucesso. Até que um h...