Cobaia 37

Capítulo IV

— Hey, adivinha quem mandou notícias? — disse Paige, assim que saiu de uma ligação.

— Quem? — perguntou Happy, sem tirar os olhos de um de seus projetos.

— Etta. — anunciou, assistindo toda a equipe se voltar para ela.

Toby foi quem se aproximou, ainda que todos houvessem se virado. Faziam dois meses desde a primeira vez que viram a adolescente e também já haviam tentado contato algumas vezes. Segundo os agentes, Etta precisava de um momento de reclusão para consultas médicas e psicológicas. Ainda que o doutor em Psicologia da equipe tivesse se oferecido para tal tarefa, alegaram que estava conectado demais com o caso para ter uma opinião precisa. Tobias ainda não tinha superado tamanha ofensa.

— Ei, pessoal!
Reconheço, esse contato importante semanas, ou dizendo enfaticamente, atrasado. Jamais uni-me desta aberta maneira, sem ouvir carinho ou respeito retribuído outrora, trancada ou bestializada.

Vocês me fizeram sentir segura e me trouxeram ao meu país de origem. Muito obrigada, toda família Scorpion. Estou bem, sempre podem contar comigo. Até! — leu a loira, sorrindo levemente em seguida.

— Seria bom se ela pudesse ver a gente. — disse Cabe, segurando uma xícara de café, Toby apenas assentiu.

— Paige, conecta seu computador na tela central. — ouviram ao longe a voz de Walter, descendo as escadas com certa pressa.

O olhar dos dois se cruzaram, Paige conhecia Walter o suficiente para saber quando ele estava desconfiado. Na verdade, parecia mais do que desconfiado. Ele estava preocupado. Fez o que lhe foi pedido, e Walter começou a sinalizar algo nas palavras escritas por Etta. Todos se aproximaram, notando a agitação do líder da equipe.

— Desembucha, Walt. — perguntou Happy, sem resposta por alguns instantes.

— Etta precisa da nossa ajuda. — afirmou, afastando-se da tela.

Marcadas por círculos irregulares, estavam as primeiras letras da primeira parte da mensagem da jovem. Juntas, elas formavam uma mensagem clara demais para ser uma coincidência, ainda mais com a escolha de palavras dela.

“Preciso de ajuda. Socorro, Tob.”

— Nada bom. — murmurou Happy, mais soturna que o habitual.

— Quem enviou o e-mail, Paige? — questionou Walter, fazendo com que a loira voltasse para sua mesa.

— anthonychapman@ciaintelligencia.usa.gov — respondeu a mulher, Sly do outro lado passando a digitar. — Ele disse que está encarregado do caso dela.

— Esse é o cara! — anunciou, mandando a imagem para a mesma tela anterior.

Um homem branco, de cabelos castanhos curtos e olhos verdes, apareceu em um uniforme cerimonial. Tinha um rosto quadrado de feições marcantes, assim como a bastante força.

— Ele tem um histórico impecável. — murmurou Silvester, porém, antes de continuar, foi interrompido por Timothy.

— Ah, droga.

Seu murmúrio não passou despercebido. Assim que viu que todos lhe encaravam, respirou fundo antes de dizer.

— O histórico dele é impecável porque Anthony é filho de Edgar Chapman, diretor da divisão de antiterrorismo. Ele tem uma fama entre as agências de ser violento, imprudente e agir por meios não convencionais. E está ligado sim à proteção a testemunha.

— Por que eles iam deixar uma adolescente sob os cuidados de um cara desses? — questionou Paige, mais do que indignada.

— Porque ela é uma arma para eles, Paige. Etta estava certa. Eles são iguais. — murmurou Tobias, ao retirar o chapéu da cabeça — Mas como a gente teria como tirar ela de lá sem que ele saiba?

— Nós seguimos o Anthony. A trilha dele existe, diferente da Etta. Ele é imprudente, segundo Timothy, deixaria alguns vesquícios. Paige, avisa ao museu que não iremos comparecer hoje. O resto, investiguem tudo o que conseguirem sobre Anthony.

Em poucos momentos o galpão era tão silencioso como nunca, porém não tinham muito o que dizer. Toby sentia que estava lutando contra o tempo, e talvez, por ter sido referenciado explicitamente, sentia-se ainda pior.

— Achei! Ele pediu uma transferência de localidade hoje. Não disse de quem, mas não duvido que seja ela. — anunciou Walter, depois de alguns minutos.

— Transferências governamentais são rastreáveis, por motivos de segurança. — comentou Tim, ao lado de Paige. — Só não sei se vai conseguir...

— Já fiz. — interrompeu Walter, franzindo o cenho em seguida — O carro está parado na Avenida Richmond, 342.

— As câmeras de segurança mostram essa van preta. — disse Ralph, compartilhando a filmagem com todos.

Nela, a van estava parada, e perto dela, apenas um agente aparecia, a mão sob o comunicador. Ele compensava o peso de um lado para o outro, em um movimento um pouco torto.

— Inquietude, coçou o pescoço três vezes em menos de um minuto e vigilância além do normal. Ele está em pânico. — analisou Toby, virando-se para a criança presente. — Última hora, Ralph.

— Pode deixar.

Rapidamente, estavam diante da filmagem solicitada. Depois de cinco minutos, o veículo apareceu. Junto com ele, uma adolescente de cabelos crespos, agora trançados, vestindo um conjunto de moletom todo cinza. Não puderam ver exatamente como ela estava, pois a garota havia estourado o vidro da janela e saltado para fora.

— Ralph, segue...

Walter não precisou terminar. Por outras câmeras, seguiram o trajeto desenfreado de Etta. Atrás dela, vinham dois agentes, desviando das pessoas e carros do centro urbano. A menina entrou num prédio residencial, sumindo por alguns instantes. Contudo, não precisaram caçá-la novamente. Logo a menina apareceu, saltando de um prédio ao outro. Os agentes não conseguiram acompanhar.

— Ela foi pro entre os prédios, não tem câmeras públicas lá. — murmurou o menino, um pouco cabisbaixo.

— Ralph, você foi ótimo. — disse Walter, puxando seu computador — Eu vou ver se consigo alguma câmera privada.

Após alguns minutos, as imagens de dentro de um apartamento, para rua, apareceram. Nelas, Etta dispistava dois agentes numa bifurcação, eles se dividindo para procurá-la. O segundo a encontrou, contudo, a garota lhe deu um chute na virilha, seguido de uma rasteira, partindo em retirada. A câmera de um restaurante lhe mostrou correndo pelos fundos e entrando numa caçamba de lixo. Por longos minutos, ninguém apareceu. A adolescente se ergueu, esgueirando-se para fora com toda cautela. Antes de sair uma jovem loira apareceu correndo, em trajes de dormir e descalça. Agarrou os braços de Etta, aparentemente pedindo ajuda.

Antes da menina reagir, um homem alto e turculento apareceu, gritando algo que não reconheceram. Etta correu para cima dele, contudo, ele puxou uma arma. Ela estava longe demais para o desarmar. Com um comando verbal, a garota loira se aproximou do homem em questão. Trocaram mais algumas palavras, e os três sumiram pelo canto esquerdo da cena.

— Cadê ela, Walter? — perguntou Paige, uma das mãos sobre o peito.

— Não tem mais câmeras disponíveis. Eu, eu não sei, Paige. — disse ao se levantar, indo até ela — Mas iremos fazer tudo para achá-la.