Decifrando

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Como se lembrasse um lindo quadro, o amanhecer surgia diante de seus olhos. O corpo esguio escondido por uma camisa branca e uma boxer era atingido por uma suave brisa, arrepiando todos os pelos de seus braços no tempo que se apoiavam no parapeito da sacada. Honestamente, ele gostava do que via, contudo sua dor de cabeça não lhe deixava apreciar o momento com toda força. Sua causa não passaria da noite não dormida ocasionada pela insônia e a ausência de seus calmantes, deixando como um presente as mais conhecidas olheiras.

Entretanto, pôs um benefício daquela vez, julgando que o término da série da qual acumulava fosse algo produtivo, ainda que tivesse acabado com todo sorvete e bolachas recheadas que possuía.

Um audível suspiro escapou de seus lábios, se cansando de observar o horizonte e voltando para seu quarto. Embora estivesse bem cedo para colocar os pés nas ruas e ir trabalhar, resolveu meter-se sob a água fria do chuveiro, pensando que talvez ela lhe daria a quantia de ânimo necessária para o resto do dia. Não era como se não gostasse de fotografar, mas naquele dia não tinha um mínimo de vontade de ver aquelas pessoas andando pra lá e pra cá, ouvir aqueles burburinhos, simplesmente fitar a cara daquele funcionário egocêntrico do estúdio.

As fotografias estavam lhe rendendo um bom lucro visando a grande quantidade de fotos que retirava por conta de, principalmente, estarem na mais florescente primavera. Comum era haver revistas de moda demandando horários ao local que trabalhava, pois se tratava de uma reconhecida e bem remunerada empresa. Gostava sinceramente de lá, todos com quem convivia lhe eram agradáveis, com exceção daquele homem.

Seu nome era Jaebum, especializado em programas de edição, e seria mentira caso dissesse que ele realizava um trabalho ruim; porém não sentia vontade alguma de lhe contar esse fato. Im Jaebum se tratava de um rapaz dono de um ego inflado, exageradamente, do qual pensava ser o único do mundo inteiro, e isso lhe irritava profundamente.

Sacudiu a cabeça e procurou suas vestimentas para seu banho, sendo em poucos minutos realizado, para depois, como de costume, comer seu cereal acompanhado de uma vitamina de frutas. Era um desejo simples, porém que agradava seu paladar e lhe fortalecia o suficiente até chegar em casa novamente. Desviando o olhar para a pia, enxergava a pilha crescendo, repetindo em sua mente que a lavaria quando chegasse. Tinha que tomar vergonha na cara para fazer aquilo, senão logo estaria sem louças para comer ou beber o que fosse.

De repente suspirou novamente. A casa estava tão silenciosa que lhe perturbava. Nenhum imprevisto estava em observação nos seus projetos quando resolveu mudar-se, entretanto a vida sempre gostou de brincar com si. Aparentava ser desde mais novo, lá na escola ainda, quando seus colegas gostavam de lhe incomodarem com frases desgostosas, e logo depois ser posto em dupla com algum deles para alguma atividade.

Sacudiu a cabeça mais uma vez, não querendo ser afetado por suas lembranças.

A partir que pôs seus calçados no piso externo conseguiu apreciar os aromas que o começo de dia proporciona. O cheiro de pães frescos, de cafés, do simples mar que movimentava-se mais longe. Tudo até parecia bonito e bom de presenciar, contudo, nem isso seria capaz de mudar sua vontade de voltar ao seu apartamento e nunca mais sair de lá. Por mais que ele se tornara quieto, frio, sem graça demais, ele gostava do lugar.

Parou de reclamar quando estava dentro do ônibus, já que ali não seria possível nenhuma recaída.

(...)

Eu deveria ter ficado em casa mesmo, era o que se passava pela sua cabeça. A princípio pensou que seria apenas mais outro de seus dias monótonos onde realizaria as mesmas coisas, porém assim que chegou no trabalho vira que haveriam mudanças. Se hipoteticamente não gostasse de egocentrismo, o que sentiria caso o egocentrismo se juntasse ao mau humor? Ele provara da sensação, no entanto não saberia pôr em palavras e sim nos pensamentos de enforcar aquele homem rude. Jamais cogitaria a ideia de perder a cabeça em um recinto daqueles, mas ele também ficara mal-humorado. Só que se fosse apenas aquilo ainda conseguiria lidar, o pior veio quando estava esperando o ônibus para retornar à casa e um desconhecido lhe assaltasse ali mesmo. Estava sozinho por perder o primeiro transporte e o ladrão viu como uma ótima oportunidade para lhe tirar o celular e o dinheiro que continha.

Aroma do Passado | marksonOnde histórias criam vida. Descubra agora