cap 21 ♥️

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Biel

A última vez que me senti assim, foi quando me informaram da morte do meu pai, eu sabia que não devia ter saído do lado dela, eu deveria imaginar que ela faria isso. Eu desconfiei depois dela passar dez minutos dentro do banheiro, fui perguntar se estava tudo bem, e não tive resposta. Quando a abri, não havia ninguém.

O desespero foi grande, não sabia onde ia ou o que fazia, fui até o lugar onde ele marcou na esperança de ainda estarem lá, foi como afundar e não conseguir subir de volta. Meu coração ficou despedaçado, sem saber onde ela poderia estar ou como estava.

Fazem quatro dias que não a vejo, não durmo direito e tenho descontado toda minha raiva em pessoas que não merecem. Coloquei vapores pra procurar por ela em cada canto, mas quando eles voltam, só dizem "não encontramos nada".

Eu estou devastado, Gabi chorou tanto que agora só fica parada olhando pro nada como se tivesse procurando ela com a mente. Kj está o tempo todo saindo pra procurar ela, passa mais tempo fora do que dentro do morro. Dona Eva está o tempo todo cuidando da Gabi, já que não temos muito o que fazer e minha mãe está tentando cuidar de todos nós ao mesmo tempo.

Ontem fizemos uma invasão no morro inimigo, o que o Miguel disse que estava, mas ele foi esperto, ele sabia que aquele era o primeiro lugar onde iríamos procurar. Ela não estava lá, procurei por todos os lugares que pude e não a encontrei.

Nesse momento estou na minha sala, sentado, olhando pro nada e derrepente dou um pulo com o susto que levei com a porta sendo aberta bruscamente, por uma Gabriela irreconhecível, olheiras grandes, olhos inchados e vermelhos.

- Que isso Gabriela, eu podia estar armado! Pra que entrar desse jeito pô!

- Cala a boca Gabriel. Eu sei onde ela tá!

- Como assim? Alguém ligou? Ela ligou?

- Não! Pensa comigo... - ela tira um papel enorme da bolso, põe na mesa, pega uma caneta e começa a rabiscar. - Olha, esse é o mapa do morro inimigo, todos os lugares são marcados, todos tem um número, porque é um código deles pra se acharem caso aconteça alguma coisa. Mas esse canto aqui, tem nome e um número. Sempre que a polícia faz invasão lá, eles tentam chegar nesse pedaço, a primeira vez que eles conseguiram o Pepê foi preso, porque ele mora aqui, se eles estiverem juntos nisso como o Miguel falou...eles estão aqui. - ela fala a última parte com mais convicção e depois passa as mãos pelo cabelo e respira fundo.

- Você tá certa Gabi... Vou avisar todo mundo que amanhã cedo a gente vai invadir e eu só saio de lá com a Thayna. - dou um abraço nela e ficamos nesse abraço por muitos segundos, me fechei na minha própria dor e esqueci que tinha uma menininha que por mais que se faça de forte, precisa de mim.

Estamos sentados conversando com alguns vapores quando ouvimos barulho de tiro. Na adrenalina pego a Gabi pelo braço e tranco ela dentro de uma salinha que tinha na minha sala e pego algumas armas, ponho colete e saio. Não achei que fosse demorar mais do que isso pra eles invadirem, desço e vou atirando nos invasores, até eles irem embora. Graças a Deus ninguém morreu, alguns se feriram, mas nada muito grave.

A minha sorte, é que hoje de noite vai chegar novo carregamento de arma. Subo de volta pra sala e abro a porta pra Gabi sair. Desço com ela pra Dona Eva, é onde estamos ficando sempre, esperando que ela ligue ou que alguém tente entrar em contato. Mal consigo dormir, fico na cama dela toda noite sentindo seu cheiro, é a única coisa que me acalma, estaria melhor se ela estivesse aqui. Fico olhando pro teto, pensando em muitas coisas, em estratégias que podemos usar amanhã, mas nada me passa pela cabeça.

Levanto pra beber uma água, passo pelo quarto da tia Eva e vejo ela ajoelhada perto da cama orando e chorando. Desço e vejo a Gabi dormindo no colo do Kj e ele olhando pro teto.

- Não conseguiu dormir também? Sua cara tá péssima. - sendo do lado dele. - Onde estava todo o dia?

- No meu lugar, que virou lugar dela também. Não aguento ver a Gabi desse jeito, muito menos minha mãe e você. Eu sempre agradeci por não ter tido uma irmã, mal sabia eu que eu já tinha, só não tinha conhecido ela ainda. Tenta dormir um pouco, amanhã a gente vai buscar ela, e ela não precisa ver a gente parecendo um trapo assim. - me levanto, bebo água e subo pra tentar dormir, mas antes, faço o mesmo que dona Eva fez, me ajoelho e peço com todas as minhas forças a Deus, que ele deixe ela voltar pra mim. Depois de chorar diante de Deus me deito e tento mais uma vez dormir, dessa vez tenho sucesso. Aguenta só mais um pouco meu amor, eu vou te buscar.

A nova moradora (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora