Fiquei estático, meu coração quase parou ao escutar aquele nome da boca de outra pessoa, depois de anos, depois de tanto tempo tentando deixar o passado para trás, agindo como se tudo fosse um sonho perfeito, eu escutei novamente o nome dela e eu não sabia como reagir
- Heitor? - o homem atrás de mim me chamou, eu não tinha dito nada a ele, mas o desconhecido sabia o meu nome
- Não - nem olhei para trás - Não diga mais nada, eu... Eu não quero escutar, fiquem longe - fui em direção ao bar a passos decididos e milimetricamente controlados e assim que entrei, voltei a falar - Podem sair! - as poucas pessoas ainda presentes no estabelecimento olharam para mim - Eu vou fechar o lugar! Vão!
- O que? - o meu cliente assíduo se levantou de sua mesa particular, parecia abismado - Não! Não está na hora!
- Está sim - apontei para fora - Podem ir, o bar é meu e eu decido a hora de fechar
O outros três que estavam sentados em mesas distintas pelo bar se levantaram, eles passaram por mim cambaleando, segurando a garrafa, o último até levantou o recipiente de vidro em cumprimento, e então só restou o homem triste
- Heitor - aquela voz surgiu de novo, chamando meu nome como se soubesse algo sobre mim, não fiz questão de olhar para trás ou dizer algo, apenas andei em direção a primeira porta e a fechei
- O bar está fechando - anunciei - Todos podem voltar para casa
- Nós só queremos falar com você - era a moça de cabelos cacheados, com sua voz firme e decidida, assim como ela
- Você precisa de ajuda? - o homem triste perguntou com sua voz bêbada e rouca, respirei fundo antes de me virar, me sentindo sufocado
- Eu disse que todos podem ir - falei pausadamente - Eu vou fechar o bar
- Tá certo, só me vende uma garrafa dessa vodca aqui - seu caminhar cambaleante o levou até o balcão, onde ele se apoiou
- Certo - concordei, sem olhar para meus outros visitantes, passei pela pequena porta do balcão, peguei a garrafa e entreguei para o homem, ele pagou a bebida e se virou, indo embora, para beber mais, sofrer mais e continuar sua vida triste e solitária
- Você precisa nos escutar, cara! Fugir não vai adiantar nada, seja homem e nos escute
Eu não olhei na direção dele, eu fiquei parado, sentindo minhas mãos tremerem de raiva, eu queria bater nele por falar assim comigo, como se soubesse de algo, como se sentisse o que eu tenho sentido por anos, ele não tinha o direito de vir aqui
- Caiam fora daqui! - fui ríspido, mas controlei a altura da minha voz
- Não vamos sair sem falar com você - o tal irmão da Joice disse, a postura deles era decidida, eu não conseguiria me livrar de todos mesmo que brigasse, algo que não era viável e nem correto
- O que querem comigo?
- Queremos esclarecer algumas coisas - a moça de cabelos claros se aproximou, seus olhos eram gentis, seu rosto demonstrava nervosismo, mesmo assim ela se aproximou, até estar bem a minha frente, só o balcão nos separava - Você não está bem
- Foi Joice quem os mandou?
- De certa forma, sim
Engoli em seco, de repente um medo tomou conta de mim, eu não sabia se queria mesmo esclarecer, o que poderia ter feito Joice se afastar e anos depois mandar pessoas me contar a verdade?
- Eu... Eu não quero saber
- Você precisa saber - um homem de cabelos escuros se aproximou, ele era o único dos três que ainda não havia dito nada a mim - Você não superou, se tivesse esquecido, iríamos todos embora, mas você ainda lembra, você a mantém por perto, Heitor
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A Face Da Lua | Trilogia: Faces | Conto
Historia CortaHeitor se apaixonou perdidamente por uma ruiva sorridente e para sua sorte, ela também o amou, porém, em uma noite, com a esperança de vê-la mais uma vez, ele recebeu a pior notícia de sua vida, a moça não queria mais vê-lo, ela o deixou, ela o fez...