Realidade (Sabrina)

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Não sei ao certo quanto tempo fiquei sentada naquele banheiro. Mas tenho absoluta certeza que acabei adormecendo. Porque o céu estava escuro quando uma tia da limpeza veio me acordar.

- Tá tudo bem mocinha? - perguntou ela preocupada.

Meio atônita, levantei as presas do chão e sai correndo. E quando eu ouvi um grunido de reclamação eu já imaginei a cara feia dela ao encontrar a pilha de papéis que eu tinha largado naquela cabine.

Horas depois sem coragem de voltar para casa, me vi indo em direção a praia. Talvez minha mãe estivesse preocupada comigo, mas não ligava para isso agora. Tinha algo de mais preocupante para pensar.

Minutos mais tarde, sentada num canto da praia, peguei o celular e liguei para o número do pai do meu bebê.

Ele não me atendeu de primeira, o que me deixou particularmente irritada, mas depois de ligar umas 3 vezes meu namorado me atendeu com voz de poucos amigos.

- o que? - perguntou rabugento.

- Emanuel? - chamei com a voz vacilante e com o olhos enchendo de lágrimas novamente. - Eu fiz.

- Fez o quê? - perguntou. Ao fundo da ligação, percebi o som de alguma coisa se quebrando. E não pude deixar de imaginar que esse era o som do meu coração agora. - Porra Sabrina, fala alguma coisa!

- Desculpa. - pedi fungando, incapaz de impedir as lágrimas escoregarem pelo meu rosto. - Eu só... - respirei fundo. - Eu só tô com tanto medo agora.

Ouvi sua respiração pesada ao fundo e chorei baixinho no meu lado da linha. Ficamos assim uns minutos até que eu não aguentei.

- Emanuel? O que a gente vai fazer?

Silêncio.

- Eu não quero lidar com isso sozinha...

Silêncio.

- Eu também não consigo matar esse bebê...

Silêncio.

- Você disse que me amava! Que cuidaria de mim!

Silêncio.

- Emanuel, por favor, por favor, fala alguma coisa! Eu preciso de você!

Silêncio.

Comecei a chorar alto como se me minhas frustrações dependencem daquele choro.

- Desculpa, - começou ele fazendo meu coração se encher de esperança. - Sabrina eu não posso ter um filho agora. Sinto muito.

Ouvi o tu tu tu imediato do telefone e não pude acreditar.

***
Não foi difícil acordar na manhã do dia seguinte, afinal eu nem dormi. E eu sei que pode parecer patético, mas eu estava chorando meu relacionamento arruinado. É claro que eu estava com raiva de tudo que estava acontecendo, mas estava com mais raiva ainda do fato dele ter me abandonando.

Do meu quarto eu ouvia mais uma briga matinal do meu padrasto com minha mãe. Ele descobriu que minha mãe traía ele, pela 4 vez, e dessa vez aparentemente umas noites de sexo não iam ser capaz de acalmar a fera.

Sem me importar muito eu fui tomar banho, passei rapidamente pela sala, com medo de ser atingida por algum enfeite de estante e fui em direção ao banheiro.

Entrei de corpo inteiro, sem me importar com a temperatura e fiquei aproveitando a sensação refrescante da água correndo pelo meu corpo alto e magro.

Num ato involuntário minhas mãos foram parar na minha barriga. Como eu sempre fui magra não tinha nada mais que uma barriguinha com uma ou duas gordurinhas.

Me sentindo muito estranha, tirei a mão rapidamente e tratei logo de acabar com aquele banho.

Depois de garantir que o chuveiro estava bem fechado andei cuidadosamente para não escorregar no chão.

De volta ao meu quarto, coloquei a calça jeans, fiz um coque no cabelo e a blusa de uniforme. Encarei minha imagem no espelho por um tempo.

Eu não fui o tipo de garota descolada que era popular na escola e que tinha todos os amigos. E depois de entrar para o ensino médio nem a fama de nerd eu tinha mais. Mas o que eu poderia fazer?

Não é fácil cuidar dos 3 filhos da minha mãe, limpar a casa e ficar bonita para namorado.

Depois de um tempo, eu não sei. Acho que minha vida foi tomando um rumo diferente e a escola ficou meio de lado.

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