Capítulo 5

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Felipe

-Sente-se  garoto.-Ordeno indicando a cadeira de uma das mesas do Açor.-O que vai querer para comer?

Simas, que antes me pareceu astuto como uma lebre, agora está tão acanhado quanto um bicho do mato. Não preciso ser um grande leitor de pessoas para saber que o jovem está se sentindo um peixe fora da água.
apenas intuo que seja em razão do estabelecimento, de toda a sua suntuosida de. Afinal, o Café Açor é um dos mais conceituados cafés do Desterro. Quem sabe até mesmo um dos melhores do Brasil.

Pensando no bem estar do menino resolvo manter a conversa em andamento. Um silêncio prolongado não seria algo agradável neste momento.

-O que temos aqui ?- Analiso o cardápio esfregando a mão em minha barriga.

Hmmmm... Que belo arsenal de  iguarias portuguesas eles têm aqui.

-Por acaso você já provou pastéis de nata? - Pergunto erguendo os olhos em sua direção.- Pelo que ouvi os deles  se assemelha com maestria dos feitos em Lisboa. Veja bem, são como tortinhas cujo recheio é feito com muitos ovos, leite e outras coisas deliciosas, que confesso, não faço a menor ideia do que sejam. Não sou bom na cozinha. Mas o que importa é que quando você os coloca na boca, quentinho e com canela e açúcar polvilhados por cima...Ah! Eles são o céu em forma de comida. -Lambo os lábios e reviro meus olhos em uma expressão de  deleite.

-Já ouvi falar sobre eles, Senhor,  mas comer eu nunca comi. Seria uma honra prova-los em sua companhia. -Responde com um galante florear das mãos, o qual acho deveras divertido.

Voltando-me em direção ao atendente, solicito meia dúzia de pastéis e dois cafés.

-Pois bem. - me dirijo novamente à Simas, o intrigante garoto diante de mim. - Penso que se vamos de fato cogitar a possibilidade de você me servir como aprendiz, gostaria de saber tudo que se possa saber a seu respeito, meu bom rapaz.- Viu direito ao assunto. Detesto rodeios.

O garoto ajeita a postura e me encara com seus olhos esbugalhados.

  - Que tal começar por seu nome de batismo, idade e o que estava fazendo nas docas do porto? -Sugiro.

Simas engole seco demonstrando nervosismo.

-Meu nome de batismo é Roberval Simas, senhor. Minha doce mãe me chamava de Rob. Mas concordemos, Roberval não é um nome grandioso, e Rob me faz parecer muito infantil. Quando comecei a crescer  percebi que todos os senhores se tratavam apenas pelo sobrenome, então passei a me apresentar como Simas. Passa mais credibilidade, o senhor não acha?

-Tenho de concordar meu caro. Apesar de não haver nada de errado com o nome  Roberval. Entenda, não é o nome que faz a pessoa, garoto. São suas atitudes. A grandiosidade anda junto com a honra, e portanto, lado a lado com o coração. Nomes pouco tem relação com isto. Tenho, no entanto, que concordar que em nossa sociedade, "Senhor Simas" lhe garantirá mais prestigio que apenas Roberval. Estranhas são as diretrizes e  códigos de nosso povo.

-O senhor tem razão. - Ele concorda  assentindo com a cabeça sem parar.

-É claro que tenho, meu caro Senhor Simas. - enfatizo o “Senhor” e observo sua reação.

-Bem, sim. - Ele cora até a raiz dos cabelos cor de fogo. - Mas o senhor não precisa me chamar desta forma.. veja bem, pode me chamar apenas de Simas, não há problema. - A cor vermelha em seu rosto toma ainda mais intensidade.

-Pois bem. - Sorrio.- Prossiga por favor, tenho demasiado interesse em sua história. - incentivo para que prossiga nossa conversa.

- Bem, o que posso dizer ? Tenho dezoito anos... -  Tenho certeza que minha incredulidade ficou devastadoramente nítida em minha face, pois gaguejando ele tenta se explicar. - Eu.. Eu juro Senhor. Tenho mesmo dez... dezoito anos. Sei que sou magricela e aparento ter apenas qua..quatorze, mas tenho deveras dezoito. - Suas mãos de tremem levemente enquanto fala.

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⏰ Última atualização: May 23, 2020 ⏰

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