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TATE

Na infância fui amaldiçoada com pais terríveis, filha única de viciados, tudo o que tive foram dias sem comer, manchas roxas pelo corpo, causadas por surras das pessoas que deviam me proteger, e palavras ofensivas, mas tio Dalton me acolheu e me deu amor, carinho e um lar normal.
Com ele ao meu lado tinha expectativa de ter uma vida diferente, mas agora vendo-o caído no chão, provavelmente morto, toda minha esperança de uma vida normal e feliz se foi.

- Tio Dalton?! - Deixo o copo de água cair no chão. - Tio, olha pra mim!

Minha visão se embaça por conta das lágrimas, estou em choque e meu coração parece que vai explodir, me ajoelho ao seu lado e coloco minhas mãos em seu peito molhado de sangue.

- Não... Não... - Mal consigo falar, estou engasgando com minha respiração e lágrimas. - Tio, abre os olhos... Por favor.

Um riso nasalado chama minha atenção, olho para o canto escuro da sala, a luz do abajur se acende e vejo o homem alto, forte e tatuado balançar seu revólver no ar de forma brincalhona. É o Asa, líder dos profetas, ele e meu tio tiveram alguns problemas, mas nunca imaginei que Asa faria algo tão cruel assim.
Maldito!

- O que fez com ele? - Grito, mal conseguindo falar.

Asa se levanta e vem até mim, sinto uma necessidade grande de fugir, mas não consigo me mover, estou anestesiada pelo medo, tristeza e desespero.

- Seu tio teve o que merecia. - Asa aponta a arma e dispara duas vezes contra o corpo de Dalton, me fazendo gritar e chorar ainda mais.

Não sei se não ouvi sons de disparo por estar em choque ou porque Asa usou um silenciador ou algo do tipo.
Sinto o ar fugir dos meus pulmões, Asa acabou de tirar o último pedaço de vida que ainda existia em mim.
Com uma mão abraço minha barriga e a outra coloco sob o peito, meu coração dilacerado bate em um ritmo frenético, parece que vou morrer de tristeza. Choro desesperadamente.

Asa se aproxima rapidamente, segura meu braço com força obrigando-me a levantar e encara-lo.

- Não me toca! - Grito, uso minha mão livre para bater em seu peito com bastante força, mas isso não o aba-la.

- Cala a boca, vadia - Ele dá um tapa em meu rosto, me fazendo gemer de dor. - Eu devia te matar, mas como sou bondoso vou te dar um lar e um trabalho.

- Não quero nada que venha de você - O encaro com desprezo. - Nada! - Grito.

- Eu não perguntei - Ele me dá outro tapa, agora mais forte - Vai trabalhar para mim. Tenho um club que precisa de uma stripper nova, e convenhamos, você é gostosa demais para ser jogada fora.

- Tira as mãos de mim - O empurro, dessa vez ele me solta e tento correr para fora da casa, mas Asa puxa meu cabelo e me joga no chão, bato minha cabeça com força e grito de dor.

- Tate, por que tem que tornar tudo tão difícil?! - Ele coloca as mãos na cintura. - Se tivesse se entregado para mim, se fosse minha, seu tio ainda estaria vivo, vadia.

Sinto o sangue escorrer por meu rosto, minha visão começa a escurecer, mas não me permito desmaiar, preciso fugir, preciso me livrar do Asa.

- Vamos lá Tate - Ele estende a mão para mim. - Sua teimosia causou a morte do seu tio, agora, sou tudo o que tem.

Em parte isso é verdade, tio Dalton morreu por minha culpa, mas Asa é tão culpado quanto eu. Foi ele quem me assediou mais de uma vez, que me agarrou em um beco vazio e tentou me beijar a força. Me lembro de ter chego em casa chorando, com a alça da regata rasgada e o braço esquerdo roxo. Tio Dalton ficou aflito com meu estado, e mais aflito ainda depois que eu contei o que Asa havia feito, ou melhor, tentado fazer comigo.
Depois disso tio Dalton foi atrás do Asa e a rivalidade começou.

- Levanta, vadia! - Asa grita. - Eu mandei levantar! - Ele me puxa pelo cabelo, ao ficar de pé respiro fundo e encaro Asa nos olhos, tudo o que vejo é maldade e diversão.

Ele é arrogante, cruel e imprevisível, eu prefiro morrer do que viver ao lado do Asa.
Eu o odeio!
Asa passa o cano da arma em meus lábios, lentamente desse até meu pescoço e descansa seu revólver em meus seios.

- Tate, Tate. - Cantarola, sua risada alta me faz gelar dos pés a cabeça. - Hora da diversão, docinho. - Ele ameaça abrir o botão da minha camisa, então o chuto no meio das pernas, ele deixa o revólver cair no chão e coloca as mãos em seu íntimo, gemendo de dor e me amaldiçoando.
Chuto sua arma para baixo do sofá e corro para os fundos da casa antes que ele tenha tempo de se recuperar.

Asa grita dois nomes masculinos, seus irmãos da gangue, então tento correr mais rápido e achar um local seguro para me esconder. Em uma cidade normal e justa, eu iria até a delegacia e contaria o que Asa acabou de fazer com meu tio, mas a polícia é corrupta, já os vi receber dinheiro dos Profetas não só uma, mas várias vezes.
Pulo a cerca de madeira que separa minha casa do jardim da vizinha e tenho meus braços arranhados por espinhos de rosas brancas e amarelas. Gemo baixinho e acaricio meus braços.
Penso em correr até a porta da Sra. Martin, mas isso a colocaria em perigo e não quero ser culpada de outra morte, então continuo a fugir sem rumo.
Pulo mais três cercas, depois de quase ser mordida por um cachorro decido fugir pela rua, mas confesso que foi uma ideia estúpida. Vejo a luz de um farrol se aproximar, o carro entra na rua em alta velocidade, rapidamente entro no beco escuro e me agaicho entre as grandes latas de lixo. O cheiro faz meu estômago embrulhar.
Espio a rua, o carro estaciona e os vejo sair dele, Asa e seus capangas olham para todos os lados, e quando encaram a viela que estou fecho meus olhos e tento manter a calma.

- Vamos nos separar - Asa ordena. - Eu quero aquela vadia viva.

Cada um escolhe um lugar para ir, e para o meu alívio, Asa não escolhe o lugar onde estou. Nenhum deles escolhe.
Me levanto e sigo para a direção contrária deles, então tenho meu braço puxado por um dos capangas de Asa. De onde ele saiu? Eu dei um tempo antes de sair do beco, não havia som de passos ou vozes, nada.

- Ela está aqui - Ele grita, seus olhos verdes fixos em mim.

Movida pela adrenalina e o desejo de fugir, solto meu braço do gangster e pego uma pedra de tamanho mediano do chão, ela é pesada o suficiente para fazer um estrago. Bato com toda minha força em sua cabeça o fazendo cambalear para trás, ele leva a mão ao local que foi atingido, está sangrando. O homem olha para mim com raiva e desprezo, tira o revólver do bolso, aperta o gatilho e... Nada. Ele olha confuso para sua arma e aproveito a distração para fugir dele.

Ao dobrar a esquina, minha visão é ofuscada por uma luz forte de farol, o carro para a poucos centímetros de mim e me apoio no capô.
Eu o conheço, é o Spooky, o líder dos "Los Santos", ele me olha confuso e corro para o lado do passageiro, sem permissão entro em seu carro e me abaixo. Não posso correr o risco de ser vista e arruinar a única chance de sair viva desta noite de pesadelos reais.

- Aí, o que tá fazendo? - Pergunta, seu tom é ríspido. - Sai do meu carro, garota.

O encaro com lágrimas nos olhos, ele ainda me olha confuso, mas meus perseguidores, ganham sua atenção.
Posso ouvir Asa resmungar, eu o conheço, sei que ele está longe de desistir de me pegar.
Não conheço o Spooky, tudo que sei, são coisas que os outros falam dele, que é um homem frio, sombrio, que não demonstra emoção alguma, que não se envolve no que não é da sua conta, então, as chances de ele me entregar são grandes.

- Por favor, me ajuda - Sussurro.

Oscar continua encarando os profetas, posso ouvir eles se aproximarem.

- Spooky... Me ajuda! - Suplico. - Eles vão me matar.
Ele leva um cigarro aos lábios e sua expressão muda para despreocupada, ele apenas liga o rádio e volta a dirigir.

- Obrigada. - Sussurro e meus olhos se fecham.

Spooky é tudo que vejo, antes de desmaiar.

PERIGOSO ( DEGUSTAÇÃO - Disponível Na Plataforma DREAME)Onde histórias criam vida. Descubra agora