Capítulo quatro - Que comecem os ensaios

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— Faz isso direito, Cara Redonda! — Katsuki disse batendo os papéis do roteiro no topo da cabeça de Ochako que ria descontroladamente.

— Desculpa, é que eu não consigo te levar a sério desse jeito. — A barriga da garota estava começando a doer de tanto rir.

— Se for pra ficar tirando uma com a minha cara, se vira sozinha! — bufou irritado.

— Espera, vamos tentar de novo. — Ela disse puxando o rapaz pelo pulso, mas logo em seguida sentiu que fez uma enorme besteira, estava pronta para ouvi-lo reclamar e xingar, porém tudo que ele fez foi suspirar e virar-se para ela.

— Essa é a última vez, se você começar a rir de novo eu juro que explodo sua cara! — rosnou o maior.

— É que não é todo dia que temos a chance de ver Bakugou agindo como um cavalheiro, não estou acostumada. Vamos lá então. — Ochako respirou fundo, contendo um riso nasal, limpou a garganta e entrou no personagem.

Posso ter a honra? — Bakugou pronunciou-se estendendo a mão para Uraraka. O rapaz pareceu tranquilo com aquela situação, como se fosse natural para ele. — Se profano for tocar esse santo relicário. Espero que meus lábios possam suavizar esse rude contato com um beijo terno.

Bom peregrino, a mão que acusas tanto revela-se um respeito delicado. Juntas, a mão do fiel e a mão do santo. Palma com palma terão se beijado. — Para Ochako era inevitável não corar e se sentir intimidada e nervosa com as belas orbes rubis a encarando profundamente.

Já o rapaz não conseguia negar a si mesmo que estava se sentindo cada vez mais atraído pela controladora de gravidade, ele percebia cada uma das vezes em que as bochechas da menor se avermelharam por sua conta, e aquilo lhe causava uma sensação estranha no peito.
Dessa vez eles conseguiram ensaiar sem interrupções e sem falhas, pelo menos nenhuma como a risada escandalosa de Uraraka.

— Está ficando tarde, acho melhor voltarmos. Amanhã começam os ensaios com toda turma, mas agora já me sinto mais confiante. Obrigada, Bakugou-kun! — A morena sorriu animada, um sorriso que o garoto jurava ter iluminado tudo a sua volta.

Caminharam juntos até o elevador, os quartos de ambos eram no último andar, então seria estranho se não fossem juntos. Ochako encarava seus pés, queria quebrar aquele silêncio constrangedor, porém não sabia o que dizer, então resolveu apenas se manter quieta.
Katsuki era orgulhoso demais para admitir, mas havia se divertido ensaiando com a garota, talvez ela não fosse nada do que ele imaginava ser. Claro, ela continuava sendo tagarela, às vezes meio boba, mas era mais do que “só uma amiguinha do Deku”. Agora ele enxergava a Uraraka de verdade, não era a imagem que ele tinha pintado, era uma garota extrovertida e corajosa, o suficiente para desafiá-lo, encará-lo de frente.

[...]

A noite para Uraraka foi um tanto inquietante, por alguma razão estava ansiosa. A garota sabia muito bem qual era o motivo, ficava nervosa somente em pensar nos lábios de Katsuki perto dos seus — o que para ela já era uma grande coisa. Ochako girava para todos os lados da cama em busca de seu sono. Até que, finalmente, após algumas horas, acabou dormindo.

No dia seguinte era possível notar leves olheiras abaixo de seus olhos, ela sequer tinha maquiagem para cobrir aquilo, então apenas suspirou diante do espelho imaginando o que suas amigas iriam perguntar, provavelmente, daria a desculpa de ter ficado estudando até tarde — apesar das provas terem sido adiadas, assim como as aulas, em função de todos estarem se organizando e utilizando as salas para preparar os eventos do fim de semana.
Para a sala 2-A não estava sendo diferente, tinham apenas três dias até a apresentação, todos estavam uma pilha de nervos.

— Trouxemos os figurinos! — O pessoal ainda não tinha conversado sobre o assunto, na verdade ninguém se lembrava desse detalhe importante até Hagakure, Jirou e Momo chegarem com os respectivos trajes. 

Todos foram animados em direção às garotas, exceto Bakugou, não que qualquer pessoa esperasse outra reação vinda dele.

— Isso parece ser de alta qualidade. — Mina disse passando suas mãos nos tecidos.

— Nós tentamos controlá-la, mas não adiantou nada — suspirou Jirou para Momo que sorria contente. A garota adorava mimar seus amigos, isso não era novidade para ninguém, por isso às vezes tinham que contê-la.

— Vamos, é hora de provar. — Yaomomo entregou o figurino de cada um e todos foram em direção aos vestiários para colocar as roupas.

Uraraka nunca havia se imaginado em um vestido de princesa, aquilo realmente lhe caiu muito bem e chegava até a ser confortável. A peça era um tipo de rosa velho, o tecido era brilhoso como seda, porém um pouco mais quente e levemente pesado, nada que a incomodasse. Tinha um caimento ombro a ombro, devidamente acinturado e se encaixava perfeitamente no busto, como se fosse feito sob-medida para ela — o que era impossível, pois nem ela mesma sabia ao certo suas medidas.

Ao terminar de vestir o traje, a pequena garota chegou a duvidar que aquele era realmente o seu corpo, nunca tinha se visto tão bela, nem com um vestido tão lindo sobre si.

Ao voltar para a sala se espantou, pois todos os atores estavam tão bonitos naquelas roupas — mesmo os que tinham os trajes mais simples — especialmente Bakugou, mas pela sua face não estava nada confortável em vestir aquelas roupas. Naturalmente as garotas ficaram observando Todoroki — que, de fato, parecia um príncipe — mas Uraraka não conseguia tirar os olhos do loiro.

— Uau! — Katsuki deixou escapar ao bater seus olhos em Ochako, que corou violentamente com aquele simples comentário.

— O que é "uau"? Ou melhor, qual delas? — Kaminari brincou e recebeu uma cotovelada no estômago de resposta.
Quando todos ficaram em suas posições, começaram a ensaiar cena por cena; os ensaios estavam indo melhor do que o imaginado, considerando o fato de ser apenas o primeiro.

Encontravam-se ensaiando a cena em que Romeu tira Julieta para dançar; as mãos grandes de Bakugou se encaixavam levemente na cintura de Uraraka, com o máximo de delicadeza possível, enquanto as mãos dela suavam de nervosismo no ombro do garoto e ela tinha que se controlar para não fazê-lo flutuar acidentalmente.
Ele permanecia tranquilo, mesmo tão próximo da garota por quem sentia uma grande atração secretamente.

— Porra, você pisou no meu pé, Cara de Lua! — De repente Bakugou reclamou a soltando.

— Não, eu não pisei! — retrucou na mesma tonalidade do rapaz.

— Ah, então eu pisei no meu próprio pé?! — O loiro soltou uma risada irônica.

— Isso mesmo! — Todos estavam observando os dois, não era raro ambos discutirem coisas bobas assim, nunca dava em nada, por isso ninguém mais interferia.
Katsuki apenas revirou os olhos, irritado com tamanha infantilidade da garota, e puxou-a de uma vez para perto de si novamente.

— Tenta me acompanhar dessa vez. Vamos fazer isso dar certo — disse olhando-a fixamente e mesmo Ochako se sentindo intimidada, não conseguiu desviar daquele olhar.

Ela estava tão perfeita aos olhos dele, a pele clara de seu rosto estava avermelhada devido a aproximação dos dois, seus lábios entreabertos estavam tão convidativos que se não houvesse mais ninguém ali além deles, poderia beijá-la agora mesmo.

Não sabia ao certo se era um alívio que todos estivessem presentes ali para o impedir ou se era frustrante.

Ambos estavam tão imersos no olhar um do outro que sequer notaram quando todos pararam o que estavam fazendo apenas para observá-los naquela aproximação tão natural. Eles pareciam tão íntimos, com brigas bobas e olhares apaixonados, como um casal de verdade. Eram muito bons atores ou o quê?

— O amor é tão másculo. — Kirishima comentou baixo, sendo seguido das gargalhadas de seus colegas.

Fora daquela sala alguém os observava também, mas não com tanta admiração quanto seus colegas de classe.
Pelo contrário, com raiva, ciúmes…
 

🍑

Esse capítulo demorou um pouco mas o importante é que saiu kk.

OH! ROMEU | KACCHAKOOnde histórias criam vida. Descubra agora