Capítulo 3

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    ACORDO com uma sensação desconfortável no estômago

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    ACORDO com uma sensação desconfortável no estômago. Primeiramente, penso que a causa da dor seja porque o meu gato, Sushi, esteja pisoteando toda a área da minha barriga, algo que faz todas as manhãs. Dispenso-o com um toque leve e carinhoso, e então me lembro do verdadeiro motivo pelo qual estou tão nervoso: Vou ter o primeiro contato, mesmo que este seja indireto, com a garota que sou apaixonado.

    Visto uma calça jeans e um dos meus moletons com capuz. O de hoje é verde escuro. Amarro um par de tênis claros que customizei no último verão e que é cheio de desenhos de super-heróis, enquanto repasso mentalmente se todos os materiais de que vou precisar ao longo do dia estão mesmo na minha mochila.

    Após dar um jeito no cabelo, vou até a cozinha. Meu pai preparou uma grande xícara de café para mim, bem do jeito que eu gosto: preto e praticamente sem açúcar. Ele está encostado no balcão da cozinha enquanto beija a minha mãe.

    — Ei! Tenham mais respeito! — falo, e desvio o olhar da cena.

    Meus pais se separam e começam a rir. Costumo brincar com eles por causa dos beijos fora de hora, mas adoro acordar com meu pai por aqui. Ele é policial e, por causa disso, possui uma rotina incerta. A cada semestre seus horários são trocados. Na maior parte do tempo, ele está trabalhando durante as noites e ajudando minha mãe durante os dias. Ela é dona de casa, porém gosta de bordar toalhas e vender para a vizinhança, como uma espécie de passatempo.

    — Dormiu bem, filho?

    Assinto, mesmo que não seja verdade. Fiquei virando de um lado para o outro na cama até duas da manhã, quando consegui de fato pegar no sono.

    — Quer uma carona para a escola hoje? — meu pai pergunta, sentando-se à mesa e colocando seus óculos para poder ler o jornal diário da cidade, que é entregue todas as manhãs por uma garota corpulenta que passa pelas ruas em uma bicicleta rosa fluorescente.

    — Não, obrigado. — beberico o café. — Vou aproveitar para dar uma caminhada.

    — Você já tem caminhado muito ultimamente, filho. Não acha que seria bom se o seu pai o deixasse na escola hoje?

    — É — meu pai concorda, do outro lado da mesa, sem levantar os olhos do jornal. — Aproveite que estou de folga.

    — Tanto faz.

    Realmente não me importo. Gosto de caminhar um quilômetro e meio até a escola diariamente, para colocar as ideias no lugar. Muitas vezes estou sem saber como continuar a história de algum personagem, e são essas caminhadas pelas ruas silenciosas de Creaksville que fazem com que tudo entre nos eixos. Acho que seria bom, especialmente hoje, colocar a ansiedade para fora através de exercício físico, mas não falo isso para os meus pais.

    — Tudo bem. — meu pai fala de forma pausada. — Posso te levar, então.

    Ligo a tela do celular e verifico o horário. Tenho vinte minutos para estar na porta do colégio.

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