Sexagésimo Chaos • namgi

1 - O melhor aos 60

"SURPRESA"

Trinta vozes gritaram assim que entrou na sala.

Quando foi chamado pela própria diretora a comparecer na universidade por conta de um problema em sua turma, Namjoon teve a mais pura vontade de reprovar todos os alunos, por mais que tenham sido sua melhor turma em anos. Estava tão ansioso pelas férias quanto qualquer estudante, tinha se afogado tanto em trabalho durante o semestre inteiro que só precisava de um tempo longe de suas obrigações. Planejava se dedicar aos seus hobbies, podia tentar finalizar algum livro que abandonou pela metade ou produzir pinturas pra expor num futuro, imaginava que todos fossem da mesma maneira. Então por que os jovens não aproveitavam seu recesso com suas coisas ao invés de cobrar por erros que com certeza não tinha cometido?

O horário também influenciava sua irritação. Anoiteceria em poucos minutos, isso era muito tarde pra estar em uma sala de aula quando deveria fazer sua comemoração em outro lugar. Tudo que sentia parecia intenso o suficiente pra destratar qualquer aluno que aparecesse em sua frente, e foi surpreendente até para si mesmo como tudo se transformou tão rápido ao ver os balões e as serpentinas na sala. Namjoon sentiu os olhos brilharem ao ver a festa surpresa que seus alunos prepararam.

A dimensão de quanto Kim Namjoon era querido pelos estudantes não era uma surpresa na verdade, a comemoração provava isso.

- Será que estão precisando de tanta nota assim pra fazerem isso? - Namjoon disse, causando uma risada entre os estudantes, assim iniciando sua festa.

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Uma rotina baseada em mais da metade do dia dentro da universidade as vezes o cansava. Ficou agradecido pela festa, mas seu único desejo era ir embora daqueles prédios. Dirigir pra longe foi um grande alívio, aproveitou sua pequena forma de relaxamento até chegar no destino escolhido: uma casa noturna.

O lugar era onde costumava ir pra fazer um dos seus passatempos favoritos: beber sozinho enquanto lia algum livro. Ficava bem longe da pista de dança, não tinha um pingo de disposição para aguentar nem três minutos dos passos, preferia sentar numa espécie de área vip, uma sala espaçosa de vidro sem música alta, para apenas uma minoria que pagava um preço caro demais pro lugar.

Já era conhecido no local pela sua elegância e por conta de uma vez que foi confundido com um dos proprietários. Não era comum alguém de sua idade ficar por ali. Ao ver um homem mais velho, uma mulher associou que deveria ser o dono e começou a berrar diversas reclamações sobre o lugar. Namjoon não soube o que fazer, apenas olhava pros lados esperando a ajuda de alguém, mas ao invés disso só viu os barmen rindo da situação.

A partir desse dia ficou impossível não saber quem era.

Ficar sentado com sua taça de sempre enquanto lia e respondia seus e-mails de aniversário foi a maneira que escolheu para comemorar seus sessenta anos. Ignorou alguns, como de sua filha ou ex-mulher, que duvidava muito ser algo sincero, e assim ficou por duas horas, até perceber que já estava começando a ficar cheio demais de pessoas. Era seu horário de ir embora.

O único motivo que o fazia descer da área privilegiada para o primeiro andar era porque lá se encontrava os caixas pra pagar a conta. Esse talvez fosse o único ponto negativo do lugar, não podia exigir que tirassem todos os jovens animados apenas pra fazer um caminho minúsculo. Nesses momentos sempre analisava o ambiente. Gostava de saber quais roupas estavam sendo mais usadas, as músicas que faziam sucesso, a forma como dançava. Detalhes assim, totalmente triviais, eram interessantes à um homem que planejava como ocupar a cabeça após sua aposentadoria.

Até rostos gostava de observar, e estranhou ao ver um que só estava acostumado a encontrar na sala de aula.

Apoiado num balcão, um dos seus alunos conversava com um grupo de pessoas. Falavam descontraído, como se negociassem algo. O assunto que tratavam não o interessou em nada, a postura do garoto que chamou sua atenção. Já tinha o visto diversas vezes e nunca viu nenhum diferencial em si: tinha notas medianas e participava de sua aula de vez em quando. Depois de terem interagido tantas vezes, nunca passou pela cabeça de Namjoon que o veria daquela forma.

Min Yoongi não vestia roupas escandalosas, mas deixava claro que estava ali em serviço.

Quando uma moça se aproximava, era ousado em segura-la pela cintura, falava coisas em seus ouvidos, as deixando surpresas ou sem graça, e até apalpou uma delas. Sua presença ativa se transformava completamente dependendo do homem que decidia falar consigo, agia como se fosse inofensivo, não ingênuo, mas disposto a fazer qualquer coisa que ordenassem.

A mudança repentina e a forma como conseguia perfeitamente encarnar os dois personagens o deixou hipnotizado. Talvez Yoongi nem percebesse o quanto se transformava a ficar extremamente delicado e logo em seguida rude, mas Namjoon notava até demais. Acabou apenas o observando por minutos, até chegar ao momento que parou de cogitar a ideia e decidiu contratar seu aluno por uma noite. Queria saber como eram suas duas faces na cama.

Qualquer um diria que Namjoon era louco por simplesmente afirmar que seu aluno era um garoto de programa sem antes ter uma certeza, a realidade foi que nem pensou que poderia estar errado. Conhecia tão bem aquele ambiente, deveria ter outras dez pessoas com a mesma postura e cobrando a metade do preço pelos seus corpos. As pessoas sempre eram as mesmas.

Caso se esforçasse, era capaz até que conseguisse adivinhar de primeira seus motivos pra estar fazendo aquilo, mas no momento se preocupava com outra coisa.

Se aproximou discretamente, já tinha se passado muito tempo pra ficar nervoso contratando alguém. Mesmo que estivesse em uma pausa desde a última vez que pagou por sexo, continuava acostumado. Sentou-se ao seu lado, tocando em seu ombro pra chamar sua atenção.

- Quanto custa?

Beber, usar drogas ou fazer qualquer coisa que pudesse comprometer sua postura e fazer alguém lhe dar um golpe era evitado completamente por Yoongi. Estava sóbrio e reconheceu imediatamente Namjoon. Respondeu com convicção:

- Pra você, nada.

Parecia uma cortesia, mas a expressão de Yoongi não condizia com essa possibilidade. Tinha virado sua cabeça, voltando a observar o bar.

- Então uma noite com você é de graça?

- Não vai haver uma noite comigo. Foi o que eu quis dizer.

Já imaginava a chance de ser recusado, afinal podia ter acabado de descobrir uma vida que era mantida em segredo.

- Olhe, tecnicamente o semestre acaba hoje e você não é mais meu aluno. Além que eu não direi a ninguém sobre...

- Você não entendeu. Eu não atendo idosos. - O som estava tão alto, sua voz não estava no tom ideal pra ser ouvido, mas Namjoon pôde ler seus lábios o mandando embora.

Sentiu-se ofendido. Sua face formou uma expressão triste que nem teve tempo de esconder.

- Posso pagar qualquer preço.

- Esqueça - Ficar muito tempo conversando o atrapalhava, afastava pessoas que tinham a ideia que já estava negociando um programa. Se levantou, indo pra outra área, de preferência alguma que o deixasse exposto a várias pessoas dispostas a pagar.

Deixado para trás, Namjoon não teve coragem de segui-lo, já tinha sido humilhado o suficiente pra perder qualquer vontade que tinha. Pagou o que tinha consumido e foi embora.