— Vixe... Onde é que eu tô, homi? Será que eu tô em Alagoinha? — dizia Rosa com a voz embargada. Seu olhar turvo, sem que sua mente pudesse classificar os objetos e pessoas à sua volta.
— Veja, está acordando! — disse empolgado o dr. Chevalier, ao lado do leito.
Rosa forçou a vista para olhar a si mesma e então percebeu que estava acamada. Depois, fez esforço para visualizar o homem que havia acabado de falar. Não tinha uma imagem muito clara dele, apenas conseguia enxergar um rapaz alto e negro que usava jaleco.
Pela sua experiência de vida, já tinha absoluta certeza de que o homem era belíssimo. Para ela, a própria voz do médico denunciava essa característica ao falar com a enfermeira. E, por isso, a paciente logo voltou à normalidade.
— Q-quem é esse galã? — perguntou ainda com a voz falha.
— Isso, muito bem! — dizia o doutor. — Pode acordar, estamos aqui por você.
Ao ouvir aquilo, Rosa mantinha os olhos entreabertos e intensificava a fraqueza (e também a doçura) em sua voz:
— Doutor, me faça um carinho para que eu acorde mais rápido...
E assim, começou a sentir a mão grande de Ricardo fazer movimentos suaves pelo seu rosto alvo, tocando com as pontas dos dedos os seus cabelos.
— Nossa, doutor... Por que não me dá logo um tapa para que eu acorde de uma vez?
— Acho que já está acordada o suficiente — concluiu o médico satisfeito. — Pode chamar os familiares e o delegado, Larissinha.
— Delegado?! — Rosa se assustou.
Depois que a porta do quarto foi aberta pela enfermeira Larissinha, o primeiro a entrar foi um senhor. Um senhor alto, de paletó, com cabelos tingidos de castanho que só apareciam nas laterais e na parte de trás da cabeça, indo até o limite do pescoço.
— Olá! — cumprimentou alegre. — Então essa é a senhorita Rosalinda Silva da Paz? Realmente, seu nome faz jus ao que vejo!
— Obrigada...
— Que é isso... Muito prazer, eu sou o delegado Rodrigues. — E apertou com delicadeza a mão da mulher. — Peço já de antemão que a senhorita não se preocupe, porque com tanta beleza, eu farei o possível para que não se meta em encrenca!
— Nada disso! — protestou Dídala, que havia entrado logo depois com o marido. — Se essa rapariga tiver feito merda, quero mais é que se lasque na cadeia!
— Mulher, mas eu não fiz nada! — afirmou Rosa entristecida.
— É o que veremos — disse o delegado. Em seguida, perguntou: — Do que a senhorita se lembra de antes do seu desmaio?
— Corpos, muitos corpos espalhados pelo cabaré — respondeu de imediato.
— E a senhorita faz ideia do que causou esse cenário?
— Não. Não faço, senhor delegado.
— Bom... — manifestou-se a enfermeira Larissinha. — Doses de veneno de rato foram encontradas nos corpos de alguns idosos e da cuidadora. Pergunte a ela, delegado, se serviu alguma bebida às pessoas.
Rosa congelou.
— E então, senhorita? — indagava o sr. Rodrigues com um olhar penetrante. — O que me diz sobre isso?
— Bem... Éérr... — A entrevistada engoliu em seco. — Eu estava trabalhando como bartender no cabaré, então eu dei algumas bebidas aos que estavam lá... Mas garanto que não envenenei nada!
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O Cabaré da Dídala
HumorPor conta da recente demissão do seu marido e da excessiva preguiça da sua irmã, Dídala é levada a aceitar que a sua casa seja transformada no primeiro cabaré da Rua dos Cornos. Mesmo com auxílio do filho inteligente do casal, o estabelecimento enfr...