Antes que Dídala e Fábio fossem para o hospital, a dona da casa ordenou que Rosa tomasse conta do cabaré e Fernando tomasse conta de Rosa. A irmã, de fato, obedeceu a exigência, mas o filho foi para o quarto estudar despreocupado.
Agora, onde era a sala, Rosa via um cenário digno de bar. Seria ali que provaria o sabor do trabalho pela primeira vez.
Às 16h, apareceu em frente ao cabaré uma kombi branca e pequena, mas que surpreendentemente suportava 20 idosos. Estes eram guiados pela cuidadora Gerusa que os conduzia para a entrada do estabelecimento.
Alguns velhinhos eram nervosos e estavam ansiosos demais para entrar no espaço inédito. Assim, eles acabavam entalando na hora de passar pelo portão.
— Dona Zeiva, os seus peitos estão espremendo a cara do seu Adenúbio! — dizia preocupada a cuidadora. — Entrem devagarinho, por favor!
Não era uma dinâmica muito diferente daquela entre uma professora de educação infantil e seus alunos.
Já estando todos dentro do cabaré, a festa acontecia de uma maneira mais animada que o esperado. Muitos dos idosos dançavam forró pela primeira vez em anos, depois de passada a sua juventude. Outros comiam, cheios de vontade, os petiscos que Rosa havia preparado e bebiam em doses controladas pela cuidadora.
— Só pode duas vezes, viu, seu Beirola? — orientou ela, que depois precisou ir para onde estava outro idoso.
— Uma dose de uísque, por favor, madame! — seu Beirola pedia, sentado num dos banquinhos de frente para o balcão.
— Querido — dizia Rosa do outro lado —, o senhor se importa se eu for ali rapidinho lavar essas canecas? É que elas tão com uma poeirinha no fundo.
— Precisa não — dizia ele. — Eu gosto é da seboseira mesmo!
— Ah, mas e se o senhor pegar alguma infecção? — perguntou preocupada. — Na sua idade pode ser bem grave...
— Hmmm... — O idoso pensou um pouco. — Não me importo de morrer se a última coisa que eu vir for a sua belíssima imagem.
— Ah, é mesmo, é? — Rosa, com a facilidade que tinha para se encantar pelos outros, sentiu naquele momento o desejo consumir o seu corpo. — E se a gente fosse ali no quarto rapidinho? — sussurrou no ouvido dele, com a sua voz doce e carregada de sensualidade.
Os olhos caídos do velho se arregalaram.
— Olha... Não sei se Gerusa deixaria...
— Eu invento que vou trocar sua fralda — murmurou. — Ela já tá cuidando de muita gente, deve aceitar minha ajuda.
— Então tá bom! — respondeu animado. — Mas quanto eu preciso lhe pagar?
— Não, não... É tudo por conta do que Gerusa já pagou — Rosa esclarecia muito concentrada. — Olhe, ouça bem: eu vou ali pegar um viagra, daí o senhor toma e, quando fizer efeito, eu falo com ela e a gente vai. Pode ser?
E seu Beirola confirmou com a cabeça, feliz da vida.
Porém, quando a moça saiu, ele teve um súbito pensamento de que aquilo parecia bom demais para ser verdade. Rosa era incrivelmente bela, e o velho parecia mais um cururu. Nem em sua juventude, ele se veria capaz de atrair uma moça como aquela.
Estaria o coitado prestes a cair numa cilada?
Ignorou. Ignorou ao ver retornar aquela obra-prima em forma de mulher, que tinha nas mãos o passe-livre para felicidade.
Tomou o comprimido com tudo num gole ligeiro de uísque.
Após falar com a cuidadora, Rosa o levou para o quarto de Dídala e Fábio, pois enquanto o seu caía aos pedaços, o do casal era praticamente de luxo.
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O Cabaré da Dídala
HumorPor conta da recente demissão do seu marido e da excessiva preguiça da sua irmã, Dídala é levada a aceitar que a sua casa seja transformada no primeiro cabaré da Rua dos Cornos. Mesmo com auxílio do filho inteligente do casal, o estabelecimento enfr...