Parte 2 | Capítulo 18: Marcus

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Cássio se ajeitou na cama, pigarreou e começou a falar: 

Aquela noite me senti humilhado por você, me sentia sujo e estava com muito ódio. Eu tive gana de querer te matar, porque não me sentia merecedor de toda a humilhação que passei.

Entrei em casa, bêbado, deitei-me no sofá da sala de estar e comecei a chorar, chorei alto e poucos minutos depois meus pais foram ao meu encontro. Eu chorava desesperado e não conseguia responder direito a minha mãe que perguntava aflita o que tinha acontecido. Após me acalmar e contar o que tinha acontecido, que você tinha acabado com minha reputação em frente a todos os meus amigos, meu pai ficou enfurecido e disse que se eu não fosse doente, estaria com uma mulher e que isso de maneira alguma aconteceria. 

O comentário do meu pai me despertou um ódio tão grande dele que passei a sentir a necessidade de morar sozinho. 

— Daí você decidiu tomar uma pílula? É isso que vem agora? — eu o interrompi, um pouco impaciente. 

— Calma. Eu vou chegar lá — Cássio me respondeu e deu continuidade. 

Em um sábado de manhã, eu fui acordado pela visita da Chiara. Ela me acordou com um café da manhã na cama, e me disse que se orgulhava de mim, independentemente do que eu fosse, disse que era minha amiga e que me apoiava em tudo que decidisse. Chiara foi ótima e conseguiu levantar meu astral que estava péssimo. Ela me ouviu, desabafei sobre nosso namoro que mantive em sigilo, contei o que foi que levou ao estopim de nossa briga naquele bar. Ela foi ótima, me ouvia, me apoiava e foi uma amiga de verdade. 

Ficamos juntos o dia inteiro. Conversamos, almoçamos, assistimos a uns filmes e dormimos em minha cama abraçados. 

No dia seguinte ela tomou café comigo e meus pais, depois foi embora. Foi gostoso esse tempo todo junto. Senti-me muito bem em ter a companhia de uma pessoa que sabia de mim e me aceitava. 

Mas minha felicidade desapareceu no momento em que fiquei a sós com meu pai. Ele disse que eu precisava arrumar uma mulher como a Chiara. Como se eu tivesse escolha por gostar de homens. 

Eu já estava chegando ao limite da paciência com ele. Não suportaria muito mais tempo naquela casa. Precisava agir e sair de casa não era uma opção. Eu trabalhava para ele e meu salário não bancaria uma vida independente. 

Passei os dias procurando uma solução, pensando em uma maneira de sumir para sempre de casa e que me fizesse nunca mais vê-lo. E a ideia que surgiu, além de ser genial, seria bancada pelo meu pai. Decidi fazê-lo de idiota. 

Eu estava navegando pela internet um dia e vi sobre a pílula GHX-100. Ela tinha sido liberada no estado do Texas, até então o único lugar no mundo. Pesquisei sobre o tratamento e vi que era em clínicas especializadas. Durava um dia inteiro além do acompanhamento psicológico de pouco menos de um mês. 

Imprimi essa pesquisa para o meu pai, mas incluí alguns dados falsos, falando que havia uma fila de alguns meses e que o tratamento durava quatro meses. Ele estava sentado à mesa com minha mãe e joguei os papéis do lado dele. 

Pedi que ele me bancasse por um ano nos Estados Unidos, enquanto eu trabalhava, aprimorava meu inglês e ficava na fila do uso da pílula. Claro que meu pai não aceitou, disse que não pagaria um intercâmbio para mim e que eu esperasse que a pílula chegasse ao Brasil.

Minha mãe ficou assustada, acreditou que eu estava realmente a fim de deixar de ser gay e conversando a sós comigo, foi contra eu tomar a pílula. Porém expliquei a ela que eu estava apenas mentindo, queria me afastar de meus problemas e de meu pai. Ela entendeu meu lado e disse que conversaria com ele. Porém foi em vão. Meu pai não foi convencido.

A Pílula (versão 2.0)Onde histórias criam vida. Descubra agora