Dois Homens e Meio

Prólogo

Era uma tarde agradável, tão agradável que o homem havia decidido almoçar na praça que ficava em frente a clínica onde trabalhava. Ficou trancado a manhã inteira naquele lugar, não iria passar sua preciosa hora de almoço lá também. Gostava de sua profissão, trabalhar com animais sempre foi seu sonho, mas nunca gostou de sentir-se preso.

Sentou-se encostado a uma árvore e desembrulhou o sanduíche que havia acabado de comprar. Se sua mãe sonhasse que se alimentava apenas de lanches durante a semana ele seria um homem morto, mas ele não tinha culpa por ficar cansado ao ponto de chegar em casa e só querer tomar banho e dormir. Quando estava prestes a dar a primeira mordida escutou o toque de seu aparelho celular.

— Alô? — atendeu com voz irritada, ele não estava com vontade de fingir simpatia.

— A-Cheng... — o tom quase sussurrado que saiu o fez ficar em alerta.

— Tia? — soltou incerto.

— Está ocupado? Eu preciso falar com você — girou os olhos, era comum a senhora SanRen ligar apenas para conversar.

Cangse SanRen e seu esposo, Wei ChangZe, eram parte de sua história desde era muito pequeno. Ambos eram amigos de infância de seu pai. Rumores diziam que a mulher havia sido o primeiro amor dele, mas esta apaixonou-se por Wei ChangZe, o que levou a uma ruptura no relacionamento dos três. Jiang FengMian anos depois se casou com Yu ZiYuan. Tudo continuaria da mesma maneira com ambas as famílias separadas, até que o filho do casal ficou muito doente e teve de receber um tratamento médico extremamente caro.

Os boatos sobre o adoecimento do menino chegaram a Madame Yu e esta, para surpresa de todos, se prontificou a custear o tratamento e desde então uma forte amizade entre as mulheres surgiu, passando a ser comum vê-las juntas. Wei ChangZe começou a trabalhar com Jiang FengMian, a amizade deles voltando a se estabelecer. Algumas vezes os rumores sobre o relacionamento de seu pai com Madame Cangse surgia, mas isso não abalava a relação entre as famílias.

Esse episódio trouxe Wei Ying para sua vida, o garoto mais pentelho e também mais leal que ele conheceu. Os dois cresceram competindo entre si. Levando broncas e surras épicas de Madame Yu e sendo incentivados a explorar o mundo por Madame CangSe. E junto deles estava Jiang Yanli, a irmã mais velha de Jiang Cheng com sua personalidade gentil, que sempre mediava a briga entre eles, fazia sopa de raiz de lótus quando ambos estavam mal e cuidava deles quando as mulheres mais velhas estavam ocupadas.

— Estou no horário de almoço, pode falar – por mais que sua vontade fosse de desligar o telefone, jamais faria isso com uma pessoa que considerava como da família.

— Está na clínica?

— Estou na praça em frente a ela. Tia, o que houve? — perguntou preocupado.

— Houve um acidente na cidade T, um helicóptero caiu.

— Na cidade T? Tia você realmente me ligou pra avisar sobre um acidente em outra cidade?

— Jiang Yanli e Jin ZiXuan estavam no helicóptero, A-Cheng. Não houve sobreviventes.

Jiang Cheng ficou em silêncio, nem percebeu que apertava fortemente o aparelho celular. Sentiu as batidas de seu coração ficarem erráticas e um suor frio molhar sua testa. Aquilo não poderia ser verdade, sua irmã e cunhado iriam para um almoço com alguns sócios, já que Jin ZiXuan era o herdeiro da Corporação Lanlin, e estariam em casa a noite.

— Que brincadeira é essa? — murmurou.

— Eu sinto muito — um soluço pôde ser escutado do outro da linha.

Jiang Cheng sentiu os joelhos falharem e alguma parte de si achou ser uma sorte ainda estar encostado na árvore, seu sanduíche caiu no chão e levou mão livre a boca, para abafar o soluço que lhe escapou. Sua irmã... Yanli... Estava morta? Ela tinha um filho! Um filho com pouco mais de seis meses!